O secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI) do Governo Federal, Moreira Franco, tem circulado por Brasília em busca de amparo
técnico e jurídico para um novo modelo de regulação. Ele tem conversado
pessoalmente com ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) para
combinar a melhor forma de "empacotar" o projeto.
A ideia central é que as agências deixem de exercer algumas
competências, como a organização de leilões e a preparação de editais de
licitação, por exemplo, e se concentrem mais na fiscalização dos
contratos. Há o entendimento de que, ao assumir outras funções, as
autarquias perderam a capacidade de fiscalizar com a qualidade desejada.
Se o projeto vingar, ações como preparação de editais e realização de
leilões passariam a ser tocadas pelo poder Executivo, por meio dos
ministérios setoriais. Além do TCU, Moreira Franco tem conversado com os
próprios diretores das agências reguladoras, que não têm demonstrado
grande entusiasmo com as mudanças propostas.
"O secretário Moreira tem discutido diretamente conosco e já foi
alertado que o caminho não é bem esse", disse o diretor-geral
de uma agência. O Brasil conta atualmente com dez agências reguladoras.
Esses órgãos começaram a ser criados no final da década de 90, na
esteira das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.
Há, no entorno de Moreira Franco, o entendimento de que o governo
petista fez uma releitura do papel das autarquias, que acabaram
assumindo funções de defesa do consumidor. O próprio
secretário-executivo do PPI já disse publicamente que as agências não
podem funcionar como "uma espécie de Procon".
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por exemplo, oferece
um serviço de atendimento direto ao consumidor dos serviços de
telefonia. Outro caso mencionado é o da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT). O governo não quer que o órgão fiscalize as obras de
uma rodovia concedida, mas sim o seu funcionamento.
O projeto de lei em elaboração não estará pronto para ser apreciado
na primeira reunião do conselho do PPI, remarcada para o dia 12 de
setembro. Na ocasião, serão apresentadas somente algumas normas propondo
a padronização do funcionamento das agências reguladoras. As mudanças
na legislação só devem ser debatidas na segunda reunião do colegiado,
que ainda não tem data para acontecer.
A Medida Provisória 727, que criou o PPI, teve o relatório aprovado
anteontem pela comissão mista responsável. O texto original previa
alguns mecanismos de "análise de impacto regulatório", como oitiva
prévia das autoridades competentes quanto "à consistência e aos impactos
fiscais, econômicos e concorrenciais de medidas de regulação".
No entanto, o relator da MP, senador Wilder Morais (PP-GO), decidiu
retirar essa previsão da versão final. "Acreditamos que tais medidas
devam ser analisadas com mais vagar, no âmbito de um projeto de lei
específico que trate da harmonização de práticas e procedimentos das
agências regulatórias, e não na medida provisória aqui analisada",
afirmou o parlamentar.
A comissão especial criada para avaliar as propostas da Agenda Brasil
aprovou na semana passada o texto da nova lei das agências, que entre
outras medidas dá autonomia orçamentária aos órgãos e disciplina a
nomeação dos dirigentes. Os diretores devem ter experiência mínima de
dez anos no campo de atividade da agência e formação compatível.
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