A fabricante de ônibus Marcopolo, sediada em Caxias do Sul (RS), depois de 10 anos com o foco das operações no Brasil, mudou de rumo e voltou a
priorizar o mercado externo. A maior parte da receita líquida da empresa
vinha sendo gerada internamente desde 2006. Agora, houve uma inversão,
fazendo com que as exportações a partir do Brasil e as vendas de
veículos produzidos e negociados fora do País passassem a ser 68% da
receita.
Essa mudança havia dado sinais em 2015, principalmente em
decorrência da queda das vendas domésticas, e se acentuou neste ano, com
um salto nas operações internacionais - entre janeiro e setembro, as
exportações a partir do Brasil avançaram 43,8% ante o mesmo período de
2015.
Além da desvalorização do real e da relativa perda de
competitividade chinesa, uma estratégia montada pela companhia
impulsionou as vendas para fora. Em outubro de 2015, uma equipe de 30
funcionários fixou um mapa-múndi na parede e começou a marcar os países
em que a Marcopolo havia perdido mercado nos últimos 10 anos e que
poderiam ser retomados, além de possíveis novas conquistas. "Conhecendo o
histórico de exportações, criamos uma força-tarefa", conta o presidente
da empresa, Francisco Gomes Neto.
Nos 12 meses seguintes, as equipes viajaram 60 países na tentativa
de vender seus produtos e amenizar os efeitos da crise econômica
brasileira, que devastou o setor automotivo. Desde o auge da empresa, em
2013, até 2015, a Marcopolo viu sua receita líquida recuar 25% e o
número de unidades fabricadas cair 46%. "Aumentar exportações foi a
única saída. Aprendemos que não podemos descuidar do mercado externo
mesmo quando o câmbio é desfavorável. A retomada não é fácil."
O descuido com as vendas internacionais foi consequência do bom
momento vivido pelo setor no Brasil até 2013. Os juros a 2,5% ao ano
para empresas de transporte e o programa federal Caminho da Escola (que
facilitou a compra de veículos por prefeituras) resultaram na explosão
das vendas domésticas de ônibus no período.
Para Antônio Jorge Martins, professor da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), especialista no setor, a Marcopolo conseguiu recuperar suas
exportações por ter alto nível de internacionalização - são 12 plantas
fora do País. Martins afirma, ainda, que as multinacionais instaladas no
Brasil não puderam ampliar suas exportações a partir do País em igual
ritmo, porque precisam negociar com as matrizes para não comprometerem
unidades produtivas de outros países.
Apesar de amenizarem as perdas, as vendas internacionais não chegam
a salvar a Marcopolo. Em 2016, houve queda de 10% nas receitas de
janeiro a setembro. A companhia acabou fechando uma fábrica no Rio de
Janeiro, adquirida no fim de 2015, quando comprou a concorrente Neobus.
Também precisou se desfazer de 7,5% do capital da canadense New Flyer,
permanecendo com 10,8% do negócio. Ainda há a intenção de usar a New
Flyer para entrar no mercado norte-americano, onde poderia explorar os
segmentos rodoviário e de micro-ônibus. Os veículos seriam enviados aos
EUA a partir do Brasil ou do México.
Gomes Neto admite que não será possível manter o ritmo de
crescimento internacional em 2017. "Retomamos mercados onde a Marcopolo
era forte, o que não vai se repetir." O foco, entretanto, continuará lá
fora, já que não há sinais de recuperação interna.
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