A presidente Dilma Rousseff admitiu nesta quarta-feira (13) em
entrevista a um grupo de jornalistas no Palácio do Planalto, que o país
vive a interação entre uma instabilidade política extremamente profunda,
que há 15 meses afeta o país, e a crise econômica. "Eu não digo que a
crise econômica derive integralmente da política, acho que ela é
intensificada, acho que ela é bastante piorada, agora, sobretudo eu acho
que a nossa capacidade de recuperação se mostrou limitada pela crise
política", afirmou a presidente.
Dilma repetiu o discurso de que a crise econômica é cíclica, que
primeiro atingiu os países desenvolvidos e depois as nações em
desenvolvimento. Para ela, ninguém pode subestimar o efeito da queda das
commodities sobre o conjunto da economia e o fato de que não houve uma
recuperação significativa da economia americana. "Mas tem
características próprias do Brasil. Eu não acredito que se deve
fundamentalmente à política anticíclica que nós adotamos a partir de
2009 as nossas mazelas econômicas. Acho que não".
A presidente avaliou que as ações do governo adiaram os efeitos da
crise, mas o que o Brasil ainda tem várias "disfunções" que precisam ser
superadas. "Acredito que tivemos um aprofundamento da crise derivado do
fato de que nós, ao fazer a política anticíclica, nós derrubamos
bastante a arrecadação do país", afirmou. "Nós tivemos um nível de
redução de impostos bem elevado", afirmou.
Entre as medidas citadas por ela para tentar mitigar e adiar os
efeitos da crise no país, as quais tiveram como resultado a queda na
arrecadação estão o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com
juros de 2,5% ao ano, a redução do imposto sobre bens de capital de 30%
para 4%. Essas medidas, para ela, seguraram o emprego "Se você for olhar
no meu período - sem contar o período do presidente Lula - de 2011 a
2014, críamos um pouco mais de 5,2 milhões de empregos. Se a gente for
olhar hoje o saldo, mesmo com 15 meses de profunda crise econômica, nós
perdemos em torno de 2,6 milhões empregos. Conseguimos manter um saldo
de 3 milhões e pouco (de empregos)".
A presidente avaliou ainda que a economia internacional começa a
dar sinais que vai diminuir o crescimento do lado dos emergentes e
processo que necessariamente terá de ser enfrentado pelo governo.
"Ninguém saiu de processo de crises sem enfrentá-las". Por outro lado,
segundo a presidente, o Brasil tem uma situação externa favorável, com a
projeção de US$ 40 bilhões de superávit na balança comercial feita pelo
Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, ante um
déficit de US$ 4 bilhões obtido em 2014. "Todos os países mais parecidos
conosco tiveram uma saída via aumento das exportações, substituição de
importação por insumos mais caros".
Dilma considerou que outro ponto de melhora na economia foi a queda
da inflação, mas relacionou a redução, bem como a alta no ano passado,
ao preço da energia elétrica. "Tivemos um ajuste de tarifas brutal,
tivemos bandeira vermelha e tivemos que botar todas as térmicas para
funcionar para não termos racionamento. Tem gente que acha isso errado.
Não, isso faz parte de qual é a estrutura do sistema e é um dos fatores
que pesa na inflação tanto para cima quanto para baixo".
Na entrevista, a presidente afirmou ainda que serão necessárias
reformas profundas para o país, mas admitiu que para isso é preciso
unidade. Ela criticou, por exemplo, as chamadas pautas-bomba votadas no
Congresso, consideradas por ela como "disfunções" e citou, entre elas, o
projeto de decreto legislativo (PDL) do deputado Espiridião Amin
(PSD-SC) que altera contabilização das dívidas dos Estados com a
aplicação de juros simples em vez dos juros compostos. Segundo a
Fazenda, a medida tem o potencial de gerar um rombo superior a R$ 300
bilhões aos cofres da União.
"Uma pauta-bomba (que) veio da Câmara (são) os juros simples.
Estamos brigando com ele (PDL), pergunta pro Nelson Barbosa, desde o
primeiro dia de 2016. O deputado Espiridião Amin fez esse projeto
terrível". Para Dilma, mais que os R$ 300 bilhões de perdas potenciais
de receita, o problema maior é a paralisia que pauta-bomba como essa
causa. "Nós termos que ir sistematicamente ao Congresso dizer: não façam
isso, não podem fazer isso, isso é um absurdo para o país", disse.
"Pauta-bomba é aquela pauta que a pessoa, ou o conjunto, acha que é
possível sair de uma situação difícil colocando fogo em todo o restante"
Dilma lembrou que no ano passado ao menos cinco grandes
pautas-bomba com R$ 140 bilhões de perdas para o governo tramitaram no
Congresso. "Nós tivemos esse processo durante 15 meses, desde a minha
eleição e não preciso comprovar, basta que vocês leiam o que vocês
mesmos escreveram", afirmou.
A presidente considerou também que é difícil supor que alguém
reestruture a política no país sem uma reforma no setor. Dilma criticou o
crescimento no número de partidos, o que torna difícil um acordo de
governabilidade, e lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) conseguiu a maioria no parlamento com apenas três partidos e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também necessitou de um
grupo menor de legendas. "No início do meu segundo mandato, nós temos 26
ou 27 partidos, com partidos que não têm representação congressual e
ainda o nível de unidade é diferenciada, com várias tendências de um
único partido".
Dilma criticou novamente o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por aceitar o processo de
impeachment que tramita contra ela. Para a presidente, Cunha é um dos
grandes responsáveis pelas pautas-bomba e pela não votação de reformas
necessárias no Congresso.
Para Dilma, processo de impeachment marcará profundamente a
história do presidencialismo no Brasil. Como fez ontem, a presidente
voltou a criticar na entrevista Cunha e Temer, sem citá-los
nominalmente, classificando os políticos como chefe e vice-chefe do
golpe, agindo ocultamente.
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