O Brasil em crise virou a grande oportunidade para os chineses
ampliarem seus negócios no País. Sem medo de gastar e com forte apetite
para o risco, eles planejam desembolsar neste ano mais US$ 20 bilhões na
compra de ativos brasileiros – volume 68% superior ao de 2016, segundo a
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. O movimento tem sido tão
forte que o País se transformou no segundo destino de investimentos
chinês na área de infraestrutura no mundo, atrás apenas dos Estados
Unidos.
Na lista de companhias que planejam desembarcar no País, de olho
especialmente nos setores de energia, transportes e agronegócio, há
nomes ainda desconhecidos dos brasileiros, como China Southern Power
Grid, Huaneng, Huadian, Shanghai Eletric, SPIC e Guodian. “Há dezenas de
empresas chinesas que passaram a olhar o País como oportunidade de
investimentos e estão há meses prospectando o mercado brasileiro”, diz
Charles Tang, presidente da CCIBC.
Enquanto essas companhias não chegam, outras chinesas estão mais
avançadas na estratégia de expandir os negócios. A State Grid, por
exemplo, liderou os investimentos no ano passado, com a compra da CPFL; a
China Three Gorges arrematou hidrelétricas que pertenciam à estatal
Cesp e comprou ativos da Duke Energy; a China Communications
Construction Company (CCCC) adquiriu a construtora Concremat; e a
Pengxin comprou participação na empresa agrícola Fiagril e na
Belagrícola.
Segundo levantamento das consultorias AT Kearney e Dealogic, de 2015
para cá, os chineses compraram 21 empresas brasileiras, que somaram US$
21 bilhões. “Hoje, o Brasil é um país que está barato, por conta do
cenário político e econômico. E isso é visto como uma grande
oportunidade pelo investidor chinês”, afirma o diretor para a área de
infraestrutura da A.T. Kearney, Cláudio Gonçalves.
O atual movimento dos asiáticos no Brasil tem sido considerada como a
terceira onda de investimentos chineses. Na primeira, vieram grandes
multinacionais, como a Baosteel, de olho no setor de mineração e aço. A
empresa chegou a fazer parceria com a Vale para construir duas
siderúrgicas no País, mas o projeto não prosperou. Em 2011, comprou uma
pequena participação na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração,
que aposta na exploração de nióbio.
Na segunda onda de investimento chinês, apareceram companhias que
tinham pouca ou quase nenhuma experiência no mercado externo, afirma o
advogado do escritório Demarest, Mário Nogueira. Ele explica que, nesse
segundo movimento, muitas empresas – incluindo o setor automobilístico –
não se deram bem no Brasil, por não terem recebido orientação adequada
de como funcionava o mercado nacional.
“Dessa leva, algumas quebraram e
outras tentam até hoje se desfazer de ativos.” A onda atual também
inclui empresas inexperientes no mercado internacional, mas gigantes na
China, com muito dinheiro para gastar. E, desta vez, as companhias têm
se cercado de assessores financeiros e jurídicos.
“Tem cliente que montou escritório de representação e está há três
anos estudando o mercado brasileiro. De tanto rodarem em busca de
negócios, já conhecem mais o País do que eu”, afirma Nogueira. Por ora,
os escândalos revelados pela Operação Lava Jato envolvendo as maiores
empreiteiras do Brasil estão longe de serem vistos como fator de
preocupação econômica ou de instabilidade política pelos investidores
chineses. Pelo contrário, têm ajudado, já que os preços dos ativos
caíram.
Nos próximos meses, vários negócios em andamento poderão ser
concluídos. É o caso da Shanghai Electric, que estuda assumir projetos
de transmissão da Eletrosul, cujos investimentos somam R$ 3,3 bilhões; a
SPIC está na disputa pela compra da Hidrelétrica Santo Antônio; e a
CCCC tem vários ativos na mira, de construtoras a ferrovias. Outra que
fez aquisições em 2016 e não deve parar por aí é a Pengxin. A empresa
negocia a compra de parte do banco Indusval. Fontes
afirmam que há ainda planos da Pengxin levantar um fundo de US$ 1 bilhão
para investir em agricultura. Procurados, o banco não comentou o
assunto e a Pengxin não retornou os pedidos de entrevista.
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