O secretário de Comércio da Argentina, Miguel Braun, defendeu nesta
terça (23) em Washington mudanças no processo decisório do Mercosul
para destravar negociações de tratados comerciais com outros países e
blocos econômicos. Ele afirmou, ainda, que um acordo de livre comércio com o Brasil no
setor automotivo "é um dos instrumentos" que estão em sendo discutidos
entre os dois países, mas não indicou um prazo para sua implementação.
Primeiro alto funcionário argentino a visitar os Estados Unidos
desde a posse do presidente Mauricio Macri, em dezembro, Braun buscou
projetar uma imagem de abertura de seu país, enfatizando o contraste com
o governo da antecessora, Cristina Kirchner. "Depois de uma década de populismo, o estado do Estado é
calamitoso", desabafou, durante apresentação no centro de estudos Atlantic
Council. Ele disse que os ajustes para o novo modelo serão graduais e o
objetivo é firmar parcerias estratégicas. "A Argentina está novamente
aberta aos negócios".
Nesse sentido, expressou um forte apoio da Argentina à negociação
de acordos comerciais entre o Mercosul e outros países e regiões. Citou
como exemplos o Canadá, a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México,
Peru e Costa Rica) e a Parceria Transpacífico, tratado de livre comércio
firmado em outubro do ano passado entre Estados Unidos e outros 11
países.
No horizonte mais curto, o presidente Mauricio Macri destacou em
entrevista nesta semana que o tratado de livre comércio entre Mercosul e
União Europeia, que começou a ser negociado há mais de 15 anos, poderá
ser assinado em até 30 dias, após avanços na parte agrícola. Para Braun,
uma conjunção de interesses no bloco abriu "uma janela de oportunidade
histórica" para os membros do Mercosul.
"É a primeira vez desde a sua criação que todos os quatro países
fundadores realmente querem olhar para o mundo e se engajar de forma
construtiva, por diferentes motivos. O Brasil hoje tem uma indústria
muito competitiva, quer sair e fazer novos acordos de comércio", disse.
"Concordamos com nossos parceiros brasileiros em que este é o momento de
irmos juntos ao mundo."
Braun não citou em nenhum momento a Venezuela, que o presidente
Macri defendeu suspender do Mercosul por supostamente violar a "cláusula
democrática". Mas ressaltou que é necessária uma reforma institucional
do bloco sul-americano para facilitar sua integração ao comércio global.
"Há uma oportunidade de rediscutir algumas das instituições que
impediram a integração do Mercosul com o mundo, e uma delas é que tudo
deve ser aprovado por consenso", disse Braun. "Mas consenso não
significa necessariamente unanimidade e essa é uma das áreas que
precisamos discutir com nossos parceiros."
Apesar do discurso em defesa da abertura comercial, Braun foi
cauteloso ao falar sobre o acordo automotivo com o Brasil. A Argentina
resiste à proposta brasileira de livre-comércio de veículos e autopeças
entre os dois países, temendo perdas devido à perda de competitividade
sofrida com a desvalorização da moeda brasileira.
"Vamos trabalhar juntos para que o setor automotivo nos dois países
cresça. O objetivo é que a produção aumente", disse Braun à reportagem.
Ele acrescentou que o acordo de livre comércio "é um dos instrumentos
que estão em discussão, mas ainda não se chegou a um acordo".
Os dois governos anunciaram na semana passada que um acordo de
livre comércio para o setor automotivo é um plano "de longo prazo", após
encontro em Buenos Aires na semana passada entre os ministros Armando
Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), pelo Brasil, e
Francisco Cabrera (Produção), pela Argentina. Com isso, frustrou-se a expectativa do Brasil de implementar o
livre comércio em substituição ao acordo automotivo de isenção de
impostos, que vence no dia 30 de junho.
Ao exaltar a abundância de recursos energéticos na Argentina, tanto
fósseis como renováveis, Braun citou o Brasil. "Há essa velha piada que
as pessoas geralmente associam ao Brasil, mas que se aplica à Argentina
também. O Brasil é o país do futuro e sempre será. A Argentina tem esse
grande potencial e sempre terá, a menos que nós façamos algo a
respeito", comparou Braun.
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