O governo dos Estados Unidos anunciou a implementação de uma série de
"tarifas recíprocas" de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos
importados do resto do mundo, como parte de uma estratégia comercial liderada
pelo presidente Donald Trump para reduzir o déficit comercial dos EUA. medida terá implicações econômicas diretas
para a América Latina, onde os possíveis efeitos e reações já estão sendo
analisados.
A aplicação será mais severa em economias que, segundo Washington, têm
desequilíbrios comerciais significativos, como a China, que enfrentará uma
tarifa de 34%, enquanto na América Latina, Guiana, Nicarágua e Venezuela serão
atingidas com tarifas de 38%, 19% e 15%, respectivamente. Em contraste, países
como o México não foram incluídos até agora, devido aos termos do Acordo de
Livre Comércio Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
No entanto, de acordo com a Bloomberg Online, especialistas alertam que o
país continua sob escrutínio no radar comercial dos EUA. Segundo dados da
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em 2023, as
exportações de bens da América Latina e do Caribe para os Estados Unidos
atingiram US$ 611 bilhões, enquanto as importações dos Estados Unidos
totalizaram US$ 486 bilhões.
Analistas preveem que as novas tarifas podem desacelerar o comércio
regional, gerar pressões inflacionárias — principalmente devido ao aumento dos
preços das commodities — e reduzir o crescimento econômico, especialmente nos
países mais vulneráveis. Na América Central, países como Honduras, El Salvador,
República Dominicana e Panamá estão entre os mais vulneráveis devido à sua
forte dependência do mercado dos EUA, migração, remessas e tráfego comercial,
de acordo com a BBC Mundo.
A Costa Rica, por sua vez, reconheceu que, embora a tarifa de 10%
represente um fardo, ela é uma das mais baixas aplicadas no mundo. "Eles
não estão nos punindo nesse sentido", disse o presidente Rodrigo Chaves.
Na América do Sul, o Brasil manifestou seu repúdio às medidas. O presidente
Lula da Silva garantiu que o país responderá usando as ferramentas disponíveis
no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Brasil exporta produtos importantes para os EUA, como petróleo, soja,
minério de ferro e milho, muitos dos quais agora enfrentarão novos custos. O
Chile, que tem um acordo de livre comércio com os Estados Unidos desde 2003,
também foi incluído no pacote tarifário. O imposto de 10% afetará produtos como
salmão, uvas e vinho. Autoridades chilenas indicaram que estão analisando o
alcance da decisão, enquanto economistas locais alertam que o impacto será
negativo tanto para a demanda externa quanto para o crescimento econômico
interno.
No Peru, os setores têxtil, agroindustrial e de mineração podem ser os mais
afetados. O governo anunciou que pedirá ao governo dos EUA que reconsidere as
tarifas. Apesar do impacto esperado em certos setores, alguns especialistas
estimam que o país poderá permanecer competitivo em comparação a países com
impostos mais altos. Equador e Colômbia também estudam os próximos passos.
No caso colombiano, a Câmara de Comércio Colombiano-Americana (AmCham)
propôs estabelecer um canal direto com o Escritório do Representante Comercial
dos EUA (USTR) para buscar uma possível exclusão de determinados produtos.
Perspectivas Medidas unilaterais dos EUA podem ter consequências mais amplas se
outros países decidirem retaliar. Isso aumentaria a incerteza nos mercados
internacionais e afetaria o investimento estrangeiro direto, de acordo com
vários analistas.
Para a América Latina, a situação abre portas para uma possível
reconfiguração das estratégias de exportação. Café colombiano, mirtilos
peruanos, vinho argentino e camarão equatoriano são alguns dos produtos que,
apesar das tarifas, podem continuar atrativos pela sua relação custo-benefício
se conseguirem se diferenciar de concorrentes com cargas tributárias mais
altas.
À medida que os detalhes da implementação das tarifas se tornam mais
claros, a América Latina está avaliando suas opções. Enquanto alguns países
estão optando pelo diálogo diplomático, outros estão considerando ativar
mecanismos legais ou retaliação comercial. A região, em qualquer caso, enfrenta
um ambiente global mais incerto, no qual a diversificação das exportações e o
fortalecimento de alianças multilaterais serão fundamentais para reduzir
vulnerabilidades e sustentar o crescimento.