Empresários da Confederação Nacional da Indústria (CNI) brasileira e
da União Industrial Argentina (UIA) reunidos em Buenos Aires decidiram
criar o Conselho Empresarial Brasil-Argentina (Cembrar), cujo objetivo
será identificar oportunidades de negócios e políticas comuns que os
governos possam adotar, para fomentar a cooperação, tanto no setor
público, quanto no privado.
O encontro ocorre em um momento em que o Mercado Comum do Sul (Mercosul) está praticamente paralisado, devido a uma crise institucional. O Uruguai ocupou a presidência pro-tempore do bloco regional (que é rotativa) até o final de junho e deveria passá-la a Venezuela,
próxima na lista de critério alfabético.
No entanto, os outros três
países fundadores (Brasil, Argentina e Paraguai) se opuseram. O
argumento jurídico é de que os venezuelanos (últimos a aderirem ao
Mercosul) não tinham ainda incorporado até o prazo estipulado (meados de
agosto) todas as normas necessárias para serem considerados membros
plenos.
Existe também uma motivação política: o presidente
Nicolas Maduro tem sido acusado de adotar medidas pouco democráticas,
como prender líderes oposicionistas e dificultar a convocação de um
referendo revogatório (mecanismo constitucional, capaz de encurtar seu
mandato).
Principais
sócios no Mercosul, Brasil e Argentina também atravessam momentos
econômicos difíceis no cenário interno. No caso dos argentinos, que
dependem das exportações ao mercado brasileiro, o presidente Mauricio
Macri enfrenta o desafio de reduzir a inflação anual de quase 40% e o
déficit fiscal, herdados de sua antecessora Cristina Kirchner, cujo
segundo mandato consecutivo terminou em dezembro.
A
missão empresarial brasileira, liderada pelo presidente da CNI, Robson
Braga de Andrade, termina hoje (9). Participaram dela representantes de
vinte grandes empresas, que se encontraram também com autoridades do
governo argentino – entre eles o chefe de gabinete da presidência,
Marcos Pena, e o ministro da Produção, Francisco Cabrera. O objetivo da
visita, segundo Braga, é atrair investimentos para “expandir a
capacidade produtiva, aumentar o comércio bilateral, estimular
atividades inovadoras e também criar empregos”.
Entre 2008 e
2011, o Brasil foi o maior investidor estrangeiro na Argentina. Nesse
período, o fluxo médio anual foi de US$ 1 bilhão. A partir de 2012, no
entanto, caiu 70%, para uma média anual de US$ 300 milhões. O Brasil
hoje é o quarto maior investidor na Argentina, depois dos Estados
Unidos, Espanha e Holanda, com US$ 6 bilhões em estoques de investimento
no país vizinho.
Mas para retomar o crescimento, os empresários
defendem a adoção de algumas medidas. Entre elas, um acordo melhor para
evitar a dupla tributação. Os brasileiros querem reduzir a alíquota de
dividendos paga por empresas brasileiras na Argentina em 10% (já que no
Brasil essa alíquota não é cobrada). As indústrias dos dois países
também querem liberalizar as compras públicas no Mercosul e criar um
fundo público-privado para financiar projetos.
Desde 2006 até o
ano passado, a participação do Brasil nas importações argentinas caiu de
34,4% para 22,2%, enquanto a China aumentou sua participação de 9% para
15%. Em 2015, o Brasil exportou US$ 12,8 bilhões para a Argentina – o
pior resultado da última década. Esse valor é 10% menor do que em 2014 e
44% menor do que em 2011. Os empresários acreditam, no entanto, que
através de ações conjuntas, adotadas pelos governos e o setor privado a
situação pode melhorar.
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