A Ramboll Environ projetista e consultora de portos, com o apoio da
consultoria CPEA, e da Acciona, construtora e gestora global de obras de
infraestrutura, realizaram, nesta semana, o seminário “O
porto, a cidade de Santos e as adaptações climáticas: como enfrentar os
futuros desafios ambientais”. O evento reuniu especialistas nacionais e
internacionais de empresas e instituições comprometidas com a
sustentabilidade do planeta, a fim de discutir os impactos da
intensificação das alterações climáticas sobre os portos, seus negócios e
a sociedade.
“Decidimos realizar este encontro com o intuito de promover a
discussão de um tema que já integra o cotidiano dos profissionais e das
autoridades portuárias. As mudanças climáticas já são uma realidade”,
afirma Eugenio Singer, presidente da Ramboll Environ no Brasil. Em sua
avaliação é unânime a percepção da urgência de se conscientizar os
diferentes agentes do setor e da sociedade sobre a necessidade de
planejar agora as ações para os próximos 50 ou 100 anos, contemplando as
alterações que a natureza deve impor à economia, aos negócios e ao
estilo de vida das pessoas em um futuro que parece longe, mas está muito
próximo.
O especialista internacional Doug Daugherty, diretor sênior da
Ramboll Environ e representante dos EUA na PIANC (Associação Mundial de
Infraestrutura de Transportes Marítimos), explicou que são perceptíveis
modificações na geomorfologia de rios e mares, bem como o aumento das
temperaturas, com a consequente ampliação dos períodos de secas em
determinadas regiões globais. “Esta transformação do planeta precisa ser
avaliada e trabalhada pelos diferentes elos da economia. Os portos
estão certamente incluídos nisto, pois são a porta de entrada e saída do
mercado”, afirmou Daugherty.
Para Sérgio Pompeia, presidente da CPEA, o que se verifica em Santos,
por exemplo, é o aumento do nível do mar e a intensificação das
ressacas e das enchentes. “Diante disso, é preciso definir que obras e
demais medidas serão necessárias a curto, médio e longo prazo e
incorporá-las no planejamento urbano e de crescimento do Porto, de forma
a torná-las uma oportunidade de melhoria da cidade”, argumentou.
A professora do Instituto de Geociências da Unicamp, Lucí Hidalgo
Nunes, falou sobre projeções de aumento do nível do mar obtido por meio
de um modelo de estudo, que apontou que a elevação pode chegar a até 23
cm em 2050 e a aproximadamente 45 cm em 2100, causando prejuízos
relevantes à economia regional e nacional. "Santos abriga o maior e mais
importante porto do País. Por isso, qualquer impacto ambiental local
terá repercussões na economia nacional", ressaltou a pesquisadora.
Esses resultados são oriundos de uma pesquisa recente desenvolvida
por um grupo de pesquisadores de diversas instituições (CEMADEN,
UNICAMP, INPE, USP, Instituto Geológico e Prefeitura de Santos), que
envolveu, em uma de suas fases, formadores de opinião da sociedade
santista, com representantes de diferentes setores do setor público,
privado e ONG's. Eles revelaram preocupação a partir do quadro
demonstrado, e escolheram algumas medidas de adaptação à elevação do
nível do mar, como a ampliação artificial das áreas de areia e
construção de muros de retenção em determinadas áreas.
Em outros países, em contrapartida, inúmeros portos já se prepararam
para o impacto das mudanças climáticas. Doug Daugherty, da Ramboll
Environ, citou os portos de Los Angeles, San Diego, Long Beach e
Vancouver, como exemplos de portos que têm bons planejamentos e processo
de implantação sustentáveis, contemplando as alterações de clima em
suas respectivas regiões.
O conceito de “porto Inteligente” é outra iniciativa exemplar em
âmbito internacional no setor portuário. O especialista Bjarne
Mathiesen, diretor da Área de Transportes da Ramboll, explicou que o
porto inteligente é focado nos negócios e na sustentabilidade,
contribuindo para propiciar melhor qualidade de vida às comunidades e o
desenvolvimento econômico da região, sendo sustentável em todos os
aspectos.
“A gestão de portos caracteriza-se pela gestão de riqueza, ou
seja, geração e administração de negócios. É preciso ter a administração
da autoridade portuária, e também que o porto seja gerido para
incrementar negociações e ser lucrativo. Por isso, governança é
essencial e torna fundamental alinhar diferentes aspectos, como
crescimento, a previsibilidade das operações, impactos das mudanças
climáticas, a relevância para a economia e sociedade, a competitividade,
a organização e a estratégia, sempre dentro de uma cultura criativa”,
explicou.
Mathiesen listou ainda alguns mandamentos que devem ser seguidos por
todos os gestores de portos para tornar o negócio bem-sucedido. O
primeiro deles é monitorar a execução e atualizar o plano mestre com
frequência. O segundo é deixar sempre muito claro que o porto pode e
quer receber investimentos nacionais e internacionais. Em terceiro
lugar, é preciso tornar todas as áreas portuárias disponíveis úteis.
Para concluir as duas últimas recomendações são preservar os ativos e
divulgar constantemente seus planos para os principais stakeholders.
O advogado Ludovino Lopes, especialista em questões ambientais da
Ludovino Lopes Advogados, reforçou que as legislações sobre as questões
ambientais vêm evoluindo rapidamente. “Enquanto o Protocolo de Kyoto
levou sete anos para ser colocado em prática (1998 a 2006), o acordo de
Paris, no qual cada país estabeleceu seu próprio compromisso com a
sustentabilidade, saiu do papel em nove meses”, destacou Lopes.
Esta evolução das questões ambientais se comprova pelo fato de o
Brasil ter se comprometido a reduzir as emissões de CO2, por exemplo, em
37% até 2025, e em 43% até 2030, e já estar começando a impor metas
para os mais diversos setores. “No âmbito internacional, o setor aéreo
aprovou recentemente um modelo regulatório baseado em um mecanismo de
mercado de redução de emissões e esforço próprio em eficiência
energética e tecnológica, e o de portos deverá fazer o mesmo em breve,
porque representa de 2% a 3% das emissões de CO2 no mundo. Portanto, é
premente preparar planos de longo prazo, considerando os novos desafios
climáticos e de mercado; as diferentes legislações nacionais dos vários
países e as regionais”, ressaltou Lopes.
O advogado lembrou também que o
Brasil como pais e pelo menos 17 estados subnacionais brasileiros já
têm na pauta exigências relativas às mudanças climáticas, que em breve
chegarão ao setor de transportes e por consequência ao setor de
transporte marítimo. Tiago Cesar Benini, gerente de Segurança do Trabalho e
Sustentabilidade da Acciona, destacou a necessidade de planejar o futuro
do Brasil. “É fundamental pensar no longo prazo para tornar não só os
portos, mas as cidades, os estados e também o País mais sustentável em
termos econômicos, sociais e ambientais”, disse Benini.
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