A construção de um quebra-mar com cerca de três quilômetros de
extensão, nas proximidades do canal de navegação do Porto de Santos, é a
solução para o problema da erosão nas praias santistas. A proposta é de
uma formanda do curso de Engenharia Civil da Universidade Católica de
Santos (UniSantos), que também aponta a utilização da estrutura, a ser
instalada na região da Ponta da Praia, como cais acostável e também
ponto turístico.
Sueli Moreno Ferreira concluiu o curso de Engenharia Civil na última
semana. A pesquisa deu origem a seu Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), que foi orientado pelo professor José Renato Spina Martins.
De acordo com a graduanda, o tema do estudo foi definido no ano
passado, quando se agravou o problema da erosão nas praias de Santos.
Inicialmente, o fenômeno era verificado apenas na Ponta da Praia, mas
também atingiu a Praia da Aparecida.
“Primeiro, começamos a pesquisar o motivo do problema. E vimos que há
a questão da dragagem. Só que, para dar uma solução, o professor já
tinha sugerido o quebra-mar. Pesquisamos para ver se realmente era a
forma mais adequada”, explicou Sueli.
Segundo ela, durante as pesquisas, foram feitos estudos de caso sobre
locais onde a construção de um quebra-mar resolveu problemas
semelhantes aos enfrentados na Cidade. Além disso, para comprovar a
viabilidade técnica do projeto, foram realizadas simulações estáticas,
utilizando a areia coletada na praia de Santos.
O processo foi feito em duas etapas – a primeira sem o quebra-mar e a
segunda com a estrutura. Em ambas, não foram levadas em consideração a
ação de ondas e das correntes marítimas. Sueli utilizou um recipiente de plástico com 53 centímetros de
comprimento, 36 centímetros de largura e 17 centímetros de altura.
“Pegamos a areia da praia, fizemos uma moldagem e deixamos o fundo com 9
centímetros de altura e completamos com 15 centímetros de água. Fizemos
em etapas. Primeiro, cavamos e chegamos a um fundo de sete centímetros e
notávamos o quanto rebaixava de areia, conforme íamos medindo. Fizemos
com 5 centímetros também e ficou provado que a areia ia deslizando e a
praia diminuindo”.
Na segunda simulação, com a estrutura de quebra-mar, Sueli fez o
mesmo procedimento. Colocou 9 centímetros de areia no fundo e os 15 de
água. Mesmo com as escavações, não houve redução de areia.
Conclusão
“A gente provou a estática. Agora, a gente pretende entrar na
dinâmica, comprovar que o problema se acelera com a dinâmica das
correntes. Depois, vamos projetar o cais e o custo benefício que ele
traria para a cidade”, destacou o professor Spina.
O orientador explicou que com a construção de um quebra-mar de três
quilômetros em concreto armado na Ponta da Praia, é possível reduzir o
processo de erosão na Ponta da Praia e também dotar a região de mais
cinco pontos de atracação de navios. A estrutura ainda pode receber
marinas para barcos de pequeno porte e se tornar um equipamento
turístico.
“Nos dias de ressaca, essa situação de canal fechado iria proteger
contra a erosão que a gente vê tanto no Canal 6, quanto no Canal 5.
Também protegeria das ondas maiores e mais fortes durante as ressacas.
Teria uma dupla função”, explicou o professor.
Spina estima que seriam necessários entre três e quatro anos para a
construção da estrutura capaz de conter a erosão. Mas os custos ainda
não foram mensurados. “Nos próximos estudos, a gente vai detalhar esse
tipo de cais e orçar para ter um estudo completo”, explicou o professor.
A estudante Sueli Ferreira, da Universidade Católica de Santos
(UniSantos), apontou a dragagem de aprofundamento do Porto de Santos
como um fator relacionado à erosão na Ponta da Praia. Ela e o professor
José Renato Spina Martins, que foi o orientador da pesquisa, chegaram a
essa conclusão após simulações estáticas.
De acordo com o professor, os fenômenos dinâmicos aceleram o processo
de erosão. “O ângulo de atrito da areia daqui gira em torno de 30
graus. O que a gente comprovou foi que, a partir do momento que você
abaixa um calado para 15 metros e há esse ângulo de 30 graus, o material
desliza da praia, principalmente por conta da proximidade do canal”.
Para o professor titular em Obras Hidráulicas Fluviais e Marítimas da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Paolo Alfredini,
as obras de dragagem do Porto de Santos são responsáveis por cerca de
4% das causas de ressacas na Cidade. Segundo o pesquisador, a
intervenção urbana, iniciada na década de 1940, com a construção da
Avenida Saldanha da Gama, e as mudanças da natureza, com o aumento do
nível do mar, são os principais fatores que causam a erosão nas praias e
a ressaca.
Segundo Spina, o estudo realizado teve como base as plantas das
correntes marítimas no Estuário de Santos e considerou as condições
hidrodinâmicas. “Se você criar uma calota protegendo do impacto da onda,
você conforma o canal. Existe uma conformação natural a fim de manter
uma dragagem em forma de arco na Ponta da Praia. O ideal para não
alterar a velocidade e a predominância das correntes de entrada e saída
do cais e as ondas, devido ao levantamento e ao rebaixamento da maré, é
fazer uma estrutura semicircular. Ela vai fazer o encaminhamento da
corrente marítima para dentro do cais, impedindo que essa corrente afete
a praia”, explicou.
O professor da UniSantos pretende continuar a pesquisa. “De repente,
aprofundando os estudos, a gente contribui para a sociedade santista e
para resolver esse problema antes que a Ponta da Praia desapareça”,
afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário