As companhias aéreas sentiram a
sua capacidade financeira refreada com o dólar alto e a crise econômica do país porque a maior parte
de suas atividades e insumos são atrelados à moeda estrangeira.
Diante da situação difícil do mercado, a Secretaria da Aviação Civil
(SAC) voltou a discutir com os Ministérios da Fazenda e do Planejamento a
possibilidade de abertura irrestrita ao capital estrangeiro, de acordo
com artigo publicado no Estadão Conteúdo, com base em entrevista com uma
autoridade do segmento.
A iniciativa não é inédita e tampouco recente: nos últimos anos, já
houve algumas tentativas por parte do governo Brasileiro de estabelecer
Medidas Provisórias para criar a autorização que permitisse a entrada de
investimentos externos na aviação nacional. Uma delas foi a medida 527
de março de 2011, na qual o Ministério da Defesa transferia as
competências do setor para a Secretaria da Aviação Civil, conferindo-lhe
a autonomia para movimentar as dotações de transferências dos órgãos.
Apesar da ação estabelecer de fato a SAC como órgão regulador do setor
aéreo desde 2011, as discussões acerca da porcentagem de participação
estrangeira nas companhias não têm chegado a conclusão alguma na
Comissão de Reforma do Código Brasileiro da Aeronáutica (CBA).
Em setembro de 2015, dois projetos de lei do Senado sobre o assunto (PLS
2 e 330) foram retirados da pauta de votações da Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Na época, o senador Jader
Barbalho, autor dos projetos, justificava a iniciativa: “O que ocorre
hoje é o monopólio de duas empresas que se apresentam como nacionais,
uma delas já entregue a uma empresa do Chile, e o passageiro é quem
sofre com isso”.
Atualmente, a legislação brasileira limita a participação do capital
estrangeiro nas companhias aéreas em apenas 20%, uma estratégia
estabelecida na época da ditadura brasileira e que ainda tem cunho
protecionista e nacionalista. O Código Brasileiro do Ar foi criado em
1966 pelo Decreto Lei No. 32, e substituído em 1986 pelo Código
Brasileiro de Aeronáutica, Lei No. 7.565/86, determinando como função da
União a competência pela exploração dos serviços de navegação aérea,
com autorizações para concessão por terceiros.
Do ponto de vista do
governo, as empresas de transporte internacional funcionam como
instrumento de inserção do mercado nacional e da bandeira brasileira em
diversos continentes. Durante o regime militar, com maior intervenção no
mercado, acompanhada de burocracia e falta de transparência, o Estado
buscou estimular a concentração de empresas, exercer o controle de
entrada e de definição de linhas, enquanto estabelecia um regime de
tarifas pouco competitivo, visando à proteção da indústria e abolindo a
concorrência, o que gerou ineficiência entre as empresas que operantes.
Nenhuma decisão ainda pode ser considerada final, uma vez que ainda não
se chegou a consenso algum a respeito da porcentagem a ser estipulada e
tampouco uma regra internacional. Basicamente, os parâmetros
internacionais da aviação civil foram estabelecidos na Convenção de
Chicago, em 1944. Cada país possui uma política diferente, com base em
acordos bilaterais e regulada pelas devidas competências nacionais. Hoje
em dia, os Estados Unidos operam com uma limitação de 25% de
participação estrangeira sobre companhias aéreas, enquanto a Europa,
mantém o teto em 49%.
Na fila da regulamentação sobre fusões e alianças, a Delta Air Lines já
vem manifestando interesse em comprar a Gol há alguns meses. Em julho de
2015, o Cade (Conselho de Defesa Econômica) aprovou uma operação na
qual a companhia norte-americana aumentaria a sua participação sobre a
brasileira Gol Linhas Aéreas, com a avaliação de que a participação de
mercado das duas empresas em rotas internacionais não geraria
preocupações de concorrência.
Ainda em 2015, a companhia Azul também recebeu aporte da chinesa HNA
Group, que se tornou acionista de 23,7% da empresa, logo após a United
Airlines reservar também para si uma parcela de 5% da companhia
brasileira. David Neeleman, presidente da Azul, que vencera a opção de
compra da portuguesa TAP, que as fusões viriam para ajudar a companhia a
ganhar capilaridade.
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