quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Publicações especializadas avaliam consequências da desglobalização para a navegação internacional

         As principais publicações internacionais  especializadas em logística vêm abordando  a inserção da tecnologia nos meios de produção e as tendências de retomada da regionalização com o fim ou redução da globalização da economia, pontuada pela aprovação do Brexit pelos britânicos. A questão levantada é sobre como os governos devem reagir ao retrocesso do mercado global, e qual será o seu impacto sobre a navegação.
         O Banco do Japão critica publicamente a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, alegando que o ato gerou a maior fonte de incertezas no mercado. Governos de todo o mundo vêm respondendo às suas tensões internas com centenas de barreiras de mercado, protecionismo e redução dos fluxos globais de capital, o que prejudicou o crescimento econômico.
        O diretor de Mercados Emergentes do Morgan Stanley, Ruchir Sharma, escreve, em artigo para a Fairplay: “é possível que o crescimento econômico tenha que enfrentar uma refreada enquanto os líderes políticos dos países estiverem ocupados em lidar com a frustração daqueles que acreditam que a globalização os deixou para trás”.
        A publicação conclama, num tom um tanto irônico: "bem-vindos à era da “desglobalização”, sugere a publicação. As consequências dela para a navegação é um pesadelo, vaticina a Fairplay. Em um momento no qual a superoferta de navios demanda expansão econômica para aumentar a procura pela capacidade oferecida, as perspectivas de submersão dos mercados vêm na direção exatamente oposta ao cenário em que o mercado depositava suas esperanças.
          Apesar das iniciativas para diminuição da capacidade, por meio de scrapping (desativação de embarcações) e da redução no número de novas encomendas, nenhum dos lados da equação oferta/procura trazem certezas para a lucratividade da atividade de navegação. As primeiras prejudicadas são as companhias endividadas, sejam de grande ou pequeno porte, e os estaleiros, tradicionalmente acostumados a usar pagamentos de novas encomendas para pagar dívidas de embarcações já em construção, e que demoraram para perceber a inviabilidade desse tipo de operação.
         “A expectativa dos analistas internacionais do mercado é de que o setor de granéis secos deva retornar aos níveis aceitáveis em 2018. Os tanqueiros sofrerão pressões por tarifas em 2017 (quando receberem novas embarcações) e os containers vão continuar passando por momentos difíceis – a menos que haja um corte bastante significativo de capacidade no próximo ano”, avalia a Fairplay.
         Essas previsões todas, entretanto, tiveram base na globalização, que é a base da produção como a conhecemos hoje. Se a “desglobalização” acontecer – e, com ela, mais barreiras, protecionismo e introspecção – todas as apostas dos especialistas serão inválidas.
        Seja lá qual for a reclamação do Banco do Japão, a questão vai além do Brexit: vivemos a possibilidade de que o mesmo aconteça, em curto prazo, com outras nações do mundo, algo que só será conhecido depois das eleições que virão pela frente na França, Alemanha e Holanda, e podem trazer perspectivas bastante desconfortáveis para o mercado.
         Segundo a Fairplay, para lidar com a desglobalização, os armadores deverão compreender que o shipping hoje em dia está menos ligado aos navios em si, e mais às pessoas. Pessoas com talentos, experiências e percepções, “insights”; pessoas que compreendam a atividade de intercâmbio de mercadorias e de mercados financeiros; que consigam interligar dados analíticos, comunicações via satélite, centrais de controle e tecnologia de última geração; pessoas para as quais o navio seja uma parte crucial, porém integrante do negócio de logística porta-a-porta. A desglobalização vai causar uma revolução na indústria da navegação, sim – ensina a publicação.
        A matéria sugere que o contexto hoje vai expor ineficiências e más práticas onde houver. Grandes empresas, atuais e eficientes, e que consideram seus navios como patrimônio já podem ir se animando: o futuro virtual já ganhou o mundo real, previu a Fairplay.

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