A arrecadação de impostos gerados com as movimentações de mercadorias
no Porto de Santos já dá sinais de recuperação após a crise econômica.
Com uma média mensal de R$ 2 bilhões arrecadados, a soma de tributos
federais atingiu a marca de R$ 17,9 bilhões, entre janeiro e setembro. O
valor é 0,23% maior do que o aferido no mesmo período do ano passado.
No entanto, uma melhora definitiva deve surgir apenas em 2020, segundo
projeções.
Os dados de arrecadação de tributos são da Alfândega do Porto de
Santos e levam em conta tanto as trocas comerciais, como as variações
cambiais. Na comparação com 2015, no período pré-crise, a queda da
arrecadação tributária das operações do Porto de Santos é de 12,5%.
“Estamos começando um processo de recuperação muito lento. Uma queda
de 12,5% é muita coisa. A situação é de muita turbulência política e
econômica. Mantenho a posição de que a recuperação levará três anos. Ela
está acontecendo mas, para chegar ao mesmo nível em que nós estávamos,
vai demorar um tempo”, destacou o economista Jorge Manuel Ferreira,
especialista em Comércio Exterior.
Ele explica que, como as exportações são isentas, as operações que
geram tributos no cais santista são as importações. E, segundo os dados
da Alfândega, o número de declarações de importação cresceu 7,1% em
relação aos nove primeiros meses do ano passado.
De janeiro a setembro, foram expedidas 308.877 declarações deste
tipo. Já no mesmo período de 2016, o volume foi de 288.183. Esse
crescimento indica uma melhoria da situação econômica e da confiança de
consumidores no País.
“O grande fator de arrecadação do comércio exterior é importação de
manufaturados, justamente a operação que mais sofreu com a crise. Já se
sabia da redução da importação de bens e da queda da operação de
contêineres e isso se reflete. Nós sempre destacamos que as operações de
grãos são importantes para o Porto e para o País, mas a operação que
gera maior reflexo no Porto e na região, por conta de operações
acessórias, é a operação de contêineres”, destacou o consultor portuário
Sérgio Aquino, que é presidente da Federação Nacional dos Operadores
Portuários (Fenop).
Aquino acredita que a recuperação portuária passa pela retomada das
importações e tende a demorar um pouco mais do que a recuperação da
economia. “Em geral, as perdas são mais rápidas do que as recuperações. Isso
está diretamente relacionado à questão de recuperação econômica que, por
sua vez, está diretamente relacionada à recuperação do poder aquisitivo
da população. Nós estamos falando de produtos elaborados, de
eletrônicos, produtos importados, que dependem dessa recuperação. É
também natural que a população vá se estabilizando, salde dívidas,
recomponha suas poupanças para depois voltar a consumir”, destacou.
A mesma opinião tem Ferreira, que aponta a necessidade da confiança
para a retomada do consumo e, consequentemente, dos desembarques de
produtos importados no cais santista.
“Quando a gente fala de otimismo, não é porque o investidor vai
investir mais. É porque o empresário acredita que vai ter uma demanda
maior, que vai contratar gente, expandir o negócio, investir na
manutenção das máquinas. Precisa haver um otimismo até do consumidor.
Quando a sociedade começa a acreditar na melhora, ela vem, porque as
pessoas consomem. O que nós estamos precisando é isso”.
O Porto de Santos oferece a sua parcela de contribuição à economia do
País, com suas operações de mercadorias e a consequente arrecadação de
tributos, que somam, em média, R$ 2 bilhões por mês. No entanto, os
investimentos em infraestrutura, tão necessários para a garantia de suas
atividades, não seguem o mesmo ritmo.
A opinião é do consultor portuário Sérgio Aquino, que é presidente da
Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop). Segundo ele, a
discrepância entre o que se arrecada e o que é investido no setor
acontece por conta do modelo atual de gestão dos portos brasileiros,
totalmente centralizado na capital federal.
“O governo faz toda a arrecadação tributária resultante da atividade,
ainda fica com a arrecadação das outorgas (geradas com o arrendamento
de áreas portuárias). E os investimentos em expansões estratégicas ficam
dependendo de lutas de emendas parlamentares, e ficam desvalorizadas,
como se fossem grandes benesses para o Porto, como obras de
infraestrutura”, destacou o executivo.
Aquino cita as dificuldades enfrentadas pelo Governo Federal para
garantir obras consideradas prioritárias, como os acessos viários ao
Porto de Santos. Isto acontece porque os recursos gerados no cais
santista são investidos em outros setores do governo.
“Por que nos portos mundiais há recursos para acessos, como no caso
da ligação entre a Rodovia Anchieta e o Porto? Isso era o caso de saírem
um acordo absolutamente natural entre Governo Federal e governo
estadual, que arrecadam muito com isso, e não pelo Município, que está
fazendo esforços, empréstimos para obras na entrada da Cidade. O
investimento é desproporcional ao que o Porto gera para o Estado e a
União”, afirmou.
O consultor ainda aponta a concorrência enfrentada pelo Porto de
Santos por conta de outros complexos portuários públicos e privados.
“Muitos fizeram a lição de casa e notadamente investiram em seus
gargalos, como a dragagem e em Santos essa questão não está resolvida”.
O economista Jorge Manuel Ferreira aponta que, apesar da expressiva
arrecadação do Porto de Santos, o montante ainda é baixo, se comparado
às despesas públicas que o governo precisa bancar. Além disso, os
investimentos são concentrados na capital federal, enquanto os
municípios não têm acesso à essas riquezas.
“A situação fiscal da União é de deficit. Se gasta muito dinheiro, e
para manter a folha, os gastos básicos do governo, previdência, saúde e
todas as obrigações, é uma tarefa difícil. Talvez, se não tivéssemos uma
crise tão profunda como agora, esses R$ 2 bilhões mensais seriam R$ 3
bilhões”.
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