terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Indústria ferroviária brasileira sofre queda forte em 2020 mas aposta em crescimento no ano que vem

 

        A indústria ferroviária brasileira esperava um ano desafiador, mas com boas expectativas. Entretanto, o mundo foi atingido por uma pandemia sem precedentes no último século, que alterou todas as previsões. A ociosidade do setor em 2020, agravou a crise já forte em 2019,  retrocedendo em quase 90%.

 

            As fábricas de vagões de carga melhoraram seu desempenho, com entregas previstas de 1.800 unidades em 2020, contra uma previsão de 2.000 vagões. Com isso, recuperou-se em relação a 2019, quando foram entregues apenas 1.006 vagões. Não houve exportações.

 

        Apesar do desempenho melhor em vagões, mas não em locomotivas, os volumes estão longe dos níveis históricos, que, espera-se, serão resgatados na medida em que os programas das renovações antecipadas tragam efetivamente mais negócios ao setor.

 

           As entregas de locomotivas tiveram um desempenho menor e fecharão 2020 com apenas 29 unidades, contra uma previsão de 40 locomotivas, e ainda menor que em 2019, quando foram entregues 34 unidades. Também não houve exportações.

 

           A indústria ainda enfrenta grandes oscilações nos volumes de fabricação, com reflexos negativos na mão de obra direta, porém espera que as concessionárias de carga ofereçam previsibilidade e maiores volumes a partir de 2021.

 

       Segundo Vicente Abate, diretor do SIMEFRE (Sindicato Interestadual de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários) e presidente da ABIFER (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), consideradas as condições vivenciadas neste ano incomum, os volumes de equipamentos entregues estiveram dentro das expectativas.

 

          “Foi um ano em que nossa indústria aproveitou para lançar e consolidar produtos e serviços inovadores. Vagões para o transporte de celulose, contêineres, grãos e minérios, que aumentaram a competitividade das concessionárias. Locomotivas elétricas a bateria, desenvolvidas e fabricadas por técnicos e engenheiros brasileiros, que já se encontram em operação em nossas ferrovias. Trata-se de um salto de tecnologia, totalmente alinhado com metas de redução de carbono, pois eliminam o consumo de combustível fóssil e não emitem gases e particulados no meio ambiente, o que coloca o Brasil na vanguarda do uso deste tipo de tecnologia para o transporte de cargas. Foi um ano também de consolidação de ferramentas e soluções digitais inovadoras nas ferrovias de carga, que contribuíram fortemente para o aumento da produtividade e segurança de suas operações”, explicou o dirigente.

 

         Na área de passageiros, a indústria completaria sete anos sem qualquer encomenda no mercado doméstico, não fosse a retomada da construção da Linha 6 do Metrô de São Paulo, em que o novo consórcio confirmou a aquisição de trens da indústria brasileira. “Espera-se também que a concessão das Linhas 8 e 9 da CPTM, marcada para março de 2021, com aquisição prevista de 34 trens, e a licitação de 44 trens para a Linha 2 do Metrô de São Paulo, tragam mais alento à indústria nacional, porém isso acontecerá somente a partir de 2022”, informa Massimo Giavina, vice-presidente do SIMEFRE e membro do Conselho da ABIFER.

 

        Em 2020 foram entregues apenas 72 carros de passageiros, todos para o Metrô de Santiago, contra uma previsão de 131 unidades. Para 2021, o volume será ainda menor, com 43 carros, sendo 40 para exportação.

 

         O mercado se recuperará a partir de 2022, com as exportações já fechadas para os Metrôs de Taipei e de Bucareste e das entregas dos carros para a Linha 6 da Acciona, além das previsões de aquisição de veículos para as Linhas 8 e 9 da CPTM e para a Linha 2 do Metrô de São Paulo. Outras oportunidades esperadas são o People Mover, que ligará a Linha 13 aos três terminais do Aeroporto de Guarulhos, o Trem InterCidades (TIC) São Paulo a Campinas e o VLT da W3 em Brasília.

 

         “Importante salientar a continuidade da luta de nosso setor por isonomia tributária entre trens nacionais e importados. Estados têm aplicado a imunidade tributária na importação, levando a uma concorrência injusta com o produto nacional, suprimindo empregos e renda no Brasil. Estão preterindo o produto nacional, com ampla base instalada, de melhor qualidade e mão de obra qualificada, em favor do estrangeiro, de pior qualidade e inexistência de assistência técnica e de materiais de reposição”, avalia Giavina.

 

        Na área de carga, a Rumo Malha Paulista assinou em maio deste ano o contrato para mais 30 anos de concessão e outras concessionárias caminham para ter seus aditivos aprovados e assinados. “Com isso, o volume de vagões deverá se elevar para 2.500 unidades em 2021 e as locomotivas para 61 unidades, sendo 4 para exportação”, informa Abate.

 

       O ano de 2020 poderá, ainda, tornar-se um divisor de águas para a indústria ferroviária nacional, com a prorrogação do REPORTO (aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, aguardando agora o Senado Federal) e a aprovação do PLS-261, que deverão garantir volumes maiores de veículos, componentes e materiais para via permanente, já a partir de 2021. “Confiamos também na aprovação de todas as renovações antecipadas e na expansão das ferrovias de carga e de passageiros. Com isso, a indústria ferroviária instalada no País voltará a crescer e a garantir empregos qualificados e renda aos trabalhadores brasileiros”, conclui Abate.    

 

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