A safra de grãos 2016/17 se aproxima e o sobe e desce de barcaças já
está mais intenso ao longo do rio Tapajós. Após quase três anos de
preparação, entre emissões de licenças e obras, a Hidrovias do Brasil e a
joint venture entre ADM e Glencore iniciam suas operações portuárias em
Barcarena, no Pará, aquecendo os motores para as milhões de toneladas
de soja que começarão a ser escoadas do Centro-Oeste a partir de
fevereiro. A chegada dos terminais privados à região consolida a nova - e
mais aguardada - rota logística para o transporte de grãos no país.
ADM/Glencore e Hidrovias se somarão às operações da Bunge, que já em
2014 começou a movimentação comercial pelo corredor fluvial
Miritituba-Barcarena - e que em julho vendeu 50% de sua operação no
Tapajós para a Amaggi, por US$ 145 milhões. Se tudo der certo, serão
quase 10 milhões de toneladas escoadas pelo rio já na próxima safra. A
partir de 2020, espera-se uma capacidade operacional de cerca de 40
milhões de toneladas de grãos ao ano, à medida em que concessões
avançarem e aportes privados bilionários forem finalizados - o rio
estará ainda mais preenchido por barcaças com a chegada em breve da
Cargill (no trecho Miritituba-Santarém), Cianport (Miritituba-Amapá) e
players menores em fase inicial de projeto.
Principal via de acesso do chamado Arco Norte, o rio Tapajós
tornou-se a maior aposta das tradings e prestadores de serviços do
agronegócio como alternativa de escoamento da safra brasileira de grãos:
o caminho até o porto é mais curto, o frete mais barato, e não se
espera grandes congestionamentos para o embarque, como ocorre nos portos
do Sudeste e Sul. "Estamos bastante otimistas", disse ao Valor Bruno Serapião, CEO da
Hidrovias do Brasil, controlada pelo P2 (do Pátria e Promon). Após um
período de comissionamento de fevereiro a julho, a empresa estreou o
transporte comercial de grãos por Barcarena no mês passado. "Vamos
fechar 2016 já com 1 milhão de toneladas movimentadas", estimou o
executivo.
O resultado é considerado positivo, apesar de os embarques terem
começado justamente em um ano de quebra na safra do milho no Brasil, o
que levou a cancelamentos de contratos de exportação para o
abastecimento do mercado interno. Segundo Serapião, a empresa perdeu 300
mil toneladas por "questões mercadológicas", mas está cumprindo os
pedidos. A Hidrovias tem contratos de 10 anos fechados com Multigrain, Cofco e
Nidera (adquirida integralmente em agosto pela Cofco). Para 2017, a
projeção é chegar a três milhões de toneladas e alcançar a capacidade
operacional de 6,5 milhões de toneladas de grãos por ano em 2020.
"Com parcerias de longo prazo, a Hidrovias terá garantia de geração
de caixa de US$ 140 milhões ao ano quando o projeto atingir capacidade
operacional", disse ele. Criada em 2010, a companhia tornou-se operacional em 2013 com a
navegação pela hidrovia Tietê-Paraná e atuações no Paraguai, Argentina e
Uruguai. Em 2015, faturou de R$ 196 milhões. Para este ano, com a
estreia no Norte, a expectativa é chegar a algo entre R$ 400 milhões a
R$ 500 milhões.
A Hidrovias investiu quase R$ 1,5 bilhão para a
construção da estação de transbordo em Miritituba, do terminal em
Barcarena e a aquisição da frota fluvial. Do total, 70% foi captado com
instituições financeiras públicas e privadas. Para a segunda fase do projeto no Norte, pretende construir um
segundo transbordo em Miritituba e ampliar a capacidade para 8,5 milhões
de toneladas por ano. O terreno de 130 hectares já foi adquirido, ao
lado do atual terminal. As obras estão previstas para 2018.
Já o consórcio ADM/Glencore entrou em fase pré-operacional no
Terminal de Ponta da Montanha no segundo semestre de 2014, com estrutura
de carregamento temporária e obras em andamento. Até junho, operou com
"grabs", uma "concha" conectada a um guindaste no píer que pega o grão
da barcaça e joga no porão do navio. Em julho, inaugurou o equipamento
definitivo, dando eficiência ao embarque chegará próximo a três milhões
de toneladas na nova safra.
Adquirido em 2012, o terminal recebeu aportes de quase US$ 200
milhões. Até dezembro - antes de a soja começar a jorrar no porto -, o
píer de atracação para navios Panamax estará pronto, assim como o novo
armazém de grãos com capacidade de 120 mil toneladas. O consórcio fechou uma parceria com a Transportes Bertolini - segunda
maior empresa de navegação fluvial depois da Amaggi - para o escoamento
da carga de Miritituba (onde a Bertolini tem um terminal flutuante) até
Barcarena. A intenção, porém, é trafegar com frota própria de barcaças
para atender necessidades futuras. Pioneira no Tapajós, a Bunge investiu R$ 700 milhões no Terminal
Portuário Fronteira Norte (Terfron), o maior em seis anos em agronegócio
e logística no país. Procurada, disse não ter dados atualizados - os
números oficiais ainda são os de 2014/15, quando escoou 4 milhões de
toneladas.
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