As concessões ou vendas para a iniciativa privada
anunciadas nesta terça-feira (13) pelo governo federal de projetos nas áreas de
transporte, energia e saneamento, dentro do Projeto Crescer, poderão
contar com financiamento de até 80% do Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (Bndes) e Caixa Econômica Federal.
Segundo a
presidente do Bndes, Maria Silvia Bastos, nos processos anteriores a
alavancagem das instituições públicas chegava a 100%, mas agora o
investidor privado terá que aportar no mínimo 20% do valor financiado.
Ela explicou que a ideia é emitir debêntures [título de crédito] para que
a própria iniciativa privada financie os investimentos, que são de
longo prazo, entre 15 e 30 anos.
“Nós reduzimos a alavancagem do
Bndes e trabalhamos junto com os outros bancos públicos e os bancos
privados para que possamos ter fianças durante o período da obra, que
serão dadas pelo setor privado, e também podem ser dadas pelo setor
público, para atravessar o período de maior risco”.
A presidente
do Bndes relatou que, nesse período, o banco pode oferecer créditos, mas
será dada preferência ao financiamento com debêntures. “Se não
conseguirmos atrair o investidor privado em um primeiro momento, o Bndes
e a Caixa Econômica podem fazer, até meio a meio, até 80% dessa
alavancagem. Mas queremos repassar isso o quanto antes para o setor
privado do mercado secundário.”
Maria Silvia avaliou que o país
passa por um momento de transição econômica e que o mercado “vai querer
pagar para ver” os projetos e o novo modelo de leilão, que tiveram as
condições revistas para se tornarem mais competitivos.
“Precisamos
ter bons projetos, que tenham atratividade, é necessário ter retorno.
Precisa haver um ambiente regulatório claro, transparente, regras
claras, bem definidas. Não é um elemento, não é a debênture, o
empréstimo ponte. Precisamos ter bons projetos e divulgar bem esses
projetos. As concessões antigas sequer tinham editais na língua inglesa,
somente na língua portuguesa. Precisa-se dar tempo ao investidor, ter
informações consistentes, a agência reguladora precisa exercer o seu
papel de fiscalização, o contrato precisa ser bem feito”, contou a presidente.
Os
primeiros editais serão lançados ainda este ano e a licitação terá prazo
de 100 dias para a análise dos interessados. “Nós queremos trazer
recursos privados para o financiamento das concessões brasileiras.
Estamos em um cenário mundial em que existe excesso de liquidez, taxas
de juros negativas, poucos projetos de infraestrutura, nós estamos em um
bom momento. Antes eram processos pontuais. Nós temos agora um processo
organizado, com regras bastante mais aperfeiçoadas com relação ao que
existia”, diz a presidente do Bndes.
Maria
Silvia destacou que pelo menos três estados já incluíram suas
companhias de saneamento no programa de concessões: Rio de Janeiro,
Rondônia e Pará. De acordo com ela, atualmente, no Brasil, ainda existem
35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada e mais de 100 milhões
sem coleta e tratamento de esgoto, além de 50% das escolas brasileiras
não estarem conectadas à rede de esgoto.
“Nós estamos mesmo na
rabeira dos países em desenvolvimento. E o volume de investimento é
muito grande. Para se universalizar o sistema de saneamento no país, são
necessários pelo menos R$ 300 bilhões. uCom a crise fiscal em todos os
níveis de governo, somente [é possível esse volume de investimento] com o
setor privado”.
De acordo com ela, o Bndes fará, ainda este mês,
três reuniões com representantes de todos os governos estaduais, “para
mostrar a eles como o banco pode apoiar esse processo. Nós
vamos fazer naquele molde do Programa Nacional de Desestatização, vamos
desde a contratação do estudo até a assinatura do contrato. Vamos fazer
um apoio técnico importante para que os estados possam avançar nessa
universalização do saneamento. Vamos contratar os estudos com os
recursos do banco. Temos recursos orçamentários para fazer isso e é um
investimento que pode ser ressarcido se o leilão tiver sucesso”, assegurou.
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