A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reivindicou ao governo do
presidente em exercício, Michel Temer, que denuncie o tratado, assinado em
1974, com o Chile, que criou um duopólio na rota marítima entre os dois
países. O acordo determinou que apenas dois grupos operem no transporte de contêineres entre
Brasil e Chile: a Hamburg Sud (pelo Chile) e a Hapag-Lloyd (pelo Brasil),
ambas subsidiárias de duas gigantes europeias.
Segundo a CNI, há apenas oito navios para atender os 3.685
exportadores e 1.149 importadores brasileiros, sem contar os empresários
chilenos. O duopólio aumenta o frete entre 20% e 40%, de acordo a
confederação. Afeta principalmente o agronegócio e setores industriais
como automotivo, máquinas e equipamentos, cerâmica, papel e celulose,
metais, cosméticos e higiene.
O Chile é o sétimo mercado das exportações brasileiras de bens
básicos, semimanufaturados e manufaturados e o segundo maior destino de
investimentos de empresas brasileiras, em número de empresas, atrás
apenas dos Estados Unidos. Em 2015, a corrente de comércio foi de US$
7,5 bilhões, mas já chegou a US$ 10 bilhões em 2008.
Como base de comparação, o frete pode ser até 40% mais alto do que em
rotas mais longas, como Brasil-Equador ou Brasil-Peru. O preço da milha
náutica entre o Brasil e o Chile é 30% mais caro do que a milha náutica
entre Brasil e a China. Essa distorção é furto do Convênio de
Transporte Marítimo entre Brasil e Chile, assinado há mais de 40 anos,
que só permite que navios de bandeira brasileira ou chilena façam o
transporte de carga nesse trajeto. A CNI pede que esse tratado seja
discutido na reunião da Camex.
A confederação defende a denúncia do acordo, que foi feito para ser
temporário. O texto do tratado tem prazo de cinco anos, prorrogado caso
as partes não se manifestem, o que ocorreu nos últimos 40 anos. Na
avaliação da indústria, a denúncia não apresenta insegurança jurídica,
pois é cláusula integrante do tratado.
“O acordo foi criado para fomentar a indústria nascente de transporte
marítimo. Passados mais de 40 anos, a proteção artificial das frotas
nacionais não surtiu efeito. Não desenvolveu essa indústria nem aumentou
a capacidade de transporte. Em um momento que a indústria busca
incessantemente ampliar sua competitividade, fatos como esse oneram o
frete, um dos componentes mais importantes no custo da exportação”, diz o
diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
“Com a denúncia, o Brasil manda uma mensagem forte de que muda as
regras no meio do jogo”, discorda o diretor-superintendente da Alliança
Navegação e Logística e da Hamburg Süd no Brasil, Julian Thomas (foto). Segundo
ele, o grupo investiu US$ 700 milhões na cabotagem brasileira e na
reconfiguração da frota com a certeza de que o acordo valeria por mais
cinco anos, pelo menos.
Thomas diz que o fim do tratado vai aumentar o prazo de entrega das
mercadorias entre os dois países, que hoje é de 12 dias, entre Santos e
San Antonio. Se a rota for feita por Cartagena, na Colômbia, o prazo
aumenta para 33 dias. “Se denunciar o acordo, o Brasil deixa de ser
competitivo na comparação com a China, que vai conseguir enviar as
mercadorias para a costa oeste da América do Sul em tempo menor”,
afirmou.
Para a CNI, porém, a restrição na oferta de navios obriga o setor
produtivo brasileiro a conviver com fretes elevados ou mesmo proibitivos
justamente em um período em que há uma redução mundial do custo do
transporte marítimo devido a superoferta de navios. Abijaodi lembra que
na rota Brasil-Equador ou Brasil-Peru, onde existe livre concorrência,
há pelos menos 30 navios disponíveis. A CNI e Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já encaminharam carta ao governo
brasileiro pedindo a denúncia do acordo. Por parte do Chile, a CNI tem o
apoio da Sociedade de Fomento Fabril (Sofofa) para que se promova a
abertura do frete marítimo.
“Não devemos deixar um duopólio reduzir a possibilidade de negócios. É
necessário aumentar a oferta de embarcações em datas e tipos conforme a
necessidade dos exportadores e com preços competitivos”, defende
Abijaodi.
O Brasil possui acordo de livre comércio com o Chile, assinou no ano
passado acordo para ampliar investimentos e está negociando um acordo de
compras governamentais. Este acordo possibilitará que empresas
brasileiras possam vender para o governo chileno e as chilenas para o
governo brasileiro.
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