A realização de estudos sobre a qualidade
dos sedimentos dragados no Porto de Santos (SP) e, dependendo dos resultados
obtidos, a utilização e a comercialização desse material foram
defendidas pelos pesquisadores Guilherme Lotufo, do Corpo de Engenheiros
do Exército dos Estados Unidos (Usace), e Sérgio Pompéia, da brasileira
Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais (CPEA). Segundo eles, os
volumes dragados podem até se tornar uma fonte de recursos para as
autoridades do segmento.
O tema foi discutido na semana passada, durante o 1º Workshop Internacional de Gerenciamento de Material Dragado,
promovido a partir de uma parceria entre a CPEA e os laboratórios de
análises químicas Eurofins e Tecam. O encontro aconteceu
no Hotel Mercure, no Boqueirão, em Santos.
De
acordo com Lotufo, existem formas de uso benéfico dos sedimentos
dragados, além do descarte em áreas pré-estabelecidas pelas autoridades
ambientais, como acontece no Porto de Santos. No entanto, no Brasil e em
muitos outros países, esses resíduos ainda são desperdiçados.
“Com
o aquecimento global e o aumento do nível do mar, existe a necessidade
de material para se manter os ambientes, para se fazer obras de
proteção. Esse é o uso benéfico (dos sedimentos dragados). Um recurso
muito valioso que, muitas vezes, é desperdiçado. A sociedade, os
pesquisadores e os governos devem se voltar mais para essa pesquisa e
tentar entender os riscos associados ao uso benéfico para que isso não
seja desperdiçado”, destacou o pesquisador da Usace.
O
Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos é uma referência
mundial em diversos campos da engenharia. Áreas como meio ambiente,
navegação fluvial e prevenção a cheias estão entre os focos de estudos
realizados por seus pesquisadores, tanto civis como militares.
“A
realidade é que aqui e em muitos países, muitos materiais são colocados
no mar, mas têm um valor que está sendo desperdiçado. Lá fora também é
desperdiçado. Em alguns casos, não tem que estudar mais procedimentos.
Tem só que entender o que já foi pesquisado”, ressaltou Lotufo.
Apesar
de parecer viável, a comercialização dos sedimentos depende de intensas
análises. O processo é necessário para saber a exata composição do
material, que, em Santos, é contaminado e precisa de uma destinação
adequada.
Segundo Sérgio
Pompeia, no material orgânico retirado do canal de navegação do Porto de
Santos, há muitos contaminantes ligados à cadeia de hidrocarbonetos.
Eles podem ser decorrentes de processos de queima de produtos, ocorridos
no Polo de Cubatão no século passado. Também há incidência de metais,
em menor quantidade.
“Tem
um processo histórico das décadas de 50, 60, 70 de contaminação por
conta da atividade industrial e urbana. A gente não pode esquecer que,
durante muitos anos, a Baixada Santista também recebeu águas que vinham
da Billings com contaminantes. Mas isso faz parte da história. Hoje, é
completamente diferente, temos controle bastante rígido de todas as
atividades”, explicou o presidente da CPEA.
Para
o pesquisador, o processo de dragagem do Porto até propicia uma espécie
de limpeza do estuário, com resultados ambientais que devem ser
destacados. “Esse processo se reflete no surgimento de espécies que não
eram observadas, sejam tartarugas – a gente vê uma grande
quantidade delas se alimentando no estuário –, botos, ou diversas
espécies de aves que não eram vistos nessa quantidade de hoje”, relatou
Pompéia.
São muitas as
possibilidades para a destinação do material dragado. Mas, conforme os
especialistas, tudo depende do volume e dos tipos de contaminantes e
sedimentos encontrados. “Você tem um leque de possibilidades, desde
soluções de deposição em locais seguros, confinados, onde podem ficar
permanentemente, até soluções de uso benéfico ou mesmo algum tratamento,
mas isso tudo varia de caso a caso. Não existe solução mágica e ela é
de acordo com cada tipo de situação”, destacou Pompéia.
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