Governo e representantes de caminhoneiros chegaram a um acordo na noite desta quinta-feira, 24, e a
paralisação será suspensa por 15 dias. Em troca, a Petrobras mantém a
redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 30 dias enquanto o
governo costura formas de reduzir os preços. A Petrobras mantém o
compromisso de custear esse desconto, estimado em R$ 350 milhões, nos
primeiros 15 dias. Os próximos 15 dias serão patrocinados pela União.
O governo também prometeu uma previsibilidade mensal nos preços do
diesel até o final do ano sem mexer na política de preços da Petrobras e
irá subsidiar a diferença do preço em relação aos valores estipulados
pela estatal a cada mês. “Nos momentos em que o preço do diesel na
refinaria cair e ficar abaixo do fixado, a Petrobras passa a ter um
crédito que vai reduzindo o custo do Tesouro”, disse o ministro da
Fazenda, Eduardo Guardia.
O governo também se comprometeu a zerar a Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico (Cide) para o diesel até o fim do ano e negociará
com os estados buscando o fim da cobrança de pedágio para caminhões que
trafegam vazios, com eixo suspenso. “Chegou a hora de olhar para as
pessoas que estão sem alimentos ou medicamentos. O Brasil é um país
rodoviário. A família brasileira depende do transporte rodoviário.
Celebramos esse acordo, correspondendo a essas solicitações, dizendo
humildemente aos caminhoneiros que precisamos de vocês”, disse o
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Para cumprir a proposta de previsibilidade mensal nos preços do
diesel até o final do ano, o governo precisará negociar com o
Congresso em relação ao projeto aprovado ontem na Câmara que zera
o PIS/Cofins para o diesel. A ideia que foi apresentada hoje é que o
tributo não fosse zerado, mas usado para compensar a Petrobras em tempos
de alta no valor do barril do petróleo e manter os preços estáveis.
Quanto ao ICMS, que já tem projeto para sua alteração tramitando no
Senado, o governo também precisaria negociar com os governadores, pois
se trata de um imposto estadual. Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo
Guardia, a discussão será sobre alterar o cálculo desse imposto, que
varia de acordo com o preço do combustível. Ou seja, se o diesel
aumenta, o ICMS também aumenta.
“PIS/Cofins e Cide é um valor fixo por litro. Como um dos problemas é
a previsibilidade em função da política de preços, vamos conversar com
os governos estaduais para discutir uma sistemática de cálculo do ICMS
semelhante ao PIS/Cofins, ou seja, com uma base fixa”, disse Guardia.
O ministro da Fazenda explicou que mesmo que o governo ajude na
previsibilidade mensal dos preços, eles ainda poderão variar para cima
ou para baixo. Os novos preços serão calculados mês a mês segundo o
mercado. “Nós não estamos dizendo que não haverá aumento de preço. Vamos
reajustar o preço nos termos da política, calcular um novo preço médio,
fixo, que ficará pelos próximos 30 dias. Se ao final de 30 dias a
política determinar que haverá queda ou aumento de preço, haverá. Vai
depender do custo dessa política e a disponibilidade orçamentária ao
longo do tempo para gente ir calibrando”.
A decisão de suspender a paralisação, porém, não é unânime. Das onze
entidades do setor de transporte, em sua maioria caminhoneiros, que
participaram do encontro, uma delas, a Associação Brasileira dos
Caminhoneiros (Abcam), que representa 700 mil caminhoneiros, recusou a proposta.
O presidente da associação, José Fonseca Lopes, deixou a reunião no
meio da tarde e disse que continuará parado. “Todo mundo acatou a
posição que pediram, mas eu não. [...] vim resolver o problema do PIS,
do Cofins e da Cide, que tá embutido no preço do combustível”, disse
Lopes.
Os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de
Governo), Valter Casimiro (Transportes), além do ministro do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, se sentaram
à mesa com representantes dos caminhoneiros decididos a ter um respiro
na paralisação, que afeta distribuição de produtos em todo o país. Os
ministros entendem que o governo e a Petrobras têm mostrado iniciativa
suficiente.
Os representantes dos caminhoneiros pedem o fim da carga tributária
sobre o óleo diesel. Eles contam com a aprovação, no Senado, da isenção
da cobrança do PIS/Pasep e da Cofins incidente sobre o diesel até o fim
do ano. A matéria foi aprovada ontem
pela Câmara e segue agora para o Senado. Caso seja aprovava, a isenção
desses impostos precisará ser sancionada pelo presidente da República.
Ontem foi o quarto dia de paralisação dos caminhoneiros. Em vários
estados, foi registrada falta de alimentos e combustível. Em Brasília,
postos fecharam porque o estoque de combustível zerou. Filas de dezenas
de carros se formaram nos postos que ainda têm gasolina em seus
estoques.
Em São Paulo, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de
Derivados de Petróleo do estado, José Alberto Paiva Gouveia, informou
que, desde o início dessa quarta-feira (23), os postos de abastecimento
do estado não receberam combustível e há estoque para operar só por até
três dias.
No Rio de Janeiro, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de
Combustíveis do Município (Sindcomb), ao menos metade dos postos da
capital estará, nesta quinta-feira, sem algum dos três combustíveis:
gasolina, diesel ou etanol. Também começa a faltar gás de cozinha na
cidade, pois os caminhões trazendo botijões ficaram retidos nos pontos
de mobilização nas rodovias, o que praticamente zerou o estoque dos
distribuidores do produto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário