Os maiores bancos da China, diante de um quadro de desaceleração no crescimento econômico do país, têm reduzido a quantidade de dinheiro
que deixam como reserva para cobrir empréstimos inadimplentes. A
estratégia, porém, representa novos riscos para as instituições.
O lucro divulgado pelos maiores bancos nesta semana para o primeiro
trimestre mostrou uma leve alta na comparação com igual período do ano
passado. Mais liquidez do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em
inglês) e uma recuperação impulsionada por estímulos encorajaram bancos a
realizar mais empréstimos.
O Industrial & Commercial Bank of China afirmou nesta
quinta-feira que seu lucro aumentou 0,6% no primeiro trimestre, na
comparação com igual período do ano passado, para cerca de 74,8 bilhões
de yuans (US$ 11,5 bilhões). Mais cedo nesta semana, o Bank of China
afirmou que teve um aumento de 1,7% em seu lucro, uma reação, ainda que
modesta, para um banco que no terceiro trimestre do ano passado teve
queda de 1,5% no lucro, seu primeiro declínio em cinco anos.
Os bancos continuaram a reduzir o montante de suas reservas para
lidar com os empréstimos inadimplentes, como têm feito nos últimos anos.
Mas pela primeira vez o nível recuou para abaixo do mínimo de 150% do
montante de empréstimos inadimplentes que o governo exige que os bancos
mantenham para salvaguardar sua capacidade de lidar com perdas.
O ICBC, maior banco do mundo em ativos, informou em relatório que sua
taxa desse colchão ficou em 141%. O Bank of China, quarto do país, disse
que reduziu essa provisão para 149% no primeiro trimestre, de 153% no
fim de 2015. A Comissão Regulatória Bancária da China não emitiu uma
diretriz sobre o assunto nem respondeu aos pedidos de entrevista. Os
bancos têm feito lobby com reguladores há meses para reduzir esse
montante exigido, a fim de liberar mais caixa e elevar os lucros.
O Bank of China disse em e-mail que reduziu o montante porque está
acelerando a execução de empréstimos inadimplentes. Qualquer aparente
afrouxamento nessa política, segundo analistas, parece algo pontual. O
China Merchants Bank Corp., sexto maior banco do país, disse que sua
taxa de cobertura estava em 183,3% no primeiro trimestre, acima dos 179%
do fim de 2015.
Um relaxamento na exigência de dinheiro guardado para lidar com
empréstimos inadimplentes poderia ser um impulso para os lucros dos
maiores bancos. "Isso ajudaria a lucratividade no curto prazo", disse
Jonas Short, analista do banco de investimentos North Square Blue Oak.
"No longo prazo, porém, isso realmente cria um risco sistêmico, porque
cria um risco moral", acredita.
O PBoC acrescentou 6,6 trilhões de yuans em crédito para o sistema
financeiro no primeiro trimestre. Analistas dizem que o banco central
busca um equilíbrio entre fornecer liquidez suficiente para impulsionar
os empréstimos, sem fazer com que os empréstimos cresçam em um ritmo
demasiado rápido.
Segundo o analista sênior Wei Hou, da Bernstein
Research, os maiores bancos estatais responderam à política com
crescimento contido nos empréstimos. "Eles estão se mostrando mais
cautelosos e seletivos nos empréstimos a clientes, especialmente em seu
negócio bancário corporativo", disse ele. (imagem: Centro Financeiro de Xangai)
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