Uma conversa por telefone na qual o presidente
Michel Temer dialoga com o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR), interceptada pela Polícia Federal, pode gerar um novo pedido
de inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) e levanta suspeita sobre o
novo Decreto dos Portos. A informação foi revelada pelo jornal Folha de
S.Paulo e confirmada pela reportagem.
No
último dia 4, Temer recebeu ligação de Loures, que estava grampeado. O
deputado buscava saber sobre a assinatura do novo Decreto dos Portos e a
conversa durou pouco mais de 2 minutos. O presidente da República
informou o parlamentar que iria assinar o decreto na outra semana.
Depois
de falar com Temer, Loures passou informações também por telefone a
Ricardo Conrado Mesquita, membro do Conselho Deliberativo da Associação
Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP) e diretor da empresa
Rodrimar, que opera no Porto de Santos.
No
dia 10 deste mês, Temer assinou o decreto para facilitar investimentos
privados nos portos. Na conversa ao telefone, o presidente indica o que é
uma das principais mudanças previstas no decreto: o aumento para 35
anos de prazos dos contratos de arrendatários, prorrogáveis por até 70
anos.
Na ligação gravada,
após Loures comentar que teve informação de que já teria sido assinado o
decreto, Temer disse: “Não. Vai ser assinado na quarta-feira à tarde.
Vai ser numa solenidade até, viu?”. Em outro trecho da conversa, o
presidente diz que “aquela coisa dos 70 anos lá para todo mundo parece
que está acertando aquilo lá”.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) deve pedir a abertura de
inquérito para investigar Loures por suspeita de tráfico de influência.
Os investigadores ainda avaliam o caso para definir se o presidente deve
ou não ser incluído no pedido de investigação.
Em
delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-diretor
de Relações Institucionais da J&F (dona da JBS, de Joesley
Batista), Ricardo Saud, também citou o deputado Rodrigo Loures e o
executivo Ricardo Mesquita. Segundo Saud, o parlamentar cogitou utilizar
Mesquita como intermediário da propina a ser paga pela JBS.
Ainda na delação, Saud disse que o presidente da Rodrimar, Antônio Celso Grecco, é “amigo” do presidente Michel Temer. Em
nota, o Planalto afirma que “houve amplo debate com o setor antes da
publicação do decreto de renovação das concessões de portos. Todos os
dados são públicos”. E ainda relata que as conversas não continham
nenhum objeto protegido por sigilo tampouco informações privilegiadas.
“Na
conversa entre o presidente Michel Temer e o deputado Rodrigo Rocha
Loures, somente se revela o dia em que estava programado evento público
para assinatura do ato. Sequer o conteúdo foi repassado como informação.
Nas conversas subsequentes, o deputado dialoga com empresários e fala
da preparação da divulgação, inclusive para a imprensa.
O
assunto não comportava nenhum sigilo ou informação privilegiada, apenas
a publicação do decreto que finaliza o longo processo de negociação
entre o Governo e o setor empresarial, como é comum e legítimo em uma
democracia”, consta na nota do Planalto.
O
Grupo Rodrimar informou que a conversa entre seu diretor Ricardo
Mesquita e o deputado Rodrigo Loures ocorreu pois Mesquita, como
conselheiro da ABTP, integrava o grupo de representantes empresariais
que elaborou uma lista de demandas do setor, pedida pelo Governo e que
serviu como base para o novo Decreto dos Portos. E as reuniões desse
grupo eram acompanhadas por parlamentares, entre eles, Loures.
Ao
preparar o decreto, o Ministério dos Transportes havia pedido uma
relação das demandas prioritárias das empresas do setor, medidas
julgadas essenciais para atrair investimentos. Essa lista foi elaborada
por representantes de entidades empresariais portuárias e entregue ao
Governo.
A Rodrimar ainda
relatou que não foi atendida “totalmente” pelo decreto, mas
“parcialmente”, uma vez que as novas regras não garantem a renovação dos
contratos de arrendamento firmados antes de 1993 – o contrato do
terminal de contêineres do grupo, no Cais do Saboó, foi assinado antes
desse ano.
O Grupo ainda
negou que seu diretor tenha recebido qualquer pedido para intermediar
dinheiro de propina, justificando que o nome de Mesquita foi usado por
Loures sem o conhecimento do executivo. A empresa também negou qualquer
relação de amizade do empresário Antônio Celso Grecco com o presidente
Temer.
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