As operações dos principais terminais de contêineres do porto de
Santos (SP) ganharam ares de crise neste fim da semana, quando
estivadores invadiram a BTP e ocuparam um navio atracado na Libra, em
meio ao acirramento da greve que a categoria deflagrou há uma semana por
tempo indeterminado. Os estivadores avulsos - que atuam sem vínculo
empregatício - cruzaram os braços nos terminais da BTP, Libra e Santos
Brasil e protestavam contra a suposta utilização de mão de obra
estrangeira para compensar a paralisação.
Os terminais continuam operando parcialmente, pois têm estivadores
que são funcionários próprios, mas a capacidade está reduzida. Com isso,
a produtividade caiu e navios desviaram a rota. Estima-se que em torno
de 3 mil trabalhadores tenham aderido à greve.
A Lei dos Portos permite que os terminais dentro do porto público
vinculem os estivadores, desde que os profissionais sejam da base do
Ogmo, o órgão gestor responsável pelo fornecimento e treinamento dessa
mão de obra.
A categoria reivindica reposição salarial de 11,78% e luta contra o
aumento da fatia da mão de obra vinculada nesses terminais, que saiu de
50% para 66,66% em julho. O restante é reservado aos avulsos, que atuam
em sistema de rodízio nos terminais do porto. Um acórdão do Tribunal
Superior do Trabalho (TST) de 2015 permitiu que a partir de 1º de julho
deste ano os terminais elevassem gradualmente a participação dos
estivadores com carteira assinada, até chegar a 100% a partir de março
de 2019.
Segundo os trabalhadores, a redução da fatia da mão de obra avulsa
vai tirar o ganha pão dos trabalhadores sem carteira, pois não haveria
vaga para todos os estivadores se a totalidade deles fosse contratada
pelos terminais - ao passo que o sistema de rodízio garante trabalho
universal.
Na quarta-feira, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP) vai julgar o
dissídio da categoria. As empresas aceitaram a proposta de conciliação
do TRT-SP para reajuste de 10% retroativo a março (data-base da
categoria) e vale refeição de R$ 30,00. "Só que a greve não é contra
isso, eles querem manter a proporção de 50% a 50%. Isso é desrespeito a
uma decisão final do TST num processo movido por eles", diz Sérgio
Aquino, coordenador da câmara de contêiner do Sindicato dos Operadores
Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp).
Marcello Vaz dos Santos, advogado do Sindestiva, discorda. "Temos uma
pauta de reivindicação extensa, da qual a proporcionalidade é um dos
itens, mas não é o ponto central. O ponto central é a falta de reajuste
desde março", diz.
O Sindestiva diz que, com a greve, os terminais substituíram os
estivadores pelos trabalhadores dos navios, cuja tripulação é
estrangeira - o que desrespeita a Lei dos Portos e a legislação
trabalhista. Em julho, quando houve paralisações pontuais, o sindicato
obteve duas decisões liminares que impedem Santos Brasil, BTP e Libra de
usarem mão de obra estrangeira. "Mas a Polícia Federal flagrou
estrangeiros atuando como estivadores e multou os terminais da BTP e
Santos Brasil", diz Vaz dos Santos.
As empresas se manifestaram por meio do Sopesp. "Os terminais não
contratam mão de obra estrangeira. Os trabalhos relacionados à
movimentação de contêineres nos navios são 80% automatizados, e, desde
que iniciada a greve, as peações e despeações nos navios estão sendo
realizadas por um pequeno contingente de trabalhadores vinculados.
Inclusive, vale destacar, que estes trabalhadores estão trabalhando sob
fortes ameaças", diz a nota da associação.
Além dos terminais, o sindicato dos estivadores diz que vai acionar
na Justiça os armadores Hamburg Süd, Maersk Line e MSC - os três maiores
a operar no Brasil. Segundo o Sindestiva, essas companhias de navegação
teriam disponibilizado pessoas da tripulação para atuar como
estivadores.
Os donos de navios dizem que as embarcações estão sendo operadas pela
parcela de estivadores celetistas dos terminais. "A gente não está
operando os navios, quem está fazendo isso são os terminais onde
escalamos. A mão de obra é deles", diz Julian Thomas,
diretor-superintendente da Hamburg Süd. Pelo menos cinco navios da
empresa tiveram problemas de atraso e alguns foram desviados para outros
terminais ou portos.
A Maersk afirmou que monitora a situação com suas equipes em terra e a
bordo das embarcações. "Embora nós não comentemos disputas trabalhistas
locais, a Maersk Line está totalmente comprometida em manter-se
alinhada com as regulamentações e legislações locais", disse em nota. A
MSC não respondeu até o fechamento desta edição.
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