As obras de dragagem do Porto de Santos são responsáveis por menos de
4% das causas de ressacas na Cidade. A conclusão é do professor titular
em Obras Hidráulicas Fluviais e Marítimas da Escola Politécnica, da
Universidade de São Paulo (USP), Paolo Alfredini.
Segundo o especialista, a construção de dois molhes guias correntes é
fundamental para conter a erosão na Ponta da Praia e reduzir o
assoreamento no trecho 1 do canal de navegação, que vai da entrada da
Barra de Santos até o Entreposto de Pesca.
“Criando esse anteparo, que nós chamamos de molhes, esse maciço de
pedras que avança mar adentro, ele vai barrar e interromper o trânsito
de areias que hoje caem no canal de acesso e causam tantos problemas no
Porto”, explicou Alfredini.
Na avaliação do professor, a principal causa das ressacas, que estão cada vez
mais frequentes e fortes, é a intervenção urbana, iniciada na década de
1940, com a construção da Avenida Saldanha da Gama. Além disso, as
mudanças da natureza e o aumento do nível do mar também são fatores que
causam o problema, acrescentou.
A dragagem, segundo o professor, corresponde a uma parcela que varia
de 3% a 4% das causas da ressaca. “É um valor desprezível perante a
ocupação urbana que se deu ao longo de mais de um século na orla de
Santos, ocupando as suas praias da forma como foram ocupadas e reduzindo
a quantidade de areia disponível para manter a largura das praias”.
A partir deste cenário, o pesquisador da USP disse que é preciso
pensar em estruturas que permitam alargar a faixa de areia na Ponta da
Praia. E, neste contexto, a construção de molhes guias correntes é
alternativa que se mostra mais viável, já que resultaria em uma grande
sinergia, sendo útil para o Porto e para a preservação das praias.
O especialista destacou o assoreamento constante no trecho 1 do canal
de navegação. Segundo dados da USP, quando ocorre ressaca, entram 100
mil metros cúbicos de sedimentos no canal da Barra.
Alfredini explica que serão necessárias duas intervenções. A
primeira, na Ponta da Praia, entre os canais 5 e 6. Já a segunda,
próxima à Ponta dos Limões, em Guarujá. A localização exata ainda será
estudada pela universidade.
“Esses molhes, principalmente o do lado da Ponta da Praia, reteria as
areias que hoje caem no canal de acesso e têm que ser dragadas. Eu
reduziria o volume de dragagem e acumularia areia nas praias.
Possivelmente, teríamos que fazer alguma obra complementar para alargar
essa faixa de praia”.
Estudos
A USP foi contratada pela Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp) para a execução de estudos sobre os impactos da dragagem do
Porto. Para isso, a universidade pretende inaugurar, no dia 18, uma
bacia de ondas instalada no laboratório de hidráulica. O equipamento vai
permitir estudos mais aprofundados sobre o assunto.
“Já temos modelo matemático que simula ondas, marés, correntes e
transporte de sedimentos. Nesse modelo, vamos estudar quais os
alinhamentos dos molhes, a posição mais adequada e depois poderemos
estudar nessa maquete”, finalizou o professor.
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