O vice-presidente Michel Temer cancelou sua
viagem a Portugal por causa da oferta de cargos no governo, deflagrada para dividir a base aliada no Congresso. Ele quer garantir uma vitória expressiva na reunião
do diretório nacional do PMDB, marcada para terça-feira, em que deve ser
oficializado o rompimento do partido com a presidente Dilma Rousseff,
passo considerado fundamental para o impeachment da petista.
Com Temer envolvido diretamente nos bastidores da articulação, o
PMDB do Rio de Janeiro já anunciou ontem que irá votar pelo desembarque
do governo. Os peemedebistas fluminenses sempre foram considerados
estratégicos para o jogo do impeachment no Congresso. O Planalto deu
mostras, contudo, que usará o poder que ainda tem para atrapalhar os
planos de Temer. A edição do Diário Oficial de ontem trouxe a demissão
do presidente da Fundação Nacional de Saúde, Antonio Henrique Pires, que
é ligado ao grupo do vice-presidente.
A troca deixou claro que o Planalto resolveu abrir mão de negociar
com os partidos para atender diretamente às demandas dos deputados,
provocando uma série de divisões em todas as bancadas. O foco do governo
é o universo de 172 votos, número mínimo necessário para impedir o
impeachment.
O Planalto decidiu apostar na
oferta de cargos em primeiro e segundo escalão com dois objetivos
iniciais: diminuir o impacto do provável rompimento do PMDB e evitar que
esse episódio contamine o restante dos partidos da base de sustentação
no Congresso.
"Qualquer voto que eles conseguirem no PMDB é lucro", disse o
deputado Lúcio Vieira Lima (BA), integrante da ala a favor do
impeachment. "Para nós, é importante aprovar o desembarque do partido
para mostrar nossa força", completou.
O governo Dilma conta com a ajuda dos atuais sete ministros do PMDB, que
ocupam as pastas de Minas e Energia, Saúde, Agricultura, Ciência e
Tecnologia, Turismo, Aviação Civil e Portos. Por ora, nenhum deles
deseja sair do cargo.
Em reunião com a presidente, eles apresentaram o
quadro atual da disputa dentro do partido e comprometeram-se a não
facilitar o rompimento liderado pelo vice-presidente. Mesmo durante o
feriado, o grupo de ministros deverá realizar ligações para integrantes
dos respectivos diretórios estaduais, no intuito de assegurar votos
contra a debandada.
Diante das investidas da cúpula do governo, Michel Temer decidiu na
manhã de ontem não viajar para Portugal. Em Lisboa, o vice-presidente
participaria de um evento promovido pelo instituto de ensino jurídicos
ligado ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar de ter cancelado a viagem, Temer não confirmou sua presença
na reunião do diretório na terça-feira. Ele prefere não presidir o
encontro que deve beneficiá-lo. A direção dos trabalhos caberia ao
primeiro vice-presidente do partido, senador Romero Jucá (PMDB-RR),
favorável ao impeachment.
No Brasil, Temer irá atuar nos bastidores para garantir uma vitória
expressiva na reunião do diretório. O grupo do vice acredita que pode
conseguir 75% de apoio a favor do rompimento. O diretório é integrado
por 119 membros, das 27 unidades da federação. No evento em Portugal,
está prevista a participação de lideranças de oposição como o presidente
nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o senador José Serra
(SP).
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