O governo de Michel Temer vai anunciar o programa de concessões que pretende destravar investimentos, duas semanas depois de concluída a votação do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, As estrelas
do pacote serão as licitações de áreas do pré-sal. Entrarão como
agentes financiadores a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI),
Wellington Moreira Franco (foto), não entrou em detalhes, mas técnicos da Caixa
informaram que está em estudo o uso dos recursos do fundo de
investimento FI-FGTS, que usa parte dos recursos do FGTS para
investimentos em infraestrutura. A ideia é mudar algumas regras do fundo
para desembolsar os cerca de R$ 12 bilhões que estão parados. A Caixa
tem também R$ 1,1 bilhão de um outro fundo, captado com recursos de
fundos de pensão, que podem financiar um projeto menor.
O banco estatal, responsável pela gestão do FI-FGTS, estuda permitir a
aquisição pelo fundo de letras financeiras emitidas pelos bancos. Seria
uma forma de fugir da proibição legal de repassar os recursos do fundo a
instituições financeiras. Essa alteração teria de passar no conselho
curador do FGTS. Com o dinheiro dos papéis, os bancos financiariam os
projetos, assumindo o risco das obras.
Outra opção seria um aporte
direto do fundo nos consórcios vencedores, por meio de sociedades de
propósitos específicos (SPE), o que já é permitido. Há ainda a
alternativa de usar os recursos do fundo para conceder empréstimos-ponte
até o consórcio vencedor conseguir um empréstimo de longo prazo.
Com a entrada da Caixa ao lado do BNDES, o secretário acredita que as
concessões possam enfim ter competitividade. "O investidor vai ter dois
endereços para ir. A ideia é buscar os bancos privados também", disse.
A pedido do governo, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) encaminhou sugestões para as próximas concessões. O documento é
dividido em quatro partes, incluindo medidas que visam a impedir a
formação de possíveis cartéis.
De acordo com Moreira Franco, ainda que a votação na Câmara sobre a
mudança do regime de exploração do pré-sal não tenha sido concluída no
dia 13 de setembro, o setor de petróleo e gás será um dos principais
motores do programa de concessões.
Também farão parte da lista de concessões ativos de energia elétrica e
os já divulgados leilões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. O
encontro que vai formalizar a entrega das propostas foi marcado para
dia 13 de setembro.
O anúncio de que os bancos públicos continuam a ser os
principais agentes financeiros das concessões deixou a impressão de que o
governo manteve o modelo anterior por falta de alternativas no mercado
privado, opção considerada mais adequada. "Os dois bancos têm boa
expertise no assunto, especialmente o BNDES, e dar apoio financeiro e
técnico são funções clássicas de um banco de desenvolvimento, mas
infelizmente o governo reconhece que não há alternativa de financiamento
de longo prazo no mercado privado brasileiro", disse o economista José
Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Na avaliação da economista-chefe da
XP Investimento, Zeina Latif, o governo interino também sinaliza que tem
pressa. "À luz do discurso inicial, os bancos públicos iriam
complementar o financiamento privado, mas ao que parece houve um recuo.
Talvez o governo tenha pressa em produzir resultados, mas o ideal é que
fosse mais paciente."
O especialista em finanças públicas, Raul Velloso, tem uma
preocupação adicional: "Várias concessões de 2013 não foram para frente
por falta de recursos do BNDES porque as regras mudaram. Complicado
começar projetos novos com essa pendência."
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