As companhias de navegação Hamburg Süd e Aliança Navegação, respectivamente líderes
no transporte internacional com o Brasil e de cabotagem, entendem que a
contenção de gastos é o primeiro objetivo a ser perseguido após a definição do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tramita no Congresso uma proposta de
emenda constitucional para instituir um teto de gastos por 20 anos,
enviada pelo governo interino.
"É a base para o retorno do otimismo sustentável. Precisa mostrar que
é para valer", diz o diretor-superintendente de ambas as empresas,
Julian Thomas. Setorialmente, a indústria da navegação pede a retomada do programa
de dragagem, que o setor compara em relevância para a viabilidade dos
portos ao que é a coleta de lixo para uma cidade: um serviço que precisa
ser constante.
Os governos do PT lançaram um robusto programa de dragagem para os
principais portos públicos, dividido em duas etapas. Mas, em alguns
casos, houve falhas de projetos, obras mal executadas e dificuldade nas
homologações das novas profundidades. Além de licitações judicializadas,
o que atrasou a contratação e o respectivo início do serviço.
Para Thomas, se o Estado não consegue dragar e alargar os portos, é
preciso considerar a participação da iniciativa privada. O Ministério
dos Transportes estuda alternativas. "Buscamos meios para que a
inciativa privada, de alguma forma, assuma essa responsabilidade", disse.
Em 2015 a presidente afastada Dilma Rousseff iniciou discussões para
conceder os canais de navegação dos portos públicos à iniciativa
privada, mas não houve interesse. Para o mercado, de nada adiantaria
privatizar os canais sem uma solução sobre o futuro das autoridades
portuárias - empresas públicas que administram os portos e cobram dos
terminais, entre outros, tarifas pela utilização da infraestrutura
aquaviária.
O problema é que privatizar essas empresas não é tão simples quanto
pode parecer. Devido a uma omissão no passado na dissolução da Portobrás
(a antiga holding dos portos), as companhias docas não têm a outorga de
exploração dos portos. E, como são companhias de capital misto, a União
não pode simplesmente dar a concessão, é obrigada a licitar a outorga.
Contudo, com passivos históricos milionários e, após a Lei dos Portos
(de 2013), esvaziadas de poder devido à volta da centralização das
decisões portuárias em Brasília, as companhias docas não despertam o
interesse do mercado. Seria necessário primeiro reestruturá-las para que
depois, eventualmente, sejam licitadas.
Sem dragagem constante, os portos que mais assoreiam, como o de
Santos (SP), têm de reduzir o calado operacional, uma restrição aos
navios maiores. Neste ano, devido a intervalos na realização dos
serviços, o maior porto da Costa Leste da América do Sul teve duas
reduções do calado operacional - uma de 0,90 metro na bacia de evolução
do terminal da BTP e outra de 0,50 metro nos trechos 3 e 4 do canal de
navegação. Cada centímetro é precioso na capacidade de carregamento de
um navio. "Toda vez que isso ocorre é um passo para trás", disse João
Momesso, diretor de trade e marketing da Maersk Line para a região da
Costa Leste da América do Sul.
A Codesp, estatal que administra o porto de Santos, disse que
trabalha desde junho para recuperar o calado. A estatal assumiu a
contratação de "dragagens tampão" enquanto não começa o serviço
contratado pelo governo para dragar o porto de forma completa.
Os armadores pedem também investimento no sistema de gestão de
tráfego de embarcações, o chamado VTMS, na sigla em inglês, considerado
essencial para melhorar a navegabilidade e que chegou a ser anunciado
pelo governo Dilma, mas não andou.
"São projetos que precisam estar no PPI [Programa de Parcerias de Investimentos]", diz Thomas.
Outro consenso é a retomada das licitações portuárias. A Aliança,
sócia no terminal portuário de uso privado Porto Itapoá (SC), tem
interesse em disputar o arrendamento de um terminal para movimentação de
contêineres no Nordeste.
"Há muito se fala nas concessões de portos", afirma Momesso, mas
quase nada saiu. "Onde existe competição, o custo diminui. O porto de
Santos é a prova disso", diz, referindo-se ao número de terminais que
operam contêineres.
Para a Maersk Line, o governo precisa ainda ampliar os tratados
comerciais e baratear a infraestrutura. "O país precisa arranjar uma
maneira de nossas exportações chegarem mais baratas nos consumidores",
diz o executivo.
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