O Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócioeconômicos) divulgou levantamento apontando que 31.322 postos de trabalho foram fechados até o
final de 2016, quase metade das 71.500 mil vagas estimadas em 2014. O número representa uma diminuição de 43,8% em
relação a dezembro de 2014 - ano em que o nível de emprego nessa
indústria atingiu seu auge.
Segundo projeção do Dieese, o impacto será ainda maior
nos próximos anos. A estimativa do órgão é de que o volume de
investimentos da estatal vai diminuir 25%, entre 2017 e 2021, atingindo
principalmente a área de exploração e produção.
“A nova gestão da Petrobras já vem fazendo esse movimento de
diminuição há algum tempo. Essa redução já atingiu o valor de R$34
bilhões. Agora cada estaleiro está trabalhando com as últimas encomendas
feitas pela empresa, que acabarão em 2018. Depois disso, se não
entrarem novos pedidos, não conseguirão se manter. Está havendo um
desmonte da indústria naval”, explica o economista do Dieese, André
Cardoso.
Entre 2014 e 2016, foram fechados pelo menos sete estaleiros no
Brasil. Aqueles que permaneceram abertos, estão funcionando com um
quadro reduzido de trabalhadores. O estado do Rio de Janeiro apresentou
um dos piores resultados, ao todo foram 63,5% das vagas fechadas no
mesmo período. Na capital, houve diminuição de 80% dos postos de
trabalho, com menos de 12,5 mil trabalhadores. Em Niterói, são 14 mil
desempregados.
“Sem sombra de dúvida isso contribuiu para agravar a crise no estado.
É um ciclo. Quebra indústria do petróleo, em seguida, a indústria naval
e ai os bares, restaurantes, pousadas fecham, por ai vai. As pessoas
estão se virando com bicos. Não tem emprego. Em Niterói, é incontável o
número de camelôs que são ex-metalúrgicos”, acrescenta o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, Edson Rocha.
Um dos últimos episódios emblemáticos de declínio da indústria naval
brasileira, foi o cancelamento de 16 contratos de navios petroleiros da
primeira fase do programa Empresa Brasileira de Navegação (EBN) no ano
passado. A princípio seriam construídos 19 navios, mas apenas três foram
entregues.
“A Petrobras usou argumento de que os prazos não foram cumpridos.
Embora o acordo tivesse sido feito para entregar a demanda em 2014, o
atraso já era previsto porque estávamos vivendo momento de 'curva de
aprendizado'. Isso quer dizer que estávamos aprendendo a fazer esse tipo
de construção e a direção da estatal sabia disso. Porém, decidiram
cortar os contratos e a consequência disso foi o fechamento de
estaleiros”, explica André Cardoso.
Outro discussão envolvendo a Petrobras, destacada pelo levantamento
do Dieese, trata-se do projeto lei que retira a obrigatoriedade da
estatal ser operadora única no Brasil a explorar o Pré-Sal. O projeto,
aprovado pelo Senado, libera outras empresas do segmento do petróleo a
entrarem no país e desvincula a demanda da indústria naval nacional.
“Ficamos com 14% a 25% da construção da indústria naval. O que vamos
fazer com isso? Estão nos subestimando. Nós já tínhamos atingindo 65% da
produção brasileira offshore. Não podem argumentar que não temos
condição de continuar operando e nós precisamos disso para manter os
empregos e o país funcionando”, afirma Edson Rocha.
De acordo com o Dieese, o setor naval passou a apresentar resultados
negativos na criação de postos de trabalho a partir de 2014, fechando
744 vagas no último trimestre do ano. Apesar disso, o ano de 2014
apresentou 3.512 trabalhadores a mais que em dezembro de 2013, com um
estoque final de 71.554 postos de trabalho ocupados diretos.
De janeiro a dezembro de 2015, o setor despencou, fechando 16.385
postos de trabalho, com um estoque final de 55.169 postos de trabalho, o
que representou uma queda de 22,9%. Todos os meses, exceto setembro que
fechou com um saldo de apenas três postos de trabalho criados, foram
negativos.
No período de janeiro a dezembro de 2016, foram fechados mais 14.937
postos de trabalho, apresentando no final do ano um estoque de 40.232
postos, o que significou uma redução de 27,0%, em comparação com
dezembro de 2015. Esses resultados somados totalizaram menos 31.322
postos de trabalho em 2016.
Segundo Edson Rocha a reação dos trabalhadores da indústria naval
está sendo organizada. “Estamos reunindo todos que estão interessados em
manter o setor vivo: trabalhadores, políticos, prefeitos, empresários,
para juntar esforços e exigir que a produção brasileira seja valorizada
por esse governo que ai está. Queremos nossos empregos. Como o Brasil
vai crescer aumentando o número de miseráveis?”, questiona.
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