O projeto de engenharia do tramo norte do Ferroanel de São Paulo será
concluído em julho do próximo ano. Essa é a promessa dos governos
Estadual e Federal que, juntos, viabilizam os estudos para que o anel
ferroviário paulista seja implantado. A construção do empreendimento,
entretanto, ainda não tem prazo para ser iniciada.
O tramo norte será um ramal ferroviário de 52,75 quilômetros, em via
dupla, destinado ao transporte de cargas. Ele ligará as estações
Engenheiro Manoel Feio (Itaquaquecetuba) e Perus (São Paulo), encerrando
a necessidade de as composições com mercadorias utilizarem as linhas
que atravessam a Capital e já são aproveitadas pelos trens de
passageiros.
A elaboração do projeto está sob responsabilidade da Desenvolvimento
Rodoviário S.A (Dersa), pelo Estado, e da Empresa de Planejamento e
Logística (EPL), pela União, a partir de um acordo de cooperação firmado
em maio de 2015. A EPL está encarregada de repassar R$ 8.058.734,5 à
Dersa, que custeará internamente mais R$ 1 milhão.
O estudo tem como objetivo estimar os custos de implantação do
empreendimento – que já chegou a ser avaliado em mais de R$ 4 bilhões.
Será definido quanto será necessário investir para construir as linhas
férreas que, a princípio, deverão ser instaladas em paralelo ao Trecho
Norte do Rodoanel (anel viário) de São Paulo, previsto para ser
entregue, por completo, até 2018 pelo Estado.
Hoje, ao longo das obras desse último trecho do anel viário, 16
quilômetros já passam por serviços de terraplanagem para facilitar a
implantação dos trilhos nos próximos anos. Segundo o presidente da
Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, ao antecipar esse trabalho, o custo
da implantação da ferrovia reduzirá em, pelo menos, R$ 1,3 bilhão.
O acordo entre Estado e União prevê, além do projeto de engenharia –
cuja empresa contratada para realizá-lo deverá ser homologada nos
próximos dias –, a realização do estudo de impacto ambiental. De acordo
com a Dersa, a estimativa é que a Licença Prévia Ambiental do Tramo
Norte esteja pronta até setembro de 2017.
Já está decidido que caberá à Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental (Cetesb), órgão da Secretaria do Meio Ambiental do Estado,
analisar os estudos de impacto ambiental (EIA/Rima). A estatal também
ficará responsável por apresentar a definição das características
técnicas funcionais da nova ferrovia.
Encerrada a fase inicial de estudos para implantação do Tramo Norte,
caberá ao Governo Federal destinar recursos para construí-lo e, também,
definir a forma de exploração da linha férrea. Por meio do Ministério
dos Transportes, Portos e Aviação Civil, a União definiu o projeto como
“relevante à logística do transporte de cargas” de São Paulo.
A pasta não adiantou se haverá condições, nos próximos anos, de
efetivar o empreendimento. Limitou-se a dizer que os estudos em
desenvolvimento vão apresentar elementos apropriados à tomada de decisão
de investimento, que poderá ser direto (pelo Governo) ou pela
iniciativa privada (por concessão).
A implantação do Ferroanel, além de segregar a utilização dos trilhos
para o transporte de cargas e o de pessoas, beneficiará o escoamento da
produção nacional ao Porto de Santos. Atualmente, as composições
cargueiras passam apenas durante a madrugada e em alguns períodos da
tarde pelas linhas da Capital (e que chegam ao complexo marítimo),
quando o fluxo de passageiros é reduzido.
O Estado estima que, com o aumento da capacidade por meio da nova
ligação ferroviária entre Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba e Baixada
Santista, ocorrerá uma migração natural de cargas entre modais. A
projeção é que, nos próximos 20 anos, passem 40 milhões de toneladas
pelo Tramo Norte, o equivalente a 4.200 caminhões por dia nas estradas.
O tempo de trânsito das composições de carga entre o Vale do Paraíba e
o Porto de Santos reduziu em 75% nos últimos dois anos, após a
construção da Segregação Leste da Região Metropolitana de São Paulo. A
obra foi realizada pela concessionária MRS Logística e serviu de fôlego
para o setor enquanto o Ferroanel não é implantado.
O trecho é localizado em Suzano (Grande SP) e tem 12 quilômetros de
extensão. Ele foi duplicado para eliminar a necessidade compartilhamento
da via com trens de passageiros operados pela Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), possibilitando maior agilidade e segurança.
O investimento da empresa foi de R$ 180 milhões.
De acordo com o gerente geral de Negócios para Carga Geral da MRS,
Guilherme Alvisi, a Segregação Leste possibilitou que as composições de
carga não tivessem mais a necessidade de aguardar 12 horas pela passagem
dos trens de passageiros – que têm prioridade de utilização da malha
ferroviária. Atualmente, o percurso do Vale até o cais santista é feito
em até 38 horas.
“Nos últimos dois anos, nosso crescimento (no transporte de
contêineres) foi da ordem de 30% neste segmento”, disse o gerente-geral.
O resultado está associado diretamente à segregação dos trilhos, que
possibilitou oferecer maior confiança do sistema para o mercado e
estabelecer, pelo menos, quatro rotas semanais com hora marca ligando as
duas regiões.
Além de contêineres, passam pelo ramal cargas de minério de ferro,
aço e material siderúrgico (fundentes). Trata-se de uma rota estratégica
para a MRS, pois é base para a alavancar o fluxo de mercadorias do Vale
do Paraíba. “Viabiliza nossos planos de desenvolvimento das rotas de
trens de contêineres Rio-SP e BH (Belo Horizonte)-SP”, diz Alvisi.
A ferrovia duplicada interliga as estações de Engenheiro Manoel Feio e
Suzano. Mais que atender às atuais necessidades da empresa
concessionária, a Segregação Leste poderá ser interligada aos trilhos
Ferroanel Norte, por ter um traçado complementar ao que hoje é projetado
para o primeiro tramo do anel ferroviário de São Paulo.
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