sexta-feira, 19 de março de 2021

Despachantes aduaneiros gaúchos investem no virtual para manter qualidade no atendimento ao mercado

           O céu claro de verão costuma ser prenúncio de intenso movimento de pessoas e ruas em Rio Grande, cidade que abriga o único terminal portuário marítimo no extremo sul do país. O cenário neste mês de março, contudo, apresenta ruas vazias, por causa da pandemia provocada pela Covid-19. O despachante aduaneiro Sandro Araújo é testemunha desta mudança. “Antes eu perdia no mínimo duas horas entre acordar mais cedo e o deslocamento para o trabalho”, recorda. “Agora, tomo café com a família, dou comida para os cães e em pouco tempo já estou trabalhando, em home office”, calcula ele, que atua na Atlântico Logística e também é professor universitário.

          A partir da nova rotina, Araújo conta que reduziu as saídas à rua e o número de visitas a clientes. “Mantenho uma rotina completamente diferente desde que adotamos o trabalho virtual, tudo ficou mais leve, a produtividade aumentou, consigo pensar no negócio, tenho mais tempo para ler, estudar e, melhor de tudo, ganhar mais”, comemora, frisando que no início da pandemia houve uma queda nos negócios. Entre as alterações significativas, ele cita que o Tecon Rio Grande, onde ia quase todos os dias, passou a aceitar a documentação das operações de exportação e importação por e-mail, facilitando o trabalho, dispensando a necessidade de um funcionário lá e poupando uma viagem de cerca de 13 quilômetros, em meio a um trânsito congestionado. 

          A conjuntura surgida com a crise sanitária também mexeu com Alexandre Rodrigues da Silva, da Twin Consultoria Aduaneira e Tributária, baseada em Porto Alegre. “A pandemia forjou um novo formato de trabalho e com ele muito aprendizado. Atuo em comércio exterior há mais de trinta anos e passei por toda a evolução tecnológica dos últimos anos, mas, hoje, atuando na área de negócios da empresa, pensar em prospecção de clientes  a distância, que parecia um marco difícil de se alcançar, virou realidade, os novos tempos chegaram”, afirmou o despachante aduaneiro.

          Segundo Silva, o desafio maior está na impossibilidade  de visitas presenciais, que sempre foi o modelo praticado. “Esbarramos na dificuldade de acesso a novos contatos, pois as pessoas estão em home office, uma novidade porque minha rotina envolvia viagens, reuniões externas e alguma atuação virtual”, destacou.  Adaptado à nova realidade, ele considera o modelo interessante, porque reduz custos e otimiza o tempo. “ Sou daqueles que defende que o formato deveria se perpetuar”, diz. Além disso, conta que mantém “um escritório e toda estrutura necessária em casa, e ferramentas e sistemas desenvolvidos pela empresa que permitem trabalhar de qualquer parte do mundo”.

          Mesmo nas vezes em que precisa ir até a sede da Twin, Silva garante que fica tranquilo. “Seguimos rigorosamente os protocolos de segurança, utilizamos apenas o percentual permitido de colaboradores, exigimos os cuidados recomendados, como uso de máscaras em tempo integral e o de álcool  gel com frequência. A equipe mantém um rodízio e àqueles que não são do grupo de risco intercalam a atuação presencial com o home office,”explica.

          O despachante aduaneiro Bruno Klein Hartz, diretor comercial da Maxima Sul, sediada em Novo Hamburgo, relata que na sua empresa igualmente as operações se mantiveram em um nível satisfatório, apesar da pandemia, “inclusive com algum incremento em determinados meses”. Quanto à rotina de trabalho, ele diz que a empresa já investia constantemente em melhorias tecnológicas, precisando apenas fazer alguns poucos ajustes. “Migramos algumas tarefas em definitivo para o digital , transferimos parte do pessoal para o home office e restruturamos nosso espaço físico para dar segurança às visitas a clientes”, ressalva.

          Mas Hartz salienta que a área comercial foi a mais afetada. “As conversas frente a frente tornaram-se quase nulas e, por mais que existam bons recursos de vídeo conferência, acaba não sendo a mesma coisa”, compara. “Minha expectativa é que, para os próximos anos, seja implementado um modelo misto entre o home office e o trabalho in loco”, observa. “Existe pontos positivos e negativos, é necessário encontrar um equilíbrio”, adverte ele.

          O Sdaergs (Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Rio Grande do Sul) também vem sendo sensível à nova conjuntura gerada pela pandemia e que afeta o trabalho dos seus associados. “O Sindicato tem contribuídos satisfatoriamente diante das demandas que surgem”, elogia Alexandre Rodrigues da Silva. Célia Araújo, da Delegacia da entidade, em Novo Hamburgo, revela que devido à crise sanitária “têm ocorrido oscilações na emissão de certificados de origem, que atinge principalmente os despachantes aduaneiros que mantém um mix menor de clientes”. Ela diz que a o Sindicato age no sentido de ajudar seus associados a contornar o problema. Arnildo Netinho Hermann, da Sala do Sdaergs no Teca (Terminal de Cargas Aéreas) do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, avalia que “a bandeira preta provocou uma decaída nas operações no terminal”, mas garante que os serviços vêm se mantendo nos horários normais. Bruno Hartz, usuário eventual do Teca, confirma que “as liberações têm, de fato, fluído bem.”  

 

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