O desemprego na indústria naval cresce a passos largos no Brasil. De
2014 (quando começaram as demissões no setor) até 2016, foram fechados
31.322 postos de trabalho, retração de 43,8%.
Eram 71.554 postos de trabalho diretos, contra 40.232 em 2016. Os
dados fazem parte de um estudo realizado pelo Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos
registos do Ministério do Trabalho e Emprego. A pesquisa analisou
estaleiros alocados em 15 municípios espalhados em nove estados.
O Rio Grande do Sul foi o segundo estado mais atingido do Brasil, com
o fechamento de 4.627 vagas em Rio Grande e São José do Norte. O Rio de
Janeiro lidera esse ranking negativo, com retração de 7.470 postos nas
cidades de Angra dos Reis, Itaguaí, Niterói e na capital Rio de Janeiro.
Entre os municípios, Rio Grande, com fechamento de 4.357 empregos,
liderou o enxugamento no País. Somente em dezembro houve um corte de
3.089 postos, resultado das demissões da empresa Engevix Construções
Oceânicas (Ecovix), que entrou com pedido de recuperação judicial no ano
passado.
"Não apenas Rio Grande, mas toda região Sul está sendo muito
prejudicada, caso de cidades como Pelotas e Jaguarão. E o pior é que não
há perspectiva de volta destes empregos", afirma o vice-presidente da
Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, ligada à CUT, Enio
Santos.
Ele conta que, no ano passado, diversas entidades e empresários
fizeram movimentos junto ao poder público federal para tentar reverter a
situação, o que envolveu encontros com ministros em Brasília. Mas, o
resultado não foi o esperado. "Me parece que o projeto é terminar com
indústria naval brasileira e passar a fazer plataformas fora do País",
lamenta. No dia 13 de março, será realizada uma audiência pública em Rio
Grande para discutir o futuro da indústria naval brasileira.
A crise é efeito do escândalo de corrupção revelado pela Operação
Lava Jato e que envolve a Petrobras, maior player de exploração e
desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural. A estatal reduziu
investimentos, que atingiram em cheio o polo gaúcho. A situação piorou
depois que foram flexibilizadas as regras de percentual de
nacionalização dos componentes, que era um dos pilares da política de
revitalização da indústria naval instaurada pelo governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A economista do Dieese Cristina Pereira Vieceli comenta que a
cláusula que alterou o índice de nacionalização fez com que plataformas
passassem a ser construídas fora do Brasil, como na Ásia. "Essa situação
está impactando o dia a dia das cidades que sediam estaleiros, já que a
perspectiva é de que cada emprego gerado no segmento naval gere mais
cinco indiretos", relata.
Santos elogia a capacidade de produção da indústria naval brasileiro,
bem como a tecnologia e qualidade da mão de obra. "A alegação de que
fabricar na China custaria 30% menos não procede, especialmente se
pensarmos que o investimento feito no Brasil gera empregos e faz toda
economia girar", aponta o sindicalista.
Um estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp de
fevereiro aponta que a mudança das regras de conteúdo local afetará a
capacidade de geração de valor da cadeia do setor de petróleo aos
componentes. A Fiesp estima que a cada R$ 1 bilhão investidos na
exploração e produção de petróleo e gás e de bens e serviços geram R$
551 milhões no PIB e 1.532 empregos. Sem as restrições, o aporte cairia a
apenas R$ 43 milhões de acréscimo ao PIB e 144 empregos. (Fonte: JC)
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