O Porto de Santos perdeu profundidade e o
limite de seu calado operacional (fundura máxima que os navios podem
atingir quando totalmente carregados) foi reduzido no trecho 1 do canal
de navegação.
Agora, apenas embarcações com até 12,3 metros de
calado poderão trafegar na região que vai da entrada da Barra até o
Entreposto de Pesca. Por conta da localização, todas as instalações do
cais santista são afetadas. Nesta segunda-feira dois cargueiros, que atracaram nas
instalações da Brasil Terminal Portuário (BTP), tiveram suas operações e
prejudicadas e atrasadas por conta deste problema.
Segundo o capitão-de-mar-e-guerra Alberto José
Pinheiro de Carvalho, que é comandante da Capitania dos Portos de São
Paulo (CPSP), foram encontrados pontos de assoreamento no trecho 1.
Antes da redução, navios com até 13,2 metros de calado estavam
autorizados a trafegar em condições normais de maré. Na preamar (maré
alta), era acrescido 1 metro.
“Já
tinha um tempo que a Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) não
apresentava batimetrias (levantamentos de profundidade). Eles já
estavam sendo cobrados. Já era uma preocupação”, explicou o capitão dos
portos. O assunto também
foi debatido em reunião entre a Autoridade Portuária e o Sindicato dos
Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp). Em nota, a
entidade informou que vê a questão com preocupação e ainda que o serviço
foi interrompido. “Segundo informações obtidas, essa dragagem ficou
paralisada por oito dias, entre os dias 20 e 28 deste mês, causando
problemas no planejamento (da dragagem) realizado pelo Sopesp a partir
de parceria com a Codesp”.
O presidente da Praticagem de São Paulo, Nilson dos Santos, explicou que o problema
foi identificado há duas semanas. Por isso, a entidade realizou uma
batimetria, que identificou pontos com profundidades inferiores a 14
metros no trecho 1 – como deve-se manter uma margem de segurança entre o
fundo do navio e o leito do canal, para se atingir um calado de 13,2
metros, a via deve apresentar uma fundura de 15 metros.
“O
grande risco é de algum navio tocar no fundo e até mesmo encalhar. Isso
traria um prejuízo incalculável. Por isso, optamos por esperar manobras
mais seguras”, disse o prático. Para ele, a redução do calado foi a
medida mais prudente.
Navios
O
Maersk Laguna, de bandeira panamenha, chegou ao cais santista na manhã
da última quarta-feira, com 2.812 contêineres a bordo. Desses, 427 foram
descarregados e outros 1.156 carregados. A embarcação ficou com 3.541
caixas metálica a bordo quando a operação foi concluída, na
quinta-feira. Sua saída estava prevista para acontecer às 17h30 do mesmo
dia.
O horário foi
programado para um momento de preamar porque o Laguna estava com calado
de 14,2 metros. Por regra, sua saída só poderia acontecer durante a maré
cheia, já que apenas navios com até 13,2 metros são autorizados a
trafegar pelo canal.
Mas,
mesmo nessas condições, o navio não foi autorizado a sair do terminal.
Foram feitas novas tentativas, durante a madrugada de ontem, mas,
segundo o presidente da BTP, Antonio Passaro, não houve sucesso e a
embarcação só deixou o Porto na tarde de ontem.
O
mesmo aconteceu com o MSC Azov, de bandeira de Malta. O navio chegou na
última quinta-feira com 2.342 contêineres a bordo. Desses, 492 foram
descarregados e outros 1.528 embarcados na BTP. Por conta das restrições
de calado, o navio precisou deixar cargas no terminal.
“Se
a profundidade é 15 metros, temos navios com 14,2 de calado. A
princípio deveria sair por uma simples lógica. Não precisa ser Einstein
para saber disso. Agora, não pode e ninguém sabe porque. A Codesp,
Autoridade Portuária, não te diz quais são as verdadeiras
profundidades”, destacou o executivo, antes da revisão das condições de
navegação no complexo santista. Segundo
Passaro, o problema é antigo. E nem mesmo a Codesp, que é a estatal que
administra o Porto de Santos, consegue resolvê-lo.
“Nós
temos uma Autoridade Portuária que não comunica quais são as
profundidades do canal, não mostra batimetrias. Eu já perguntei várias
vezes se isso é um segredo de Estado e eu ouvi de gente lá de dentro que
não podem divulgar por questões estratégicas. Deus sabe quais serão as
razões estratégicas. Nós, operadores portuários, que pagamos por essa
dragagem, não sabemos o que estamos pagando, nem quanto estamos pagando
porque eles também não nos dizem”.
Para Passaro, a única forma de resolver a situação
da dragagem no Porto é conceder o serviço à iniciativa privada. O
assunto é debatido entre empresários do setor, através do Sopesp, e a
União.
Para
o diretor-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp), José Alex Oliva, não era necessária a redução do calado
operacional do Porto de Santos. Segundo o executivo, foram identificados
apenas três pontos de assoreamento (deposição de sedimentos) no trecho 1
do canal de navegação e eles começaram a ser corrigidos na noite de
ontem pela Dratec Engenharia.
A empresa é responsável pelo serviço até o próximo
mês de setembro. Ela utiliza a draga Pearl River para a manutenção das
profundidades de todo o Porto de Santos. De acordo com Oliva, a embarcação estava
concentrando seu trabalho entre os trechos 3 e 4 do canal, que vão da
Torre Grande até a Alemoa. Pelo cronograma previsto pela Codesp, na
próxima quarta-feira, o serviço seria realizado no trecho 1, que fica
entre a Barra e o Entreposto de Pesca.
Mas, diante da constatação do assoreamento, a obra
foi concentrada no trecho 1. Agora, segundo o presidente, a profundidade
será restabelecida a 15 metros naquela região.
Oliva aponta que a incidência de chuvas e ressacas
nas últimas semanas acelerou o processo de assoreamento, que é frequente
nesta região do estuário e intensificada nesses meses de inverno. Mesmo
assim, segundo o executivo, os pontos de deposição de sedimentos são
poucos e pequenos.
Por isso, não haveria a necessidade de redução do
calado. Os pontos de assoreamento foram identificados através de uma
batimetria que foi encaminhada na manhã de ontem à Capitania dos Portos
de São Paulo (CPSP). Questionado sobre a demora para a entrega do
levantamento das profundidades à Autoridade Marítima, Oliva apontou
“questões administrativas”.
Segundo ele, o material já estava pronto desde a
última terça-feira. Mas, por conta de uma viagem à Brasília, o diretor
de Engenharia, Hilário Gurjão, não teve tempo de assinar os papéis
necessários.
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