Entidades dos setores industrial e de infraestrutura consideram que o
Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), lançado ontem (13) pelo
governo federal, poderá trazer mais investimentos para o país, mas
ressaltam é preciso adotar outras medidas, como o ajuste macroeconômico,
a redução dos juros e a estabilidade cambial.
Pelo calendário divulgado pelo governo,
estão previstas a concessão ou venda à iniciativa privada de projetos
nos setores de transportes, energia e saneamento até 2018. Na
avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
(Cbic), José Carlos Martins, o PPI é um primeiro passo, proque ainda é
preciso fazer um ajuste macroeconômico no país para atrair os
investidores estrangeiros. "Agora começa uma caminhada, e vamos ter que
ir resolvendo coisa por coisa. Esse lado tem que andar passo a passo com
o ajuste macroeconômico, senão os investidores não têm apetite para
fazer os investimentos necessários”, afirmou Martins.
Entre as
mudanças anunciadas pelo governo para as próximas concessões estão um
prazo maior entre o lançamento do edital e o recebimento das propostas,
com o objetivo de atrair maior número de investidores. Para Martins,
essa mudança é extremamente saudável. “Não adianta sair correndo,
fazendo coisas atropeladas, e elas saírem mal feitas.”
A
Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib)
considera que as mudanças propostas pelo governo para as próximas
concessões poderão garantir a reconstrução de um ambiente para
investimentos com mais previsibilidade, menores riscos e projetos mais
atrativos.
A Abdib ressalta que as medidas de incentivo ao
aumento da participação do setor privado na oferta de financiamento de
longo prazo para os projetos de infraestrutura deverão contar com o
apoio da redução dos juros com mais rapidez, além da estabilidade
cambial. “Caso contrário, o aporte de recursos em debêntures e o
ingresso de investimentos externos para projetos novos serão exceções em
vez de regra”, diz a entidade.
Para o presidente da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, o sucesso das
privatizações feitas anteriormente, como o caso da Vale e o setor de
telecomunicações, pode ser replicado no setor de infraestrutura brasileira com mais parcerias
com a iniciativa privada. “Há necessidade de que o governo tenha
parceiros em setores como aeroportos, portos, petróleo, gás e energia, e
em outras áreas em que o capital privado possa contribuir com o setor
público para aumentar os investimentos.”, disse Andrade, após
reunião com o presidente Michel Temer.
Uma
das diretrizes do projeto Crescer é o fortalecimento das agências
reguladoras, reforçando sua autonomia. Para o presidente do Sindicato
Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra
Sindical), Rodolpho Salomão, esta é uma mudança desejada há muito tempo.
“Havia uma certa confusão em relação ao papel das agências reguladoras.
O que a gente começa a ver é o governo querendo organizar isso, que
nasceu desorganizado na década de 1990. Ou seja, a agência reguladora
acabava tendo uma atribuição além do seu papel natural de regular e
fiscalizar.”
Salomão também destaca que, nos próximos projetos
de concessão, está previsto que só sejam levados a leilão projetos com
viabilidade ambiental comprovada. Para Salomão, é preciso analisar com
cuidado as mudanças propostas. “Se, por um lado, a agilidade no
licenciamento ambiental é uma necessidade, por outro, fica-se com receio
do que pode vir em termos de simplificação dos procedimentos. Também
não queremos que os empreendimentos estejam imunes à legislação
ambiental e aos requisitos ambientais necessários à mitigação do impacto
deles no meio ambiente.”
Já o presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, considera o projeto apresentado
pelo governo um “crime contra o povo”. Segundo Freitas, o anúncio do PPI
é mais um passo do governo em sua proposta de diminuição da presença do
Estado na economia. “Ou seja, menos investimentos que garantam uma vida
digna para a maioria dos brasileiros que mais necessitam de água,
esgoto, educação e saúde pública e de qualidade. ”O sindicalista critica ainda o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) disponibilizar recursos para as concessões. “O Estado brasileiro ainda vai pagar pelo desmonte”, afirma Vagner Freitas.
Apesar
de o PPI incluir apenas dois trechos rodoviários para concessão à
iniciativa privada, a Associação Brasileira de Concessionárias de
Rodovias (ABCR) considerou o programa adequado à atual situação
macroeconômica do país. Para o diretor técnico da ABCR, Flávio Freitas,
na área de rodovias, o PPI restringe-se a duas concessões, mas que
parecem ter viabilidade adequada. “São poucos, mas são bons. Existe
expectativa de viabilidade e competitividade na disputa desses lotes. A
visão é de otimismo pela correção com que isso foi feito.”
O
primeiro trecho que será concedido à iniciativa privada, segundo o
anúncio feito ontem, é o das BRs-364 e 365, entre Goiás e Minas Gerais.
No Rio Grande do Sul, o trecho a ser concedido inclui as BRs-101, 116,
290 e 386. Os editais para os dois trechos devem sair no primeiro
semestre do ano que vem, e o leilão está previsto para o segundo
semestre.
Para Freitas, mesmo que não sejam incluídos outros
trechos rodoviários para concessão nos próximos anos, os projetos
lançados ontem já representam um avanço. “O importante não é a
quantidade, mas a qualidade”, enfatizou. De acordo com Freitas, a
conexão entre Rondonópolis, Jataí e Uberlândia representa uma nova
alternativa de escoamento do plantio de soja da Região Centro-Oeste para
os portos do Espírito Santo, o de Santos, em São Paulo, e o de
Paranaguá, no Paraná. Sobre as concessões no Rio Grande do Sul, ele
destacou que vão representar melhorias para os usuários, pois atualmente
as rodovias no estado estão muito degradadas.
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