terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Desempenho do Polo industrial de Manaus em 2015 é um dos piores da história
O Polo Industrial de Manaus (PIM) fechou 2015 com um dos piores desempenhos da história em um ano de queda acentuada para a indústria nacional. Voltada para o consumo doméstico, a indústria local registrou queda do faturamento de pelo menos 30% no ano, calcularam a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), a Federação e o Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam e Cieam).
A projeção para 2016 também não é das melhores, com nova queda em cima da retração do ano passado, prevê Wilson Périco, presidente do Cieam.
Os dois principais sustentáculos do PIM, o polo de duas rodas e as montadoras de eletrônicos tiveram forte queda. A venda de motocicletas foi afetada pela falta de crédito. O segmento vinha crescendo como alternativa de transporte pessoal e também de renda. Segundo Périco, muitos dos compradores dos últimos anos destinavam as motos de baixa cilindrada para serviços de motoboy e mototáxi.
O Cieam estima queda de 25% no faturamento das indústrias de motocicletas em 2015, depois do recuo de 10,2% na receita em dólar de 2014, enquanto os produtores de eletrônicos podem ter encerrado o ano com retração de 30% a 32% sobre um exercício sem crescimento em 2014 - apesar da Copa do Mundo, que tradicionalmente impulsiona as vendas, em especial de televisores.
"Para o Amazonas, o ano foi difícil, porque o mercado consumidor dos produtos da Zona Franca é interno", comenta Rebecca Garcia, superintendente da Suframa, cargo que ocupa há apenas dois meses. Economista, Rebecca afirma que além da queda do consumo e da falta de crédito, a valorização do dólar (cerca de 50% ao longo do ano) também afetou a oferta de insumos para a produção de motocicletas.
Rebecca quer propor ao Ministério do Desenvolvimento algumas mudanças no modelo da Zona Franca. A principal delas requer o empenho da diplomacia comercial a fim de fechar acordos com países vizinhos, em especial da América Andina a fim de expandir as exportações da ZFM. Hoje as vendas externas estão restritas a alguns poucos negócios com Argentina, Venezuela e Colômbia, basicamente.
O alvo principal de Rebecca é o mercado peruano. Um dos líderes de crescimento econômico na América Latina em 2015 - expansão de 3,5%, conforme projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) -, o Peru pode absorver parte da produção, se forem derrubados entraves burocráticos e tarifários que retiram a competitividade da indústria brasileira, principalmente em relação aos produtos chineses. Um dos objetivos é transformar o Brasil em fornecedor de componentes para a indústria peruana de motocicletas.
O governo do Amazonas já realiza estudos e pretende fazer gestões para uma ligação aérea direta entre Manaus e a capital peruana, Lima. Hoje, para voar entre as duas cidades, é preciso ir para São Paulo ou para o Panamá, mas a viagem exige pelo menos um pernoite na conexão.
A parceria com os andinos poderia viabilizar também uma solução logística. Atualmente, o escoamento da produção está limitado ao aeroporto de Manaus (usado nas cargas de baixo volume e alto valor, como celulares) e à hidrovia Solimões-Amazonas. Única ligação por terra da capital do Amazonas com o centro-sul do país, a BR-319 (Manaus-Porto Velho) encontra-se em condições precárias de tráfego, com parte da estrada tomada pela floresta. O governo federal e os Estados do Norte sonham com uma ligação por terra, de preferência ferroviária, com o Pacífico. São muitas as propostas, sem nada de concreto até agora.
O especialista em logística Augusto Rocha, doutor em engenharia de transportes e professor da Universidade Federal do Estado do Amazonas (Ufam), não crê em saída para o problema de logística no curto ou médio prazos: "Não vejo a Suframa com orçamento ou projeto para estabelecer uma solução para essa questão". Rocha diz esperar que "a boa vontade da nova superintendente consiga liderar uma mudança de postura das demais áreas do Executivo, que não parece ter esta pauta com qualquer grau de prioridade".
Para ele, o cenário de contração da economia torna a atividade uma questão mais premente que a deficiência logística. O problema, porém, é que a crise local é "mais severa que no restante do Brasil".
Rocha entende que o acesso ao exterior é benéfico, mas os países vizinhos têm mercados consumidores limitados. Ele acha mais importante mudar o modelo para explorar outras alternativas.
"A maior oportunidade ainda não explorada é a biotecnologia. Como nunca começa, cada dia fica mais distante, pois os ciclos de desenvolvimento e de aprovação para comercialização são cada dia maiores," criticou. A superintendente da Suframa defende, ainda sem um projeto específico, o desenvolvimento do setor de fármacos via parcerias internacionais, em especial com chineses.
Nos planos de Rebecca estão também abrir a exploração de atividades como o turismo regional, exploração de madeira - hoje vetada no Estado - e a criação de um polo naval destinado a produzir balsas para as hidrovias da região.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário