Os produtos refrigerados estão ganhando espaço na navegação de cabotagem no Brasil, graças à
segurança, previsibilidade e custos menores desse modal. Mas, apesar das vantagens oferecidas, o
serviço ainda tem um caminho a percorrer até conquistar as mesmas
rotas marítimas já bem aproveitadas pelas cargas secas.
A Aliança Navegação, uma das operadoras da cabotagem no país, por exemplo, tem apenas 5% de itens refrigerados no total das suas
cargas, revelou Jaime Batista, gerente comercial de
Cabotagem da armadora. “Na carga seca, esse já é um
serviço bem estabelecido e vantajoso para grandes empresas como
Unilever, Nestlé, Bauducco e outros", comparou.
As
perspectivas de crescimento, de fato, ainda estão “no escuro”, afirmou o
executivo, reforçando a importância de reunir informações e
construir uma base sólida de estatísticas e perspectivas: “o volume
cresce, porém, a adesão ao serviço depende de uma série de fatores a
serem estudados, como a viabilidade do percurso, a validade do produto (shelf life), o menor trecho, o transit time e os prazos de entrega”.
Segundo Batista, produtos com shelf life
de 30 a 60 dias, por exemplo, podem não ser os mais elegíveis para a
cabotagem, pois a demanda pela agilidade pode onerar o serviço, e o
cliente vai acabar correndo o risco de botar no mercado produtos não tão
frescos. Esse tipo de problema já foi superado no mercado de
congelados: o frango, assim como refeições prontas, que têm uma
durabilidade maior, beneficia-se largamente dos serviços de cabotagem,
assim como produtos frescos com mais durabilidade, como a margarina.
“É
claro que existe uma diversidade de serviços, assim como existe uma
diversidade de prestadores – e de clientes – e são as empresas
contratantes que vão selecionar o tipo de serviço prestado. Há operações
rodoviárias refrigeradas de qualidade, assim como aquelas que, para
oferecer fretes baratos, podem fazer um trajeto duvidoso, ter problemas
com a manutenção do equipamento ou históricos de esquemas que burlam o
monitoramento”, contou Batista. Esse tipo de situação é mais difícil de
acontecer na cabotagem, que oferece um percurso mais regular,
propiciando condições para controle do equipamento, desde a coleta até o
percurso a bordo do navio e nos terminais.
Com um mercado
consumidor exigente, a nova tendência da indústria tem sido colocar as
suas instalações cada vez mais próximas do consumidor. Isso tem
acontecido não apenas por meio de filiais, mas também com o intermédio
de parceiros que produzem marcas alheias, ou realizam alguma etapa da
embalagem, com olhos para uma logística mais eficiente e mais bem
planejada, que onera menos o produto e a sua distribuição.
Viabilizar
a implantação de novos centros de produção, no entanto, é uma decisão
que envolve planejamento, análise e prazo longos, de modo que a
transição pode ser demorada e depende de certa estabilidade no mercado,
algo que o momento econômico não vem permitindo atualmente. “Não fosse
esse ‘tropeço’, certamente a cabotagem já estaria revolucionando”, destacou Jaime Batista.
No
transporte de frutas, o mercado encontra outra peculiaridade. Como grande parte das
frutas que se consomem no Sudeste provindas da região Nordeste (como
uva, banana, melão, manga, limão e mamão), o transporte desses itens é
bastante frequente, mesmo quando depende de sazonalidade. E, no entanto,
a cabotagem encontra bastante dificuldade de concorrer com o modal
rodoviário, que tem serviços compostos por outras rotas já
estabelecidas.
“Embora a cabotagem certamente ofereça qualidade e
segurança para as operações com frutas, infelizmente os caminhões
conseguem oferecer condições mais atraentes para essas rotas, uma vez
que eles sobem para o nordeste com carga refrigerada, como o frango e a
carne e voltam vazios”, ressalvou Batista. No caso da cabotagem, além de
ter de cumprir uma etapa rodoviária muito significativa, que chega a
cerca de 1000 Km até Salvador, é bastante difícil competir com os fretes
convidativos do rodoviário. “E, muitas vezes, a diferença nem está no
frete marítimo, mas sim nas pontas, que dependem de acesso rodoviário”.
Na prática, o que ocorre é que, apesar de transportar para a região
metropolitana de Fortaleza e Recife, o armador acaba destinando os
containers refrigerados para a exportação, ou então voltam vazios para
reposicionamento. “Hoje, há estudos para levar o arroz em container
reefer desligado para Petrolina, trazendo frutas no retorno, já que a
quantidade de equipamentos refrigerados na rota para o nordeste é
inferior à demanda. Ainda há a questão das safras, que são sazonais e
requerem bastante estratégia para competir com o rodoviário”, analisou Batista.
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