A dinamarquesa A.P.
Møller - Mærsk A/S comunicou que irá separar suas operações em
duas unidades distintas, uma de transporte e outra de petróleo, num
momento em que o setor de cargas marítimas vive um dos piores períodos
de sua história e os preços dos fretes atingem mínimas recorde.
A Maersk Line, maior unidade da empresa e maior operadora de
contêineres do mundo em capacidade, irá criar uma nova divisão de
transporte e logística, enquanto os ativos petrolíferos do grupo serão
consolidados numa divisão de petróleo, no que está sendo considerada a
maior transformação da empresa em seus mais de 100 anos de história.
"Os setores em que operamos são muito diferentes e os dois têm
fundamentos subjacentes e cenários de concorrência muito diferentes",
disse Michael Pram Rasmussen, presidente do conselho, num comunicado de
imprensa. Separar em duas divisões independentes os negócios de
transporte e logística dos ligados ao petróleo "permitirá que os dois se
concentrem em seus respectivos mercados".
A unidade de petróleo da Maersk foi duramente golpeada durante quase
dois anos de preços baixos da commodity. Ao mesmo tempo, o setor de
transporte de contêineres tem visto as tarifas de frete despencarem em
meio a um excesso de capacidade, provocando uma guerra de preços entre
operadoras que derrubou os fretes para níveis que mal cobrem os custos
com combustível.
A separação tem a meta de dar mais flexibilidade à Maersk Line para
crescer através de aquisições, uma vez que a consolidação em marcha no
setor deve acelerar nos próximos meses.
"Espero ver uma consolidação no setor porque muitas transportadoras
não estão ganhando dinheiro há anos e isso não pode ser sustentável no
longo prazo", disse o diretor-presidente do grupo Maersk, Søren Skou, em
entrevista ao The Wall Street Journal. "Vamos garantir que temos um
capital forte e uma melhor utilização dos ativos de forma a ter poder de
fogo para fazer grandes coisas se as oportunidades aparecerem."
Skou disse que aquisições serão "a opção preferida" de investimentos
da Maersk daqui para frente. É a primeira vez em muitos anos que um
executivo sênior da Maersk é tão específico ao discutir aquisições.
A Hanjin Shipping Co., sétima maior operadora do mundo, entrou em
recuperação judicial em agosto. Muitos esperam que ela seja liquidada
até o fim do ano.
Executivos do setor avaliaram que o trio de firmas
japonesas formado pela Kawasaki Kisen Kaisha, Ltd., Mitsui O.S.K. Lines e
Nippon Yusen Kaisha Ltd., juntamente com a Orient Overseas Container
Line Ltd., de Hong Kong, e a taiwanesa Yang Ming Marine Transport Corp.,
deverão estar na mira das grandes do setor. Ontem, a Kawasaki negou
relatos na mídia chinesa de que pediria recuperação judicial nas
próximas duas semanas.
"Está muito claro que a Maersk quer crescer", diz Lars Jensen,
diretor-presidente da consultoria SeaIntelligence Consulting, sediada em
Copenhague. "Em vez de unidades brigando entre si por capital, o
desmembramento vai permitir que as empresas separadas se concentrem em
aquisições. Eu vejo a Maersk Line sendo mais predatória nos próximos
anos."
Segundo Jensen, o excesso de capacidade, estimado em 30%, que derrubou
os fretes a níveis que mal cobrem os custos com combustível deixou uma
enorme quantidade de operadoras de contêineres, como a Hanjin, expostas a
aquisições por empresas maiores, como a Maersk. "A pressão sobre as pequenas empresas é tremenda", comentou Jensen. "Elas
estão perdendo dinheiro há anos e, em algum momento, terão que pedir
recuperação judicial ou serem engolidas por um peixe maior."
Jensen espera que as 20 maiores operadoras de contêineres do mundo
percam entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões neste ano. A maioria
registrou grandes perdas no segundo trimestre. A Maersk Line teve um
prejuízo líquido de US$ 139 bilhões, ante um lucro de US$ 499 milhões um
ano antes. A MaerskLine é responsável por mais de 50% da receita de
todo o grupo. Skou, da Maersk, disse esperar que os fretes se mantenham abaixo dos níveis sustentáveis no futuro previsível.
A Maersk surpreendeu os investidores em junho ao demitir o
diretor-presidente Nils Andersen e nomear Skou com a tarefa de liderar a
cisão do grupo e uma possível venda ou abertura de capital de algumas
unidades.
Na reorganização, a divisão de transporte e logística será formada
pelas empresas de serviços portuários e transporte marítimo Maersk Line,
APM Terminals, Damco, Svitzer e Maersk Container Industry. A Maersk
Line tem a missão de ampliar sua participação de mercado, organicamente e
através de aquisições.
As quatro empresas da unidade de petróleo - Maersk Oil, Maersk
Drilling, Maersk Supply Service e Maersk Tankers- continuarão sendo
parte do grupo Maersk ou serão separadas por meio de joint ventures,
fusões ou aberturas de capital. Uma decisão será tomada dentro de dois
anos, mas Skou diz que a empresa não pretende desmembrar todas as quatro
empresas.
No aspecto estratégico, a Maersk Oil vai priorizar um número menor de
áreas geográficas. Uma das principais é o Mar do Norte, onde ela quer
ampliar sua presença através de fusões e aquisições. A atividade de
exploração e os gastos continuarão baixos, afirmou a empresa. As ações da Maersk subiram 3,4% ontem em Copenhague.
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