Os planos do governo federal de renovar as concessões de
cinco malhas ferroviárias e, com isso, mobilizar investimentos de R$ 25
bilhões sofreram duros ataques da Procuradoria-Geral da República (PGR) e
do Tribunal de Contas da União (TCU), na audiência pública que discute a
Medida Provisória (MP) 752, em realização no Congresso Nacional.
O subprocurador-geral da República José Elaeres
Marques Teixeira disse que a prorrogação de contrato é permitida em lei,
mas, no caso de serviços públicos, ela deve ser exceção e não regra. No
entanto, pontuou, o governo já anunciou um cronograma para a
prorrogação dos contratos de cinco concessões ferroviárias. "O que era
para ser exceção acabará se tornando regra", alertou.
Esse ponto também foi criticado pelo representante
do Tribunal de Contas da União (TCU), Uriel de Almeida Papa. Ele
observou que o governo de Michel Temer prometeu uma revalorização do
papel das agências reguladoras, no entanto, já antecipa, ao anunciar as
prorrogações, uma decisão que teria de ser tomada pela Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT). "Temos, afinal, uma evolução com um
ciclo de empoderamento das agências ou mais decisões impostas às
agências antes de seu pronunciamento técnico?", questionou.
Em resposta, o superintendente de Infraestrutura e
Transportes de Carga da ANTT, Alexandre Porto, disse que as prorrogações
contratuais serão objeto de um estudo pela agência para determinar se a
medida é ou não de interesse da sociedade. "Se a análise não for na
linha, é difícil que prospere, mesmo que tenha entrado no cronograma do
governo."
O secretário especial do Programa de Parcerias e
Investimentos (PPI), Adalberto Vasconcelos, saiu em defesa da
prorrogação. Ele questionou se é o caso de esperar mais dez anos para
fazer investimentos que hoje já se mostram necessários para, por
exemplo, escoar a produção de grãos do centro do País até os portos.
Elaeres disse também que a MP coloca, como critério,
para prorrogação por 30 anos, o cumprimento de metas de produção e
segurança nos últimos cinco anos. "E como ficaria o período anterior?"
questionou. Na mesma linha, Papa questionou a razão do corte num prazo
tão recente. Ele lembrou que o princípio da eficiência está previsto na
Constituição. "Que premissas foram adotadas pelo governo? Não consigo
imaginar."
Alexandre Porto explicou que, do ponto de vista da
agência, a MP avança ao estabelecer um critério objetivo para verificar
se a concessionária cumpriu seus compromissos. Hoje, explicou ele, essa
avaliação é feita de forma subjetiva.
O subprocurador da República também comentou que a
MP não resolve os problemas históricos de direito de passagem e uso
compartilhado da malha, mantendo o atual modelo verticalizado "sem
maiores reflexões". Ele retomou, ainda, uma preocupação expressa pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à época da fusão da
Rumo com a ALL. "Um teto tarifário não é garantia de isonomia na
contratação de usuários", disse. "Resta margem de manobra para aplicação
de tarifas diferentes."
Elaeres observou, ainda, que há muitos trechos ferroviários sem uso, quando a concessão previa o uso da malha toda.
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