O Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos como o maior produtor de soja mundial em dez anos, de acordo com o novo relatório Perspectivas Agrícolas 2017-2026,
divulgado na semana passada pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO).
Durante o período analisado,
espera-se que a produção mundial de soja continue expandindo-se, mas em
um ritmo de 1,9% por ano, abaixo da taxa de crescimento de 4,9% anual da
última década. De acordo com o relatório, a produção de soja no
Brasil deve crescer a 2,6% por ano, o maior crescimento entre os
principais produtores, já que dispõe de mais terras, comparado com a
Argentina, com crescimento projetado de 2,1% por ano e os Estados
Unidos, de 1% por ano.
A expectativa é de que, com isso, o Brasil
ultrapasse os Estados Unidos como o maior produtor de soja. As
exportações do produto em 2026 serão dominadas pelo Brasil e Estados
Unidos que, juntos, respondem por quase 80% das exportações mundiais.
As
estimativas do último levantamento da safra 2016/2017 divulgadas,
também nesta semana, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
pareceram confirmar as expectativas traçadas pela FAO e OCDE. A Conab
projeta que a safra no período seja de 237,2 milhões de toneladas de
grãos. Uma produção recorde, com crescimento de 27,1% em relação ao
período anterior.
De acordo com a pesquisa, a produção de soja
deve crescer 19,4% e chegar a 113,9 milhões de toneladas colhidas,
mantendo assim a expectativa dos números divulgados em maio. Já a
produção de milho pode chegar a 96 milhões de toneladas, 44,3% acima da
safra 2015/2016.
Para o presidente da Associação dos Produtores
de Soja do Brasil, Marcos da Rosa, todas essas projeções podem ter
impacto nos preços, que já vêm caindo. “Fazer um anúncio de safra grande
pode fazer com que o mercado precifique para baixo, o que é ruim para
todo mundo”, diz.
“Quando olhamos o preço das commodities
soja e milho, observamos que houve queda e isso é um desestímulo. Como
as duas últimas safras de soja, norte e sul, foram boas, a gente sentiu
uma oferta maior que a demanda. Sentimos no bolso que a oferta foi muito
grande e os valores pagos caíram bastante em relação à safra passada”,
acrescenta.
Na avaliação
do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Soja, Alexandre Cattelan, o Brasil tem
um potencial de crescimento para os próximos anos inclusive superior ao
projetado pelas organizações internacionais. No entanto, os preços do
mercado externo e questões logísticas podem desestimular os produtores.
“O
Brasil praticamente já atingiu o limite da logística, aliás, está acima
do limite da logística. Estamos observando que esse ano a safra ainda
não foi totalmente comercializada principalmente em termos de
exportação”, diz e acrescenta: “Tem muita soja estocada e o milho da
segunda safra praticamente não tem onde ser armazenado. Vemos milho a
céu aberto. Em parte, a soja não foi totalmente escoada por conta dos
baixos preços”.
O pesquisador defende que, para que o Brasil siga
lucrando com a soja, o ideal é agregar valor. “Temos que agregar
valor, transformar a soja em carne, seja frango, porco, boi, usando-a
como ração. Outra opção é o biodiesel, que tem tido um aumento paulatino
e é um mercado interessante porque 90% é produzido com óleo de soja”.
O
relatório da OCDE e da FAO traz projeções até 2026 para os principais
produtos agrícolas. No período analisado, a produção mundial de grãos
crescerá cerca de 1% por ano, o que levará a um aumento total em 2026 de
11% para o trigo, 14% para o milho, 10% para os grãos secundários e 13%
para o arroz.
Em relação à pecuária, é previsto que a
participação dos dois maiores países exportadores de carne, que são
Brasil e Estados Unidos, aumente até aproximadamente 44%, contribuindo
com quase 70% no aumento previsto das exportações mundiais de carne
durante o período analisado.Já nos biocombustíveis, a
expectativa é de que a demanda brasileira de etanol expanda-se em 6
bilhões de litros no período analisado, o que resultaria em um aumento
na produção de mais de 40% nos próximos dez anos.
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