O Porto de Santos (SP), que escoa cerca de 30% da balança comercial brasileira em
valores, apresentou o maior crescimento
operacional entre os principais complexos portuários do país nos sete primeiros
meses do ano. O cais santista movimentou 60,9 milhões de toneladas -
considerando apenas a soma das exportações e importações -, alta de 19%
sobre janeiro-julho de 2015. No conjunto, os portos brasileiros escoaram
3% a mais de cargas: 433,3 milhões de toneladas, conforme dados do
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
O complexo paulista ficou em quarto na movimentação geral, atrás dos portos de São
Luís (MA), Sepetiba (RJ) e Vitória (ES), tradicionais líderes em
volumes por terem operações fortes de movimentação de minério de ferro -
que pesa muito, mas tem pouco valor agregado.
O crescimento em Santos foi puxado pela alta de 41% das exportações
de grãos, cereais e farelo. Apesar da propalada vocação de "porto da
indústria", Santos disparou na liderança na movimentação dessas
commodities.
Especialistas avaliam que a concentração do escoamento de grãos por Santos
mostra a falta de logística adequada para conduzir parte considerável do
agronegócio para ser escoada pelor portos do chamado Arco Norte. "Mas
não adianta construir catedral na Lua", diz um consultor, numa
referência ao aumento no número de terminais portuários de uso privado
nos últimos anos naquela região não ter sido acompanhado por obras de
acesso.
A inexistência de acessos terrestres suficientes para levar a carga
aos portos daquela região, notadamente a continuação da BR-163 e o
trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Açailândia (MA) e Barcarena (PA), foi
considerado um dos fatores - mas não o único - que inviabilizaram as
licitações portuárias em portos do Pará. Marcado para 10 de junho, o
leilão de seis lotes foi suspenso na véspera. Alguns empreendedores
interessados disseram que, se houvesse uma licitação intermodal
ferrovia-porto, as chances de sucesso seriam maiores.
Luiz Fayet, consultor de infraestrutura e logística da Confederação
Nacional da Agricultura (CNA), atribui o aumento da participação de
Santos no nicho de commodities até julho a um fator conjuntural - a alta
do preço da soja no mercado, que estimulou a concentração das
exportações nos primeiros meses do ano. "Houve uma pressão brutal de
exportações por causa dos preços internacionais". Mas ele pondera.
"Ao
mesmo tempo, faltam alternativas de rotas, especialmente para o Arco
Norte."
Para Leandro Barreto, especialista em transporte marítimo, mais forte
que o preço da soja é mesmo a falta de logística do Arco Norte. "A
estrutura lá embaixo está pronta; lá em cima, não. Mas também tem a
questão do Canal do Panamá", diz. Segundo Barreto, as exportações do
Arco Norte para a Ásia podem ser mais competitivas pelo Canal do Panamá,
rota que "encurta" em cerca de três dias a distância entre o Brasil e a
China.
Contudo, hoje, os preços do combustível marítimo e do aluguel de
navios graneleiros estão tão baixos que sai mais barato contornar a
África - saindo com os navios de portos do Sul e do Sudeste - do que
pagar o pedágio do Canal. Por isso também a carga estaria "descendo" em
vez de "subir".
A Rumo Logística, transportadora ferroviária que tem terminais
dedicados ao agronegócio em Santos, movimentou no segundo trimestre no
cais santista 80% a mais que no mesmo intervalo de 2015, devido ao
melhor cenário do açúcar e do aumento do volume de grãos. Dos 3,5
milhões de toneladas que embarcou no período por Santos, cerca de 800
mil toneladas foram de grãos, ante 493 mil toneladas na mesma base de
2015.
"O que está fazendo a diferença é o custo do acesso. A crise
econômica reduziu os fretes rodoviário e ferroviário. De Rondonópolis
(MT) e imediações para baixo é mais barato mandar a carga para Santos e
Paranaguá (PR) do que para Santarém, Vila do Conde (PA), ou Itaqui (MA).
É essa conta que a trading vai fazer. Além disso, o Sudeste sempre dá
carga de retorno", afirma Fabrizio Pierdomenico, sócio-diretor da
Agência Porto.
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