As principais rotas comerciais nos mares do planeta oferecem atualmente mais espaço nos navios de cargas que produtos para serem
transportados. A expansão de exportações, que foi a tônica do comércio
por décadas, está estagnada e o discurso político que ganha
força é justamente o do protecionismo. A ONU, a OMC e entidades especializadas no comércio
internacional apontam que 2016 registra a pior expansão das exportações
em um ano de crescimento econômico em décadas.
Ao mesmo tempo, o cenário futuro, com
um mundo tentando descobrir qual será a política comercial de Donald
Trump, é dos mais incertos. Segundo dados coletados pela ONU em Genebra, o crescimento no volume
de produtos transportados pelos oceanos foi, no ano passado, o mais
baixo desde 2009, o ano do colapso da economia mundial. Desta vez,
porém, não houve uma retração do PIB mundial Mas, mesmo assim, o
comércio não sofreu a expansão tradicional
O aumento entre 2014 e 2015 foi de apenas 2,1%. Ainda que o volume
total tenha ultrapassado, pela primeira vez, a marca de 10 bilhões de
toneladas, analistas alertam que o "futuro aponta para incertezas". A
ONU também admite que os sinais indicam um "freio" no processo de
globalização comercial, especialmente diante da recessão em algumas
economias e da retórica protecionista cada vez mais presente.
"O crescimento baixo do setor de transporte marítimo reflete os
problemas no comércio global", alertou o informe anual da ONU sobre o
setor de cargas. A constatação coincide com os números que, nas últimas
semanas, entidades internacionais vêm divulgando. Segundo o Escritório
de Análise Econômica da Holanda, por exemplo, houve até mesmo uma
retração do comércio internacional nos dois primeiros trimestres de
2016, com uma queda de mais de 1%.
Já a OMC foi obrigada a rever sua previsão de expansão do comércio
para 2016. Agora, ela estima que o ano pode ser o pior desde o auge da
crise financeira internacional, em 2009. Para 2016, a nova previsão é
que o comércio internacional tenha aumento de 1,7%. Em abril, a
perspectiva da OMC era de uma expansão de 2,8%. Para 2017, a melhoria
seria insignificante.
Nos EUA, o valor total de exportações e importações sofreu uma queda
de US$ 470 bilhões de janeiro a setembro. Em 2015, a contração havia
sido de US$ 200 bilhões. Segundo analistas, o que mais chama a atenção é
que, pela primeira vez desde 1945, o comércio americano sofreu uma
queda em tempos de suposta estabilidade econômica.
A ONU aponta que a tradução desses números para o setor de transporte
tem sido real. Acostumados a ver uma expansão ininterrupta do comércio,
empresas do setor investiram em novas embarcações. Hoje, descobrem que
não têm mercadoria para transportar.
Em setembro de 2016, o segmento sofreu sua maior falência, com a
quebra da Hanjin Shipping, a sétima maior empresa do mundo em transporte
marítimo. "Simplesmente, não há carga hoje em volume suficiente para
preencher os novos navios, maiores e mais modernos", alertou o
secretário-geral da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento,
Mukhisa Kituyi. A queda na demanda de importação na China, preços de commodities mais
baixos e as incertezas geopolíticas estariam contribuindo para esse
"freio" na globalização.
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