O volume de cargas transportadas pelo modal
ferroviário em direção do Porto de Santos vem aumentando. Só na última
década, o crescimento acumulado foi de 186,7%. Os dados são da Companhia
Docas do Estado de São Paulo (Codesp), estatal que administra o complexo portuário paulista.
Em 2016, no
cais santista, foram movimentadas cerca de 30 milhões de toneladas,
transportadas por aproximadamente 400 mil vagões. Atualmente, o sistema
ferroviário é responsável por 26,3% do volume total de mercadorias que
chegam ou saem do complexo marítimo santista.
Entre
as cargas movimentadas destaca-se o transporte de açúcar a granel, soja
e milho. Farelo de soja, celulose e contêineres também estão na lista. A
Autoridade Portuária acredita que, apenas no ano passado, 10 milhões de
toneladas de açúcar passaram pelos trens. Isso representa 34,9% de toda
a mercadoria transportada no Porto em 2016.
As
principais malhas que atendem o Porto são as da Rumo e a da MRS. A
primeira se estende pelos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul (nesses dois, chegando às zonas de produção agrícola), Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já a MRS sai de São Paulo e continua
por Minas Gerais e Rio de Janeiro, o que originou sua denominação,
sigla de Minas, Rio e São Paulo.
Na
MRS, o único produto que teve aumento de volume de movimentação na
última década foi o açúcar, passando de 2,4 milhões de toneladas para 4
milhões de toneladas. Soja e farelo da soja continuam a ser as cargas
mais transportadas nas ferrovias administradas pela empresa. No entanto,
esse volume caiu pela metade, passando de 11 ,5 milhões de toneladas
para 5,8 milhões de toneladas nos últimos dez anos.
Na
Rumo, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT), além do açúcar, que teve aumento de 1,4 milhão de toneladas para
4 milhões, combustíveis e derivados de petróleo e álcool tiveram uma
ligeira alta, indo de 1,2 milhão de toneladas para 1,5 milhão.
Um balanço
da última década feito pela ANTT mostra que o volume de cargas
transportadas por trens no País aumentou 29,5% desde 2006, saltando de
389,113 milhões de toneladas para 503,804 milhões de toneladas.
Os
dados são do Anuário do Setor Ferroviário, lançado na semana passada,
que traz informações do desempenho das 13 concessionárias do serviço
público de transporte ferroviário.
No
levantamento da ANTT, os dados das duas concessionárias que operam na
região, a Rumo e a MRS, não segmentam apenas o que vem para o complexo
portuário santista.
A
publicação não dá detalhamento regional e também não apresenta análises
técnicas do setor. “Nossa intenção é tratar os dados com certo nível de
segmentação por concessionária, mas sem fazer qualquer valor analítico.
Trabalhamos com a transparência e queremos que esse trabalho sirva para
que o setor, sejam empresas ou o meio acadêmico, possa utilizar as
informações para formular suas próprias análises”, afirma o gerente da
Gerência de Regulação e Outorgas Ferroviárias da ANTT, Marcelo
Amorerelli.
O anuário
mostra também, além de movimentações de toneladas e o tipo de
mercadoria, a velocidade média dos trens por ano e os acidentes
ocorridos nas ferrovias de cada concessionária. “Essa compilação serve
ainda para ajudar na elaboração de políticas públicas para se pensar no
crescimento do setor”, diz o representante da agência reguladora.
O transporte de cargas em direção ao Porto de Santos
através dos trilhos deve crescer ainda mais. A expectativa do diretor
de Operações Logísticas da Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp), Carlos Henrique Poço, é de que, em 2025, 40% das mercadorias
sejam transportadas pelo modal ferroviário.
Em 2010, as cargas em vagões entre o interior do
País e o Porto somavam 19 milhões de toneladas, 19,5% de tudo o que
passou pelo cais santista no ano. Já em 2016, o volume chegou a 29,8
milhões de toneladas, 26,3% das cargas.
Para sustentar o crescimento na movimentação pelas
ferrovias no Porto de Santos, a Codesp afirma que existe a necessidade
de solucionar gargalos de infraestrutura e, assim, garantir a fluidez na
circulação dos trens. Uma das soluções apontadas é a revitalização da
malha da Portofer.
“Em um quadro recessivo e de busca por eficiência, a
ferrovia oferece baixo custo, previsibilidade, segurança e baixo
impacto socioambiental para os setores industriais ligados à importação
ou exportação. A possibilidade de crescimento é imensa, dado que, neste
segmento, a participação da ferrovia ainda é muito baixa, relativamente a
outros produtos, como por exemplo, em torno de 60% para a soja, e cerca
de 2% para contêineres”, avalia o diretor de Relações Institucionais da
MRS Logística, Gustavo Bambini.
Ele afirma ainda que não pode detalhar projetos de
expansão, mas adianta que serão “nas frentes de desenvolvimento de
pátios e terminais, duplicações de trechos estratégicos para o fluxo de
trens e de expansão da capacidade em geral”.
Para o engenheiro e especialista em ferrovias José
Manoel Ferreira Gonçalves, para que o crescimento das ferrovias aconteça
de fato no País, uma série de medidas devem ser tomadas. “O Brasil é
rodoviarista e nunca levou a sério as suas ferrovias. Há necessidade de
bons projetos e não de obras para uma geração ou para uma eleição”,
afirma.
Gonçalves aponta que a falta de vontade política e
de perseverança são os entraves para que as ferrovias avancem como modal
de transporte. “O que precisamos é de um grande inventário de
ferrovias, que traga, além dos números, informações de como investir no
crescimento, de que forma, como trazer tecnologia de ponta”.
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