Mais de seis meses após a tomada de decisão sobre a venda do terminal
de grãos da CGG Trading no porto de Itaqui, no Maranhão, as negociações
se aproximam do momento mais aguardado: o encerramento do prazo, no fim
deste mês, para que as empresas interessadas no ativo logístico se
manifestem.
A venda é crucial para a sustentação financeira da trading, do grupo
Cantagalo, que tem como maior acionista a Coteminas, do empresário Josué
Gomes da Silva. O terminal, seu melhor ativo, foi oferecido como
garantia aos bancos para reestruturação de dívidas.
O mandato de venda está a cargo do ABN Amro e do Bradesco. Após a
apresentação formal dos interessados, terão início os trabalhos de praxe
de "due diligence" e de negociação de preços. A CGG espera concluir a
venda ainda este ano. O mercado comprador prevê um desfecho somente em
2018.
Há um número limitado de candidatos com
apetite real pelo ativo. Segundo fontes, a sobrecapacidade ainda é
grande no terminal, o que afugenta potenciais interessados. O mais
disposto a levar o terminal seria a VLI. A companhia já opera um
terminal privativo em Ponta da Madeira, vizinho a Itaqui, é arrendatária
de um berço no porto público, por onde escoa grãos, e opera a única
ferrovia que desemboca no porto. O negócio, se concretizado, envolveria
troca de dívidas.
Procuradas, as empresas não quiseram comentar o assunto.
Em seu resultado financeiro de 2016, a CGG apontou como "valor justo"
para o terminal US$ 161,3 milhões - US$ 77,7 milhões acima do valor
contábil do ativo. O preço, explicou à época ao Valor o CEO Brandon
Scott, visava aproximar o preço do terminal à realidade, contribuindo
para a reestruturação de dívidas, ocorrida em junho.
Isso não significa, no entanto, que o valor será efetivamente
acordado. Fontes do setor afirmam ser difícil o desembolso deste
montante no momento em que muitas empresas, incluindo as grandes, já
estão comprometidas com outros investimentos logísticos e registram
margens ainda menores no comércio internacional de grãos. Nesse contexto, a CGG também colocou à venda outros dois ativos:
parte da fazenda de 73 mil hectares na região de Brasnorte, em Mato
Grosso, e parte de outra propriedade de 35 mil hectares no Piauí.
Inaugurado operacionalmente em março de 2015, o Tegram é o primeiro
terminal graneleiro no porto público maranhense. Criado pelo consórcio
formado por CGG, Glencore, NovaAgri e Amaggi / Louis Dreyfus / Zen-Noh,
ele é uma alternativa de escoamento de grãos para a região de Matopiba
(Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia). Cada empresa detém 25% de
participação no negócio.
Em 2014, o grupo japonês Sojitz entrou como investidor na CGG
Trading, tornando-se acionista majoritário com 43,14% da divisão
logística da Cantagalo, e minoritária na holding, com 5%. Desde o
início, sua intenção era absorver o restante da trading, fincando os
dois pés no agronegócio brasileiro. Mas a quebra da safra 2015/16 jogou a
pá de cal na empresa, que já apresentava sinais de desgaste com má
gestão e divergências societárias. Com as expectativas frustradas, os
principais executivos da Sojitz para a CGG - Takeda Hirofumi e Yoshida
Yasuhiro - retornaram no mês passado ao Japão.
Quem quer que leve o terminal será submetido à aprovação dos demais
consorciados, que poderão lançar mão da cláusula de vedação prevista em
contrato. Um executivo do Tegram afirmou, sob a condição de não
ter o nome citado, que a eventual proposta da VLI poderia enfrentar
"resistência" por parte do consórcio. "Por vários motivos", diz,
"calcados no histórico ruim de relacionamento".
As discordâncias entre o Tegram e a VLI vieram à tona já antes mesmo
do porto ser inaugurado. Em questão estão acusações concorrenciais
envolvendo volumes de soja e milho transportados. As tradings também
reclamam do "monopólio ferroviário" da VLI na região - 80% do transporte
de carga ao porto só faz sentido economicamente se for feito pelo
modal.
O terminal embarcou 2,4 milhões de toneladas de grãos em 2016. A
expectativa para 2017 é passar dos 3,5 milhões de toneladas de soja,
farelo e milho. Ainda que cause mal-estar, diz outra fonte, nem a CGG nem o Tegram
estão em posição de "criar dificuldades" a novos entrantes. A CGG
necessita vender o porto para começar a pagar suas dívidas. O Tegram,
por sua vez, ainda tenta avançar com seu cronograma de expansão,
atrasado, e enfrenta divergências eventuais nas operações portuárias
entre as tradings.
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