Os chineses enviaram a Brasília uma minuta de formação de um fundo
voltado para projetos industriais e de infraestrutura – que já teve uma
empresa criada em Pequim para geri-lo – o Claifund (China Latin American
Industrial Cooperation Investment Fund) – e se comprometeram a retirar
US$ 15 bi de suas reservas internacionais para capitalizá-lo. O governo
brasileiro havia se comprometido a fazer um aporte de US$ 5 bilhões. A
sugestão é que o Banco do Brasil seja usado como parceiro. Os resultados
parecem ser fruto dos acordos firmados há oito meses pela presidente Dilma Rousseff e pelo primeiro-ministro da China, Li Keqiang.
Um dos desafios é encontrar uma solução para o risco cambial envolvido
nos financiamentos concedidos no país. Diante das restrições
orçamentárias, uma das possibilidades cogitadas é recorrer ao dinheiro
devolvido aos bancos públicos como regularização das pedaladas fiscais,
mas o aporte não precisa ser desembolsado de uma única vez.
Nas conversas com as autoridades brasileiras, ficou claro que o objetivo
dos chineses é buscar retorno ao capital investido, e não vincular seus
empréstimos ao fornecimento de equipamentos. Ou seja, uma ferrovia não
precisaria ter locomotivas ou trilhos provenientes da Ásia, nem uma
usina hidrelétrica ter turbinas “made in China” para contar com recursos
do novo fundo.
“Eles têm demonstrado muito interesse nas tratativas e
nos garantiram ter reservado recursos para o fundo”, disse Claudio Puty,
ex-secretário de Assuntos Internacionais no Ministério do Planejamento e
atual secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Previdência
Social. Segundo ele, essa parece ser uma oportunidade única “que não
deve ser desperdiçada”.
Os dois países começam a pensar em projetos potenciais para receber
financiamento. Um dos candidatos potenciais é a segunda linha de
transmissão que escoará a energia produzida pela hidrelétrica de Belo
Monte, cuja concessão foi arrematada pela chinesa State Grid no ano
passado, com investimentos previstos de R$ 7 bilhões até 2019.
A ferrovia Bioceânica, megaprojeto que pretende ligar Brasil e Peru
pelos trilhos, vem tendo seus estudos tocados por um grupo de
engenheiros chineses instalados em Brasília. Eles já traçaram diversas
alternativas para o empreendimento. Uma das hipóteses é que o ponto
final da ferrovia seja o Porto Sul da Bahia, em Ilhéus, que também pode
receber investidores chineses para sua construção.
Os estudos de viabilidade devem ser concluídos no fim do primeiro
semestre e contemplam três opções de saída no Pacífico: os portos de
Bayóvar (norte do Peru), Callao (centro) e Ilo (ao sul). No Brasil, duas
alternativas de saída eram estudadas: Assis Brasil e Cruzeiro do Sul,
no Acre. A primeira esbarra em dificuldades topográficas do lado
peruano; a segunda é complicada do ponto de vista ambiental e cruza
terras indígenas.
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