Após a aprovação da Medida Provisória (MP) 756/16,
que alterou os limites da Floresta Nacional (Flona) do Jamaxin, o
plenário da Câmara dos Deputados aprovou no final da noite desta terça-feira (16)
mais uma alteração na área de proteção ambiental com a votação da MP
758/16. Desta vez, a alteração servirá para dar passagem à Estrada de
Ferro (EF)170, também chamada de Ferrogrão, em fase de construção e
próxima à BR-163, no Pará.
O texto-base da MP 758/16 foi aprovado
depois das 23h e a votação dos destaques entrou na madrugada desta
quarta-feira (17) em razão da obstrução dos partido de oposição,
contrários a inclusão na medida de destaques alterando ainda mais as
áreas de proteção. O projeto segue agora para votação no Senado.
Pelo
texto-base do projeto serão excluídos 862 hectares (um hectare tem uma
área equivalente à de um campo de futebol) do Parque Nacional de
Jamanxin, localizado nos municípios de Itaituba e Trairão, e da Área de
Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, localizada nos municípios de
Itaituba, Jacareacanga, Novo Progresso e Trairão, para a passagem da
ferrovia.
A intenção do governo é compor, com a EF-170, um
corredor de exportação de grãos unindo Sinop, em Mato Grosso, a
Miritituba, no Pará, para possibilitar o uso de portos da Bacia
Amazônica e servir de alternativa ao transporte na BR-163.
De
acordo com o texto, após a construção da ferrovia, as áreas excluídas
pela MP e que não forem efetivamente utilizadas serão reintegradas ao
Parque Nacional do Jamanxim. O projeto aprovado prevê, ainda, que os
imóveis rurais privados existentes no parque ficam declarados de
utilidade pública para fins de desapropriação.
Mais cedo, os
deputados haviam aprovado a redução dos limites do Parque Nacional do
Rio Novo e da Flona do Jamanxim, ambos no Pará. Os partidos da base
aliada ao governo precisaram de três sessões extraordinárias
consecutivas para vencer a obstrução da oposição.
Os deputados
aprovaram um texto substitutivo de deputado José Priante (PMDB-PA) que
diminuiu a área de proteção da flona dos atuais 1,3 milhão de hectares
para 561 mil hectares, menos da metade de sua área original.
Ambientalistas e deputados da oposição dizem que a medida vai ajudar no
desmatamento da região.
Entre as principais diferenças de uma
flona para uma APA, a floresta nacional permite apenas a presença de
populações tradicionais, sendo que as áreas particulares incluídas no
seu limite devem ser desapropriadas. A APA admite maior grau de ocupação
humana e a existência de área privada, nos termos da Lei 9.985.
As
alterações vão permitir a ampliação de determinadas atividades
econômicas como o garimpo, a agricultura e agropecuária, uma vez que as
APA's, apesar de também serem unidades de conservação, têm critérios de
uso mais flexíveis.
Durante
a votação dos destaques, os deputado aprovaram uma emenda do senador
Flexa Ribeiro (PSDB-PA) que exclui o acréscimo de 51.135 hectares do
Parque do Jamanxim oriundos da Área de Proteção Ambiental (APA) do
Tapajós.
Os deputados também aprovaram o destaque do PP à Medida
Provisória 758/16 e reintroduziu na medida dispositivo que cria a Área
de Proteção Ambiental (APA) do Rio Branco, com 101.270 hectares
retirados do Parque Nacional do Jamanxim. A medida havia sido incluída
no relatório do deputado José Reinaldo (PSDB-MA). A medida foi criticada
pela oposição.
Em seguida, foi votado um destaque do PPS,
partido da base aliada, reinserindo a previsão da criação da Área de
Proteção Ambiental Trairão, em município de mesmo nome no Pará, com
169.135 hectares retirados da Floresta Nacional Itaituba II e do Parque
Nacional do Jamanxim. Deputados da oposição criticaram a medida com o
argumento e que a proposta iria invadir os limites da terra indígena dos
mundurukus.
“O que se está fazendo é um crime de lesa-pátria,
essa medida vai invadir pelo menos 65 mil hectares das terras indígenas
dos mundurukus e isso vai acabar gerando um conflito desnecessário com
os índios. Não é possível que o governo não perceba isso”, disse o
deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), que propôs a retirada do
destaque.
Diante dos apelos de diversos deputados, o líder do
governo na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), cedeu e orientou para que a
base votasse contra o destaque. De acordo com Ribeiro, o governo vai
enviar um novo projeto tratando da criação da APA. “ O governo vai
mandar um projeto de lei em regime de urgência com a as devidas
coordenadas sobre essa questão. Então, o governo vai encaminhar [para
votar] não", disse.
Após a
votação, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) encerrou a sessão.
Antes, Maia anunciou que em razão da votação do relatório final da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai e Incra 2, não haverá
sessão no plenário na manhã desta quarta-feira.
O relatório da
CPI tem causado polêmica. O texto pede o indiciamento de cerca de 90
pessoas por supostos crimes praticados em processos de demarcação de
terras indígenas, de quilombolas e até em assentamentos rurais
destinados à reforma agrária.
Elaborado pelo deputado Nilson
Leitão (PSDB-MT), integrante da bancada ruralista, o relatório também
acusa servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de antropólogos e
dirigentes de organizações não governamentais (ONGs) de fraudarem
processos de demarcação no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul e na Bahia. A oposição diz que Leitão fez um
relatório parcial para atender aos interesses da bancada ruralista. A
oposição entregou um relatório paralelo com críticas ao texto do
relator.
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