Os próximos editais para a concessão de projetos de infraestrutura à
iniciativa privada que serão lançados pelo governo não deverão ser
elaborados exclusivamente pelas agências reguladoras. A ideia do governo
é que os ministérios de cada área, de acordo com o projeto que será
concedido, sejam os responsáveis tanto pela elaboração dos editais como
pela assinatura dos contratos com os vencedores do leilão.
Deverá haver um período de transição para a mudança, ou seja, nos
próximos leilões as agências ainda vão ajudar na elaboração dos editais.
Segundo a assessoria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI),
mesmo depois de passar a atribuição para os ministérios, as agências
reguladoras deverão continuar com o papel técnico de subsidiar a
elaboração dos editais.
As mudanças no papel das agências reguladoras foram anunciadas na
última terça-feira (13), durante o lançamento do Projeto Crescer, que
elegeu um grupo de 34 projetos para serem concedidos à iniciativa
privada e determinou outras mudanças nas regras das próximas concessões.
Uma das dez diretrizes do Projeto Crescer é o fortalecimento da atuação
das agências reguladoras, sobretudo quanto à regulação, ao
monitoramento, à fiscalização e ao acompanhamento dos contratos.
O secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos,
Moreira Franco, diz que o objetivo é devolver às agências reguladoras
seu sentido efetivo de órgão de estado. “As agências não são órgãos de
governo. A função das agências não é proteger o governo, a função das
agências é cumprir os termos de um contrato firmado com o
concessionário, fazer com que as metas sejam efetivamente cumpridas
pelos concessionários. Ao mesmo tempo, elas têm a função de regulação de
suas áreas”, disse o secretário executivo no lançamento do programa.
As agências reguladoras de cada setor são responsáveis pela
elaboração do edital, pela realização do leilão e pela assinatura do
contrato com os vencedores. Por exemplo, os leilões para a concessão de
linhas de transmissão ou para a construção de usinas hidrelétricas são
conduzidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os leilões
para a concessão de rodovias à iniciativa privada são feitos pela
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Para o professor de administração pública da Universidade de Brasília
(UnB) José Matias-Pereira, além de passar para os ministérios funções
que hoje são feitas pelas agências reguladoras, é preciso rever o
funcionamento das agências. “O fundamental nesse processo é que tem que
escolher pessoas que tenham competência para desenvolver as atividades
nas agências reguladoras e que essas pessoas não estejam sob o jugo
político, de grupos econômicos e de interesses menores. E isso implica
em dizer que o governo vai ter que dar autonomia de verdade para esses
dirigentes dessas agências”.
Na avaliação do professor, as agências reguladoras foram sendo
descaracterizadas nos últimos anos de forma preocupante. “O papel das
agências reguladoras é fazer a defesa dos interesses difusos da
sociedade. Na medida em que as agências foram sendo aparelhadas
politicamente, elas chegaram em um ponto em que os interesses se
confundiram, ou seja, colocaram a raposa para tomar conta do
galinheiro”.
Na avaliação do presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e
Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra Sindical), Rodolpho Salomão,
as mudanças anunciadas para as agências reguladoras são esperadas há
muito tempo. “Havia uma certa confusão em relação ao papel das agências
reguladoras. O que a gente começa a ver é o governo querendo organizar
isso, que nasceu desorganizado na década de 1990. Ou seja, a agência
reguladora acabava tendo uma atribuição além do seu papel natural de
regular e fiscalizar”, diz Salomão.
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