As incertezas existentes no Brasil tornam "muito difícil" prever
quando o país sairá da recessão em que mergulhou em 2014, avaliou nesta
terça-feira (12), Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial
para a América Latina e o Caribe. Além disso, há o risco de a
turbulência política adiar a adoção de medidas fiscais que corrijam os
atuais desequilíbrios, o que forçaria o País a realizar ajustes muito
mais dolorosos no futuro.
Em seu relatório semestral sobre a região, a instituição estimou
que a economia brasileira terá contração de 3,5% neste ano, uma previsão
mais otimista que a do Fundo Monetário Internacional (FMI), que espera
queda de 3,8%. De la Torre defendeu a adoção de medidas econômicas que
reduzam a incerteza e levem à retomada dos investimentos.
"Se tivéssemos uma maneira simples de adivinhar em que momento
haverá uma recuperação dos investimentos no Brasil seria mais fácil
prever quando a recessão terminará", afirmou durante entrevista
coletiva.
O que é possível é a identificação dos fatores que detêm a expansão
dos investimentos, ponderou. "A taxa de juros do Brasil é muito alto
comparada com qualquer outro país do mundo. E isso reflete em parte a
percepção de que há riscos, que não se pode identificar perfeitamente,
mas que afetam o processo econômico."
A situação é complicada pela turbulência política, que agrava ainda
mais a percepção de incerteza. De la Torre observou que o processo
atual é necessário para que a democracia "se oxigene", mas tem efeitos
negativos sobre os investimentos no curto prazo.
Segundo o economista, a forte desaceleração do Brasil é sentida em
toda a região. Seu impacto mais direto é visto na queda no comércio com
os vizinhos do Cone Sul - Argentina, Uruguai e Paraguai. Mas De la Torre
ressaltou que há um efeito "psicológico", que ficou evidente na
retirada do grau de investimento do país pelas agências de classificação
de risco. "O Brasil é a maior economia da América Latina. Quando há
expectativas pessimistas sobre o país, isso projeta uma nuvem sobre toda
a região."
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