A consolidação entre os transportadores de contêineres Hamburg Süd e
Maersk Line, caso seja concretizada, criará uma superconcentração na navegação
brasileira - tanto nas linhas domésticas (cabotagem) quanto nas de
longo curso. Na cabotagem o impacto é maior: a Aliança, da Hamburg Süd, e
a Mercosul Line, do grupo Maersk, têm juntas 80% da capacidade total do
mercado em teus. O restante está nas mãos
da Log-In.
Com menos competição para os embarcadores decidirem quem contratar, a
aposta do mercado é que dificilmente o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) aprove tamanha concentração sem restrições. No transporte de longo curso, os dois grupos teriam juntos uma
fatia de 36% no volume de cargas transportadas nos tráfegos com a Costa
Leste da América do Sul, considerando o acumulado do ano até setembro.
Somando as participações dos dois armadores seguintes no ranking - MSC e
Hapag Lloyd -, significa que 70% dos volumes ficariam concentrados nos
conveses de três companhias.
Nos últimos dias, a mídia internacional subiu o tom no sentido de que
haveria uma negociação avançada entre a família Oetker, dona da Hamburg
Süd - o braço de navegação do conglomerado alemão -, e a Maersk Line. A
respeitada publicação "ShippingWatch", especializada no setor, publicou
reportagem nesta semana informando que a compra da Hamburg Süd pela
dinamarquesa Maersk Line está para acontecer "logo" e que o valor gira
em torno de € 4 bilhões.
Apesar de Hamburg Süd e Maersk Line não comentarem o que classificam
como especulações, nenhuma nega que haja uma negociação em curso. A
Maersk Line é o maior armador do mundo em capacidade e a Hamburg Süd é o
sétimo. No Brasil, a alemã lidera a movimentação da cabotagem, com a
Aliança, e encabeça o ranking do longo curso. A Mercosul Line é a
segunda no transporte doméstico e a Maersk Line é a quarta nos serviços
internacionais.
Uma eventual venda ou fusão suscita questões também sobre como ficará
a distribuição dos navios entre os terminais portuários onde hoje esses
armadores operam. "Em se confirmando, a grande questão vai girar em torno de como os
volumes da Maersk e da Hamburg Süd serão reacomodados. Por exemplo, a
BTP [onde a Maersk e a MSC atuam no porto de Santos] não teria
capacidade para absorver volumes da Maersk, da MSC e mais da Hamburg Süd
juntos", diz Leandro Barreto, especialista em transporte marítimo e
sócio da consultoria Solve.
Ainda, destaca ele, no Sul do país, os terminais pertencentes a
empresas dos mesmos grupos da Maersk e Hamburg Süd, nos quais elas
escalam seus navios, têm limitações. "Um dos grandes objetivos do
processo de fusão pelo qual a indústria passa é buscar ganhos de escala
proporcionado por navios maiores. Contudo, nenhum dos terminais teria
atualmente condições de operar plenamente os navios de 366 metros."
O atual contexto do setor é de consolidação, num ambiente em que a
superoferta de navios e os sucessivos resultados negativos dos armadores
deixam pouca margem de manobra. Recentemente foi anunciado o acordo
para a fusão do negócio de contêineres das japonesas MOL, NYK e K-Line,
em mais um capítulo desse processo.
Um negócio entre Hamburg Süd e Maersk Line criaria a chamada sinergia
em rede, pois a alemã é uma empresa de nicho - focada no tráfego
Norte-Sul. E, tal qual a Maersk Line, é forte no transporte de cargas
refrigeradas, o que criaria uma potência na Costa Leste da América do
Sul.
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