Uma semana após o leilão de aeroportos, o governo federal se prepara
para a segunda investida no setor de transportes. Vão a leilão na
quinta-feira, dia 23, dois terminais no porto de Santarém (PA) para
movimentação de granéis líquidos - como gasolina, diesel, querosene e
etanol.
Contudo, não é certo que a licitação dos portos replicará o resultado
do leilão dos aeroportos de Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto
Alegre. Os quatro ativos foram vendidos para gigantes europeus da
operação mundial e com ágio de dois dígitos.
Aeroportos tendem a ter mais liquidez porque não existem muitos à
venda no mundo e permitem a geração de uma série de receitas além das
tarifárias. Já os terminais portuários do Pará são dedicados a um nicho
muito específico e considerados de pequeno porte.
Ainda assim, têm características que podem garantir a transferência à
iniciativa privada. São áreas "brownfield" - já ocupadas. Uma está com
contrato vencendo e outra opera por meio de decisão judicial, com
término vinculado à licitação. As empresas que lá estão - a
Distribuidora Equador e a Petróleo Sabbá, joint venture entre Raízen e
IB Sabba - dificilmente vão deixar de entrar na disputa, pois têm
interesse em manter o negócio.
Grupos verticalizados, notadamente que já trabalham na cadeia de
combustíveis, também são cotados. A Ipiranga,
braço de distribuição de combustíveis do grupo Ultra, estaria
interessada. Procuradas, a Ipiranga e a Distribuidora Equador não se
manifestaram. A Raízen disse que não comenta assuntos relacionados a
eventuais investimentos futuros.
Outra questão é que logística portuária para armazenagem de
combustíveis é considerada estratégica na região Norte, especialmente
devido às importações de derivados de petróleo enquanto o Brasil não
aumenta o parque de refino naquela região. Na visão de especialistas, a
lacuna entre a crescente demanda de combustíveis no Norte e a pouca
oferta de tancagem amplia o valor estratégico do negócio, o que pode
atrair empresas eminentemente operadoras.
A licitação dos terminais consta da primeira lista de 34 projetos de
infraestrutura divulgada pelo Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI) de Michel Temer, em setembro de 2016. No material, o governo
afirma que as licitações dos dois terminais "são cruciais para a
manutenção da distribuição de combustíveis na região, que teve aumento
de 24% no consumo de combustíveis entre 2011 e 2014."
"Não tenho a menor dúvida de que são dois terminais com viabilidade
inquestionável. Mas eles só recebem barcaças e não navio de longo
curso", pondera Fabrizio Pierdomenico, sócio da consultoria Agência
Porto. O planejamento do porto público de Santarém não permite o
recebimento de embarcação de longo curso para combustível. Dessa forma, a
carga destinada a Santarém transportada nesse tipo de navio tem de
fazer um "tombo" a mais: parar em um outro porto e ser transferida para
balsas para chegar até Santarém.
As propostas devem ser entregues na BMF& Bovespa, das 10h às 13 h
de hoje. As ofertas de preços serão abertas na quinta-feira, também na
Bolsa, em sessão pública. Vence quem der o maior valor de outorga não
inferior a R$ 1,00. O governo prioriza, com esse critério, os
investimentos nos ativos em vez da arrecadação.
Há poucos dias, a Petróleo Sabbá entrou com representação no Tribunal
de Contas da União (TCU) pedindo liminar para suspender a licitação até
o julgamento do mérito do pedido de anulação do edital, para revisão
dos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental. A área
técnica do órgão considerou a representação improcedente e propôs não
conceder a liminar. O relator pode ou não acatar.
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