terça-feira, 4 de outubro de 2022

Fenômeno climático La Niña impacta as regiões produtoras de grãos da Argentina e do Brasil

Os “céticos das mudanças climáticas” chamarão isso de coincidência, mas o La Niña, que afeta o mundo pelo terceiro ano consecutivo pela primeira vez no século 21, deixa um gosto amargo sobre suas possíveis consequências. Das inundações prejudiciais e mortais no Paquistão à seca nas Américas e fortes chuvas e inundações no Pacífico, elas podem ser atribuídas a esse fenômeno climático, diz um relatório da BRS Dry Bulk.

O La Niña vem pressionando mais os mercados de grãos e oleaginosas, destacando a incerteza que paira sobre o setor. As secas têm sido relatadas nas Américas, desde a parte norte do continente até o sul. O oeste dos EUA e o Canadá foram atingidos por uma seca severa, prejudicando a produção de trigo durante a temporada 2021-22.

No entanto, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) espera que os rendimentos do trigo estejam em melhores condições este ano, embora sujeitos a alterações. Enquanto isso, a seca no Centro-Oeste do país desafiou seriamente as atividades de plantio de milho para a safra 2022-23, levando a uma revisão para baixo das estimativas.

Embora o La Niña seja normalmente um fenômeno que gera furacões no Pacífico, ele tem impulsionado um nível anormal de furacões no Atlântico. Assim, este tipo de tempestades induzidas pelo fenômeno La Niña se tornaram mais fortes, com 30 registradas em 2020, um recorde, e outras 21 em 2021. Nesta região, Brasil e Argentina são severamente afetados pela seca em suas áreas produtoras.

Assim como seu principal concorrente: os EUA, o Brasil viu seu desempenho comprometido nas lavouras de milho e soja durante os anos de La Niña. Para colocar isso em mais perspectiva, a produção brasileira de milho caiu drasticamente durante a temporada 2021-22, já que cerca de 21% de sua produção total foi prejudicada pela seca durante esse período. A mesma tendência foi observada no mercado de soja, já que o La Niña atingiu a safra de oleaginosas nos últimos dois anos.

O Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil espera que a seca continue pelo resto do ano, com previsão de chuvas abaixo da média na maior parte da região sul do país durante o período de outubro a novembro. Apesar das más perspectivas climáticas, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera que a produção de soja do país atinja um recorde na safra 2022-23.

A Conab prevê a produção de soja em 150,3 milhões de toneladas na safra 2022-23, um aumento de 21% em relação ao ano anterior; enquanto a produção mundial de grãos e oleaginosas deverá atingir 308 milhões de toneladas no mesmo período, contra as primeiras estimativas deste ano de 272 milhões de toneladas. Na Argentina, a seca acabou drenando o rio Paraná, importante rota de navegação do país. A falta de água no rio causou problemas logísticos, pois os navios não conseguiam navegar totalmente carregados na hidrovia. Isso levou a encontrar uma solução alternativa e cara para entregar cereais aos portos de exportação.

Já em relação à região do Pacífico, a Austrália se destaca como o único "beneficiário" do fenômeno.  Segundo o Australian Agricultural and Resource Science and Economics Review Office, o fenômeno permitirá ao país aumentar sua produção de trigo de 2022 para 2023 de 30,3 milhões para 32,2 milhões de toneladas.

Embora tenha havido condições climáticas desfavoráveis ​​no mundo para a oferta de cereais, outros fatores pressionaram um pouco mais o setor, como a guerra Rússia-Ucrânia, conflito que deverá ter impacto prolongado no mercado de grãos, pelos próximos anos. De fato, o aumento do preço dos fertilizantes e sua escassez, aliado aos altos preços da energia, manterão a incerteza que paira sobre o mercado de grãos e a segurança alimentar do planeta.

 

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