Os Custos do transportes, as tarifas cobradas
por portos e aeroportos, a demora na liberação de mercadorias e as
dificuldades no escoamento da produção reduzem a competitividade do
produto brasileiro para exportação. É o que mostra a pesquisa Desafios à
Competitividade das Exportações Brasileiras, da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), em parceria com a Escola de Administração de
Empresas de São Paulo (FGV – EAESP).
O trabalho, único no país, apresenta os obstáculos por número de
empresas, porte e região, e não por valor de exportações. Essa abordagem
evitou que dados de poucos e grandes exportadores impactassem
significativamente os resultados.
“A pesquisa aponta que, se o Brasil quiser realmente ser competitivo,
é necessário reduzir a morosidade e a burocracia aduaneira e
alfandegária, simplificar o fluxo documental e legal do processo de
exportação e melhorar a infraestrutura logística para o escoamento”, diz
o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Os exportadores indicaram 62 entraves ao comércio numa escala de 1 a
5, sendo que 1 indicava que o entrave era pouco crítico e 5 que o
entrave era muito crítico. De acordo com a pesquisa, entraves na
logística, burocracia e custos alfandegários são os maiores desafios às
exportações brasileiras, qualquer que seja o porte da empresa ou região
geográfica. O custo do transporte, por exemplo, recebeu nota 3,61, as
tarifas cobradas por portos e aeroportos, 3,44, e a baixa ação do
governo em superar as barreiras à exportação ficou com 3,23.
“Se olharmos os 10 entraves mais críticos por região, veremos que, de
forma geral, os exportadores consideram os mesmos problemas, o que muda
é o nível de criticidade. No Nordeste, os exportadores são mais
afetados pelos elevados juros para o financiamento da produção. No
Centro-Oeste, a situação das rodovias é o maior problema”, afirma
diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
Dentro da burocracia alfandegária, também são entraves críticos as
tarifas cobradas por órgãos anuentes (3,04), excesso e complexidade dos
documentos de exportação (3,03) e o tempo para a fiscalização, despacho e
liberação de produtos (3,0). Para acessar mercados externos, 37,3% dos
exportadores apontam a burocracia administrativa como principal
obstáculo e 36% reclamam da burocracia aduaneira no país de destino.
Para um terço dos exportadores, as tarifas de importação afetam a
competitividade.
Propostas para crescer
Mais de 70% das empresas pesquisadas exportaram nos últimos cinco
anos, o que significa que esses problemas são enfrentados por
exportadores experientes. “É o melhor retrato que se pode ter dos
problemas enfrentados pelas empresas exportadoras brasileiras. Com os
dados, queremos fazer propostas e ajudar o governo a acertar no comércio
exterior”, diz Abijaodi.
Os professores Juliana Bonomi Santos e Alexandre Pignanelli, do
Centro de Excelência em Logística e Supply Chain (GVcelog) da FGV-EAESP,
destacam a estratificação ampla dos resultados. “A grande amostra
utilizada permite que os resultados sejam avaliados também por porte,
por região, e por qualquer combinação entre essas duas características,
possibilitando assim a identificação de obstáculos particulares para,
por exemplo, micro empresas da região Norte ou grandes empresas da
região Sudeste”, destaca Pignanelli.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), José Augusto de Castro, é necessário ter estrutura para exportar.
Ele lembra que a Coreia do Sul, que é um país com pouca matéria-prima,
exportou, em 2015, US$ 550 bilhões em manufaturados.
“Será que o parque fabril é tão maior do que do Brasil? Não. E o
Brasil vai exportar em 2016 menos do que 2006. Vai ficar igual a 2015.
Significa que nós paramos no tempo. Tem que investir em infraestrutura
para reduz o custo da logística e acabar com o custo adicional gerado
pela burocracia, só assim seremos um exportador de peso”, diz o
presidente da AEB.
Novos mercados
Cerca de 30% das empresas exportadoras pretendem começar ou
intensificar sua atuação nos Estados Unidos e na Argentina. Os Estados
Unidos são o principal mercado-alvo para exportadores de todas as
regiões. Quando se olha o dado regionalmente, 34,3% dos empresários do
Norte gostariam de exportador para os Estados Unidos. No Centro-Oeste
brasileiro, apenas para 16,7% querem ir para os EUA. Para a Argentina,
querem ir 12,5% dos exportadores do Sudeste e 12,4% do Sul do Brasil.
A pesquisa mostra ainda que apesar da baixa exportação para países da
Ásia, Oceania e Oriente Médio, há um interesse crescente nesses
destinos. Atualmente, 8% das empresas brasileiras atuam nestas três
regiões, mas 23% dos exportadores visam atuar nestes mercados.
O diretor da unidade de negócios de Gestão do Comercio Exterior da
Thomson Reuters no Brasil, Menotti Franceschini, lembra que nos últimos
anos, o foco das empresas que operaram no Brasil esteve direcionado para
o mercado local, que estava muito aquecido. “Porém, em 2015, já
começamos a notar uma mudança nesse comportamento, quando registrou um
aumento de 1.224 novas empresas fazendo negócios no comércio
internacional”, explica.
O especialista, contudo, alerta que esse aumento se deu muito por
conta das alterações cambiais e não necessariamente por ganho de
competitividade das empresas. “Exportar, é na verdade, muito mais do que
uma oportunidade de alavancar resultados. Trata-se de uma escolha
estratégica para empresas que queiram ser mais efetivas e sustentáveis”,
finaliza.
Acordos comerciais
O estudo indica que 23,9% dos exportadores brasileiros querem acordo
comercial com os Estados Unidos e 16,1% têm interesse em um acordo com a
União Europeia. A assinatura de acordos comerciais ganha força pelos
entraves que os empresários enfrentam no país comprador. A burocracia
administrativa e aduaneira no país de destino e a presença de tarifas de
importação são, na visão de ao menos 32% dos exportadores, os
principais obstáculos enfrentados para conseguir vender seus produtos e
serviços. As medidas sanitárias e fitossanitárias são, para 20% dos
exportadores, um importante obstáculo a ser vencido.
“Os acordos comerciais são o caminho para se reduzir esse entrave. E
os empresários mostraram que querem acordos com EUA, UE e Mercosul”, diz
Abijaodi. Para os exportadores do Norte e do Nordeste, as medidas
sanitárias e fitossanitárias são mais relevantes do que a burocracia
aduaneira e as quotas de importação.
Tributação
Tributos federais e estaduais estão entre os que mais impactam as
exportações. 43,6% disseram que PIS/Cofins é um entrave; 37,2% citaram o
Imposto de Renda; 33,5% reclamaram do ICMS. O imposto de importação de
insumos para exportação, IPI e CSLL foram citados por 22,2% dos
exportadores.
Entraves internos
A maioria dos exportadores não utiliza instrumentos de financiamento
às exportações. Na opinião de 52% deles, isso ocorre principalmente
devido à dificuldade de acesso às informações sobre os instrumentos e à
exigência de garantias para financiamentos. Para a CNI, esse dado indica
que há espaço para a simplificação dos regimes de financiamento e para a
melhoria na gestão da informação fornecida aos exportadores.
Pesquisa
A pesquisa entrevistou 847 exportadores entre dezembro de 2015 e
janeiro de 2016. Esse total representa 4,17% das empresas exportadoras. A
amostra é qualitativa e reflete a realidade dos mais de 20 mil
exportadores em 2015 com grau de confiança de 95%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário