O primeiro incidente no novo canal do Panamá, o choque de um navio
chinês contra uma parede em julho, poderia ter sido evitado graças a um
estudo feito no Brasil. O trabalho, apresentado às autoridades responsáveis pelo canal em
abril deste ano, mostrava que, em condições climáticas desfavoráveis, os
rebocadores que conduzem os navios pelo canal não teriam potência
suficiente para conduzir as embarcações com segurança.
O novo canal é considerado pelos especialistas em logística uma
revolução mundial no transporte. A ACP (Autoridade do Canal do Panamá)
estima que a nova passagem possa aumentar até 2020 em 22% a tonelagem
transportada através do canal, beneficiando o comércio mundial (5% das
mercadorias passam pela região).
Foram investidos aproximadamente US$ 5,2 bilhões (cerca de R$ 16,5
bilhões) na construção do novo canal, inaugurado em 26 de junho com a
intenção de aumentar a quantidade de navios que cruzam os oceanos
Atlântico e Pacífico para reduzir os custos de transportes de
mercadorias entre os continentes americano e asiático.
A ACP rechaça os estudos apresentados e afirma que o canal é seguro,
com menos de 0,1% de incidentes em relação aos 14 mil trânsitos anuais. Antonio Rodriguez Fritz, secretário regional para as Américas da
IT?F, federação internacional de trabalhadores marítimos, discorda.
A ITF foi quem pediu o estudo brasileiro preocupada com informações
de trabalhadores do canal sobre a falta de capacidade de operação na
nova estrutura, que poderia colocar em risco a segurança dos
funcionários. No dia 21 de julho, o navio Xin Fei Zhou, de 335 metros, colidiu com a parede da eclusa no lado do Atlântico.
De acordo com Fritz, a ITF decidiu contratar a Fundação Homem do Mar,
do Brasil, por ser o laboratório mais qualificado das Américas para
simulações de operação marítimas. A fundação, braço educacional do
Sindicato dos Marítimos, trabalha em conjunto com a Marinha nesse tipo
de simulação.
Segundo Fritz, as simulações feitas no Brasil mostraram que as
dimensões do canal para manobrar novos navios (agora maiores) eram
pequenas e, com os rebocadores comprados e os existentes, haveria risco
de acidentes em condições climatológicas adversas.
Segundo Severino Almeida, presidente da Fundação Homem do Mar, o
estudo foi pedido porque não havia consenso entre a autoridade do canal e
os operadores do porto sobre a real quantidade de navios que os
rebocadores podem operar com segurança. "O espaço foi reduzido demais. Usamos um modelo matemático que já
utilizamos no Brasil com sucesso para estimar a real capacidade de
manobra com segurança", disse Almeida.
A Autoridade do Canal do Panamá garantiu que desde a abertura, em julho,
já passaram 55 grandes navios e reitera que o canal é seguro, sem
comentar o incidente. A empresa informa que o estudo brasileiro foi
"rechaçado" quando apresentado porque "os modelos matemáticos usados não
são reais e carecem, portanto de rigor científico", além dos autores
não "serem idôneos para fazê-lo". "A ACP reitera que está preparada para fazer frente ao desafio que representa o novo canal com segurança e eficiência".
Nenhum comentário:
Postar um comentário