A crise na Argentina pode levar à redução das exportações brasileiras
de carros e peças para o país vizinho, segundo avaliação de
especialistas. Atualmente, a participação da Argentina nas exportações
brasileiras é de cerca de 8% e a maior parte é do setor de veículos. De
janeiro a abril, as exportações totalizaram US$ 74,299 bilhões. Desse
total, US$ 6,060 bilhões são referentes à Argentina. Dos produtos
exportados para a Argentina, cerca de 33% são automóveis.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea) informou que ainda não tem uma previsão de quanto podem cair
as exportações com a crise. A associação disse apenas que 76% das
exportações do setor vão para a Argentina, seguido do México (7%), Chile
(5%), Uruguai (4%), Colômbia 3% e Peru (2%).
Em crise econômica, a Argentina decidiu recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para equilibrar a situação financeira do país. A decisão foi tomada
depois da disparada do dólar. O governo quer obter respaldo financeiro
para acalmar os ânimos dos investidores e frear a saída de capitais do
país, cuja economia, segundo o presidente argentino, Maurício Macri, é
uma das mais dependentes de recursos estrangeiros.
O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral lembra que a
Argentina é o principal importador de produtos manufaturados no Brasil.
“Os principais produtos são automóveis e peças de carro. Evidentemente,
uma crise na Argentina afeta esses setores”, disse. Para Barral, se a
Argentina conseguir o empréstimo no FMI, o nível de especulação cambial
diminuirá, o que fará com que o país não diminua muito as importações.
Entretanto, Barral disse que o efeito da crise argentina no Brasil
deve ficar restrito a esse segmento, sem contagiar toda a economia
brasileira. “O Brasil tem reservas internacionais altas, inflação
relativamente sob controle. Então, o Brasil não está na mesma situação
da Argentina. Mas em termos de exportações, sim. O Brasil pode ser
afetado pela queda das exportações”, disse.
Segundo Barral, a competitividade do setor automotivo brasileiro é
maior na Argentina por conta do Mercado Comum do Sul (Mercosul). “Os
produtos brasileiros não pagam imposto de importação na Argentina”,
explicou. Além disso, ele disse que o mercado argentino é maior do que
de outros países. “Enquanto na Argentina tem um mercado de 42 milhões de
pessoas, no Uruguai, por exemplo, são 3 milhões”, disse.
A pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação
Getulio Vargas (FGV) Lia Baker Valls Pereira também avalia que o efeito
da crise argentina no Brasil se restringirá à balança comercial. “No
Brasil, a exportação não é o principal elemento do PIB (Produto Interno
Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). A Argentina
é a terceira importadora do Brasil. É muito localizado, afetaria mais a
exportação de automóvel”, avaliou a pesquisadora.
“O empréstimo do FMI vem cheio de restrições. A Argentina tem um
problema de déficit fiscal, déficit externo, tem inflação alta. A
Argentina vai se comprometer a um controle inflacionário e fiscal mais
austero”, disse. Lia acrescentou que o presidente argentino Mauricio
Macri optou por fazer um ajuste gradual na economia, mas não conseguiu.
No último dia 8, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou não
há possibilidade de "contágio" da crise argentina no Brasil. “Nós temos
uma situação externa extremamente confortável, um déficit em
conta-corrente pequeno, que é financiado por investimentos diretos
estrangeiros. Temos reservas extremamente elevadas, de US$ 383 bilhões.
Não vejo nenhum impacto. A situação [do Brasil] é completamente
diferente da Argentina", disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário